quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Fumaça de Santa Catarina deve alcançar Rio, Paraná e São Paulo

  • Especialistas contestam alegação do governo do estado de que produto não é tóxico. Há registro de pessoas hospitalizadas


  • Segundo Corpo de Bombeiros, fogo começou no fim da noite de terça-feira



  • Incêndio começou após explosão de carga Salmo Duarte / Agência RBS
    SÃO PAULO - Bombeiros de São Francisco do Sul, Norte de Santa Catarina, tentam combater, desde o fim da noite desta terça-feira, um incêndio de grandes proporções em um terminal marítimo na BR-280, perto do porto da cidade, depois que uma carga de fertilizantes explodiu. O contêiner, segundo o Centro de Informações Toxicológicas (CIT) da Secretaria de Saúde de Santa Catarina, continha nitrato de amônia, difosfato de amônia e cloreto de potássio, o que provoca uma grande fumaça que se espalha pela cidade e já tem risco que chegar ao litoral de São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná.

    No início da tarde, o governo do estado divulgou uma nota para informar que a fumaça que se espalhou por uma grande área da cidade não é tóxica. Segundo o Corpo de Bombeiros, de manhã 150 pessoas foram atendidas no Hospital Nossa Senhora da Graça. Há 150 famílias desabrigadas e moradores de seis bairros estão deixando a cidade. No twitter do governo do estado foi divulgado que o governador Raimundo Colombo se reúne com o prefeito da cidade “para avaliar a situação”.

    Mas especialistas ouvidos pelo GLOBO contestaram a informação do governo estadual e disseram que as substâncias nitrato de amônia, difosfato de amônia e cloreto de potássio, que geraram o incidente, são tóxicas e podem atingir a população em um raio de até 15 quilômetros quadrados. Irritação na pele, na garganta, no sistema respiratório e nos olhos são os sintomas mais comuns entre as pessoas atingidas pela fumaça proveniente do incêndio da carga de fertilizante em São Francisco do Sul.

    Toxicologista e integrante da diretoria da Associação Brasileira de Biossegurança, Ednilza Dias recomenda que a área afetada pela fumaça seja isolada por até dois dias após o desaparecimento da fumaça.

    — Crianças e idosos estão mais sujeitos a irritações oculares, nos brônquios e nas narinas. Se estes sintomas persistirem, inclusive com tosse com secreção, o paciente deve procurar ajuda médica.

    Para o professor Nito Debacher, do Departamento de Química da Universidade Federal de Santa Catarina, a liberação do nitrato de amônia é "extramamente arriscada".

    — Se a exposição à substância for prolongada, gera consequências severas, como queimaduras graves - alerta. - Mas acredito que, como a fumaça estava muito densa, talvez ela não vá muito longe.

    A Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) ofereceu máscaras e informações sobre as substâncias para a Defesa Civil de Santa Catarina. Os porta-vozes da associação não se pronunciaram ontem.

    Segundo o Corpo de Bombeiros, não há mortos, mas já há registro de pessoas intoxicadas no hospital da cidade, e os casos mais graves estão sendo levados para Joinville. Segundo o coordenador regional da Defesa Civil, Antônio Edival Pereira, a fumaça causa irritação na garganta, náuseas e, em casos mais graves, insuficiência respiratória. A orientação é para os moradores procurarem locais arejados. As pessoas haviam sido retiradas de suas casas foram levadas para o Colégio Estadual Santa Catarina. No entanto, como o colégio também estava sendo atingido pela fumaça, os desabrigados foram novamente transferidos para um outro abrigo.

    O comandante do Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina, Coronel Marcos Oliveira, estima que os trabalhos para normalizar a situação no depósito de fertilizantes em São Francisco do Sul podem durar mais de um dia.

    — Temos que conter a fumaça e chegar até o centro da reação química para neutralizá-la. Vamos manter um grupo de 200 homens trabalhando 24 horas por dia em esquema de plantão até resolver o problema. Não temos um prazo específico, mas estimo que sejam várias horas, mais de um dia — disse ele.

    Todos os moradores de um raio de dois quilômetros foram retirados do local e levados para um abrigo na Escola Estadual Urbana Professora Claurinice Vieira Caldeira Forte.

