segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Empresa esterilizava material hospitalar de forma irregular no RJ

O Fantástico acompanhou uma operação da Delegacia do Consumidor.
O alvo? Uma empresa de esterilização no subúrbio do Rio de Janeiro


Uma operação policial no Rio de Janeiro revela que uma empresa contratada para esterilizar materiais de 20 hospitais públicos fazia o serviço de forma irregular, colocando em risco a saúde da população.
O Fantástico acompanha uma operação da Delegacia do Consumidor.
O alvo? Uma empresa de esterilização no subúrbio do Rio de Janeiro.
Policial: Onde é que lava o material?
 
 
08:11
A polícia fez uma operação na empresa Form Steril, que esteriliza material hospitalar. Mas ela não tem autorização da Vigilância Sanitária para funcionar no Rio de Janeiro. Um dos sócios da firma foi preso.
Materiais de hospitais públicos do RJ eram esterilizados em empresa...

Diante das máquinas ligadas, funcionários nervosos.
Policial: Me explica, aqui lava o material que chega do hospital?
Funcionária: Lava ali no outro setor e aqui a gente seca.
Policial: Esteriliza e vai para o outro lado?
Nenhum tipo de material hospitalar poderia estar no local. A empresa Form Steril não tem autorização da Vigilância Sanitária para funcionar no Rio de Janeiro.
Fantástico: Foi feita a vistoria, a fiscalização?
“Foi feita a interdição”, afirma Carmem Zahluth, da Vigilância Sanitária.
Técnicos da Vigilância Sanitária Municipal e Estadual acompanharam o trabalho da polícia. Encontraram caixas e mais caixas com tubos para respiradores artificiais, nebulizadores, bisturis elétricos e até uma furadeira usada em cirurgias. Nas etiquetas, nomes de hospitais, maternidades, UTIs neonatais, grandes emergências.
“Nós vimos uma quantidade de produtos que a gente achou, caracterizou que estava havendo algum tipo de serviço prestado”, diz Carmem Zahluth.
Fantástico: E não pode? Não tem condições ainda?
“Não, eles não têm licença ainda”, completa Carmem Zahluth.

No fim de 2012, a Form Steril venceu uma licitação da prefeitura do Rio para esterilizar materiais de 20 hospitais públicos. Oito deles são de grande porte, como os hospitais Miguel Couto e Souza Aguiar, que tem uma das maiores emergências do país.
Pelo serviço, que só poderia ser feito em Piracicaba, São Paulo, a Form Steril receberia 3,9 milhões por mês. Em dois anos, mais de R$ 90 milhões. A Form Steril assumiu imediatamente as esterilizações em caráter emergencial porque o contrato com a empresa que fazia esse trabalho terminou no ano passado.

Fantástico: O que vai acontecer com o dono?
“Bom, ele vai ser conduzido agora para delegacia. Ele vai ser preso
pelo crime do Artigo 278”, afirma o delegado Paulo Roberto Freitas.

A caminho da delegacia, Pedro Azambuja Machado, um dos sócios da Form Steril, procurou se explicar.
Pedro Azambuja: É tudo material de testes, treinamento.
Fantástico: Mas teste com material dos hospitais mesmo?
Pedro Azambuja: Não, material para teste. Nós não estamos fazendo o processo aqui.

Os responsáveis pela empresa dizem que tudo é esterilizado há mais de 500 quilômetros do Rio, na cidade de Piracicaba, no interior de São Paulo. A sede existe, mas não há movimentação de funcionários e nem de veículos que deveriam levar o que estivesse pronto para uso nos hospitais.
Fantástico: Não tem ninguém aqui?
Funcionária: Não, não tem ninguém no momento.
Fantástico: Vocês não estão esterilizando nada?
Funcionária: Não.
Fantástico: Nenhum material vem do Rio para cá? Nunca veio?
Funcionária: Nunca veio. Eu fico aqui só pra receber telefonema, correio, carta, essas coisas.
As imagens registradas na filial da Form Steril no Rio de Janeiro foram analisadas por um médico da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Conselho Regional de Medicina. E também pelo diretor de Controle e Monitoramento da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, em Brasília.
“O que difere o teste de um trabalho rotineiro, é que o teste ele também tem que seguir protocolos, têm que ser registrados, têm que ser mostrados durante a inspeção da Vigilância Sanitária. Com certeza quando ele chegou, eles estavam fazendo o processamento”, afirma José Agenor Alvarez da Silva, diretor de Controle e Monitoramento da Anvisa.

