quarta-feira, 25 de abril de 2012

O dia em que eu vi o Messi enterrar o Barcelona

Embora tenha acertado a trave uma vez, o atacante comportou-se como um Diego Souza em seus dias medianos

BARCELONA - Tirei uma foto do ingresso, coloquei no Facebook, liguei para minha mãe, tomei banho e vesti a única roupa que ainda não estava amarrotada dentro da minha caótica mala de turista. Sim, eu iria assistir uma semifinal da Champions League, um jogão entre Barcelona e Chelsea. Mais do que isso, eu iria ver Messi, o melhor jogador do mundo.


Messi lamenta o pênalti perdido - Albert Gea/Reuters
Albert Gea/Reuters
Messi lamenta o pênalti perdido



Diferente do que eu imaginava. Não precisei apelar para cambistas ou acampar na porta do Camp Nou. Comprei meu ingresso na bilheteria do estádio, poucas horas antes da partida. Aliás, o ingresso mais barato (o que eu comprei, claro), custava 87 euros! Uma facada! Mas que doeria menos, pensei, com uma apresentação de gala do Barça e do argentino.

Fila 21, cadeira 9, último andar do estádio – e exatamente de frente para a linha do meio-campo. Sentei entre um torcedor angustiado do Barça e três ingleses tiradores de sarro. Do alto, Puyol era onipresente (por motivos capilares). Messi não foi fácil de identificar. Mas ficou “sussa” quando percebi que, lá de cima, ele era o mais parecido com um Playmobil.

O clima no estádio é aquilo mesmo que você imagina quando está assistindo ao jogo pela televisão. O engraçado é que a torcida espanhola canta uma música que lembra muito aquela que o Raul Gil cantava (ou canta) para chamar o intervalo comercial (Olerê, Olará, espere um pouquinho, vamos faturar...).

Mas vamos ao jogo. Quero ver o Messi! Os olhos correm para acompanhar o toque de bola rápido do Barça. E bola pra cá, bola pra lá e quando ela para no pé do argentino... Nada acontece. Quer dizer, um ou dois lances no primeiro tempo, mas nada daquilo que eu via na tevê. Pode não ser a melhor comparação, mas no primeiro tempo, Messi me lembrou o Ronaldinho Gaúcho do Flamengo. Ainda assim, o Barça abriu 2 a 0 e parecia que ia fazer do Chelsea um Santos da vida. Qual o quê? Ramires, ele mesmo, meteu um golaço de cobertura já nos acréscimos do primeiro tempo. E o jogo engrossou.

No intervalo, o comentário mais comum era de que Lionel Messi iria deixar o dele, que no primeiro tempo havia lhe faltado oportunidades, mas que já já uma bola daquelas iria sair dos seus pés. Eu acreditei. Queria um golaço do Messi para contar para os meus filhos imaginários – ou pelo menos para os meus amigos do Facebook.

E veio o segundo tempo. Como aconteceu no primeiro, só o Barça jogou. O Chelsea fazia aquela linha meio Tite, meio Felipão. Mas futebol que é bom, necas.

Eis que o pênalti aconteceu (MESMO). Tudo bem. Pode ser que eu não veja um golaço do Messi, mas ele vai deixar o dele e... Na trave. NA TRAVE!

Poxa, ainda assim eu poderia contar para os meus filhos imaginários e meus amigos de Facebook que eu havia assistido a um jogo em que o grande Messi havia perdido um pênalti.

Pois é. Mas, como diz o pessoal do esporte, ele sentiu. A partir dali, apequenou-se, sumiu, errou passes e – embora tenha acertado a trave uma vez, comportou-se como um Diego Souza em seus dias medianos. Já no finalzinho do segundo tempo, antes do gol de empate, me peguei pensando: “Mas que coxinha esse Messi”.

Quando o empate veio e a casa caiu, a torcida comportou-se com surpreendente calma – principalmente em relação ao seu maior ídolo. A partida pífia do argentino foi, sim, comentada nas arquibancadas, mas eram comentários a boca pequena, respeitosos. O cara tem crédito.

Eu não tive a oportunidade de ver “aquela” partida do argentino, mas acho que, de alguma forma, um jogo como o desta terça também é marcante. Ele, o Messi, deve tirar alguma lição disso, o torcedor do Barça também... E para mim... Bom, para mim fica a má fama. Mal liguei o computador no quarto do hotel e a maioria dos comentários no Facebook me acusava de ser pé frio! Quer dizer, o Messi joga mal é a culpa é minha. Tudo bem: a culpa é sempre do turista.
Fonte: Gilberto Amendola - Jornal da Tarde

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