    — O padrão é evacuarmos uma área de 800 metros, mas por prevenção, isolamos um raio de dois quilômetros — explicou o comandante Marcos Oliveira.

    Há 380 pessoas fora de suas casas em São Francisco do Sul. Os bombeiros orientam que essas pessoas não retornem as suas casas para evitar que inalem a fumaça. A equipe da força-tarefa é treinada e usa equipamentos de segurança adequados. Já a população não tem essa segurança e, por isso, não deve se aproximar do local. A Polícia Militar e o Exército estão garantindo a segurança da população e do patrimônio. Serão feitas rondas por toda a cidade, durante 24 horas.

    — As pessoas podem ficar tranquilas. Vamos garantir a segurança do patrimônio e da população — explicou o prefeito Luiz Roberto de Oliveira.

    A Defesa Civil do Estado está enviando 300 kits de colchão, cobertores e travesseiros para a escola de São Francisco que abriga a população fora de casa. Por enquanto, não são necessárias doações. A Defesa Civil tem todo o material necessário e não teria como gerenciar, agora, mais doações.

    Na edificação atingida pelas chamas, estavam armazenadas cerca de 10 toneladas de fertilizantes. A nota do governo diz que “a substância nitrato de amônia é oxidante e não tóxica, conforme o Código Internacional de Produtos Perigosos da ONU”.

    Ainda segundo a Defesa Civil, a queima ocorre como uma espécie de reação química que gera fumaça, sem chamas. O combate com o emprego de água, além de ineficaz, acaba por gerar mais fumaça.

    Por conta do vento, a fumaça já estaria chegando em cidades próximas, como Garuva e Itapoá. O secretário estadual de Defesa Civil, Milton Hobus, informou que cerca de 150 famílias foram retiradas de suas casas e deslocadas para a Escola Estadual Urbana Profª Claurinice Vieira Caldeira Forte, em São Francisco do Sul. Entre os desabrigados, estão 40 idosos que moram em um lar próximo ao local da explosão.

    A Polícia Rodoviária Federal montou uma barreira no trevo de Balneário Barra do Sul, em direção a São Francisco do Sul, para orientar as pessoas a não seguirem em direção ao município. No sentido Joinville, o tráfego foi intenso durante toda a manhã por que moradores estavam deixando a cidade.

    Rio e São Paulo

    Segundo a meteorologista Josélia Pegorim, do Climatempo, um ciclone extratropical provoca fortes rajadas de vento em áreas do Sul e do Sudeste nesta quarta-feira. Os ventos fortes devem continuar nesta quinta-feira. Por esta razão, a fumaça em Santa Catarina pode chegar às praias do Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro, se não for controlada pelos bombeiros ainda nesta quarta-feira. A maior influência do ciclone, explica Josélia, é nas regiões próximas ao mar e sobre o oceano.

    - Essa fumaça tende a ser transportada por causa das direções do vento que predominam nesta quarta-feira e devem predominar nesta quinta-feira. Elas favorecem o deslocamento da fumaça em direção ao Rio e a São Paulo - diz Josélia.

    Morador da cidade, Alcir Passos informou, por telefone, que as pessoas estão com muito medo por causa da nuvem tóxica. Por causa disso, a maioria do comércio está fechado.

    Desde a madrugada, voluntários e Bombeiros Militares de São Francisco do Sul, Joinville, Barra do Sul, Araquari, Barra Velha e Itajaí trabalham para evitar explosões. Pelo menos 70 bombeiros, seis caminhões-tanque e uma autoplataforma estão sendo empregadas na operação. Todos os envolvidos no controle do incêndio estão usando equipamento especial para não serem intoxicados.

    Efeitos da fumaça

    A supervisora do CIT, Marlene Zannin, explica que a população deve permanecer calma e atenta aos sintomas. Segundo ela, a dispersão dessas substâncias (nitrato de amônia, difosfato de amônia e cloreto de potássio) provoca alguns efeitos agudos, como tosse, pele avermelhada, olhos lacrimejantes e doloridos, além de congestionamento das vias orais.

    Fonte: O Globo

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