“Essas caixas nunca poderiam estar apoiadas no chão”, destaca Alberto Chebabo, médico da Comissão de Controle Hospitalar do CRM.
As etiquetas indicam que o material já foi processado.
“Esses materiais eles ainda vão ser esterilizados, então essas etiquetas que ela já foi reprocessada, elas estão inadequadas”, completa Alberto Chebado.
“Não existe esterilização meia boca. Ou a esterilização é completa e garante a qualidade e garante que não haverá risco para o paciente, nenhum tipo de risco para o paciente, ou então ela não pode simplesmente oferecer esse produto”, afirma José Agenor Alvarez da Silva.
“Em uma UTI neonatal, por exemplo uma pneumonia ela pode ser catastrófica para aquela criancinha. Qualquer quantidade de bactéria ali pode causar infecções graves e a mortalidade nesse grupo por exemplo é muito maior”, explica Alberto Chebabo.
Apesar das evidências, o advogado da Form Steril insiste: a esterilização dos materiais sempre foi feita em Piracicaba. A filial no Rio, segundo ele, servia apenas para receber e encaminhar o material dos hospitais para a unidade em São Paulo.
“Uma parada pequena e rápida para reunião desses materiais e remessa”, diz o advogado Jose Eduardo Junqueira Ferraz.
Fantástico: A empresa em Piracicaba chegou a apresentar algum problema?
“Não, inclusive essa empresa ela trabalha de forma contínua e ininterrupta no mercado há 10 anos”, completa.

Em nota, a empresa informou desconhecer a declaração da funcionária e apresentou notas fiscais e folhas de pagamento que comprovariam o funcionamento.
Quatro dias depois da interdição, O Fantástico voltou à Form Steril do Rio e acompanhou uma van que saiu da empresa para saber se ela ainda continuava prestando serviço a hospitais.
Em duas horas, foram feitas entregas em três hospitais, um deles,
especializado em cirurgia infantil.
Fantástico: A empresa não estava interditada?
“A interdição, ela pressupõe a não repeticão do ato até então implementado.
É diferente de nós termos materiais já processados, que na verdade teriam que ser, e assim foram, encaminhado ao seu destino final”, diz o advogado da empresa.
“Isso é proibido é ilegal e as medidas decorrentes desse ato vão ser adotadas”, declara o delegado Paulo Roberto Freitas.
O secretário municipal de Saúde do Rio Hans Dohmann disse que na sexta-feira mandou técnicos a Piracicaba, que confirmaram: a empresa não está funcionando.
“Determinei o cancelamento da prestação do serviço dessa empresa à Prefeitura e estamos lançando um novo emergencial já na segunda-feira para poder substituir o serviço prestado por essa empresa”, explica Hans Dohmann.
Fantástico: O que vai ser feito, então, para que os hospitais não entrem em colapso, para que cirurgias não sejam canceladas, para que o atendimento de emergência não seja prejudicado?
“Nós autorizamos a compra de material descartável, daquilo que é possível, estamos ‘resterilizando’ uma parte desse material nas nossas próprias unidades e já na segunda-feira um novo emergencial será publicado em Diário Oficial, esperamos já na semana que vem estar com essa situação regularizada”, afirma Hans Dohmann.
“É uma questão de dupla responsabilidade. É responsabilidade de quem contrata, de ter a garantia de uma empresa idônea, para fazer esse trabalho. E é de uma responsabilidade maior da empresa contratada, porque ela se apresenta para fazer um trabalho que ela não tem condição de fazer esse trabalho”, completa José Agenor Alvarez da Silva.

Fonte: Fantástico

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