terça-feira, 26 de novembro de 2013

Por que plantar florestas para compensar as emissões poluentes

Área de floresta recuperada no interior de São Paulo (Foto: Flavio Marchesin/Divulgação)
 
A ONG Iniciativa Verde completa esta semana 8 anos de recuperação da Mata Atlântica brasileira. A organização foi uma das pioneiras ao usar dinheiro de compensação das emissões de gás carbônico para plantar floresta. Isso funciona porque as árvores, quando crescem, retiram o gás carbônico do ar e o transformam em massa vegetal, como caule, folhas e raízes.
A foto acima mostra um trecho de mata recuperada pela Iniciativa Verde. Ela acompanha o Ribeirão Feijão, rio que fornece a maior parte da água consumida em São Carlos. Dos lados, há as plantações e tanques de piscicultura. Trata-se da mata ciliar, aquela que protege as margens do rio de erosão e mantém a boa qualidade da água.
Desde 2006, a ONG executou 45 projetos em 25 municípios em oito Estados. A maioria está localizada no interior de São Paulo. Neste período, graças a esses programas foram plantadas 780 mil árvores. Até o fim do ano vão bater a marca de 800 mil árvores. Um dos primeiros projetos da ONG foi a compensação da Edição Verde de Época de 2006. Plantamos 1.338 árvores.
Para falar mais sobre o sucesso da Iniciativa, Roberto Resende, presidente da entidade, conversou com ÉPOCA. Por estimativas feitas por ele, se cada brasileiro fosse zerar suas emissões plantando árvores, daria para compensar desmatamento irregular no país em menos de 5 anos.
ÉPOCA: Como você explica para uma pessoa totalmente leiga no assunto como funciona esse negócio de plantar árvores para compensar as emissões?
Roberto Resende: As atividades humanas produzem os chamados gases de efeito estufa (como o gás carbônico e o metano). O aumento deles na atmosfera tem provocado algumas mudanças climáticas. Além da redução das emissões dos gases outra medida possível é a sua fixação (ou sequestro). Para tanto uma das formas é pelo plantio de árvores, uma vez que o crescimento destas garante a fixação do carbono na biomassa (troncos, folhas e raízes).
ÉPOCA: Qual é a vantagem de plantar na Mata Atlântica? Eu não poderia plantar uma árvore na porta de casa ou no meu jardim?
Resende:  As árvores são sempre importantes para o meio ambiente em geral e para as pessoas. Nas cidades a arborização deve ser feita com cuidados específicos, incluindo a escolha das espécies, os locais e todo o cuidado atrelado a elas como as podas para que as árvores não sejam prejudicadas nem causem incômodos ou riscos. Preferimos fazer a recomposição de matas em áreas rurais, considerando os benefícios múltiplos da floresta, que vão além de amenizar as mudanças climáticas. Esses benefícios incluem a biodiversidade, a paisagem, a proteção da qualidade regularização do fluxo das águas.
ÉPOCA: Como a gente tem certeza que as árvores plantadas vão crescer mesmo?
Resende: O nosso protocolo considera algumas garantias. Os projetos são feitos em áreas protegidas legalmente, especialmente, a mata ciliar em áreas de preservação pemanente (APPs) e em Unidades de Conservação (UCs) como Parques e Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs). Sempre deve ser obtida a adesão dos proprietários, que concordam com a implantação dos projetos e a sua manutenção posterior. São feitos projetos técnicos, que após um diagnóstico dos locais preveem as técnicas e os insumos mais adequados. Também é feito o monitoramento da implantação e da manutenção dos projetos.
ÉPOCA:  Se todo mundo for plantar árvore para compensar as emissões, quantas árvores precisaríamos plantar por ano?
Resende: Vamos por partes. Para fins de exercício podemos estimar a emissão de gases média de cada brasileiro segundo dados do Ministério de Ciência e Tecnologia. Dá 6,4 toneladas de gases equivalentes ao carbônico considerando os dados de 2010. Esse valor não é muito preciso, pois além de variar ano a ano, em especial devido ao desmatamento na Amazônia e no cerrado. É preciso ressaltar que os cálculos a seguir são um exercício, já que as emissões se referem ao conjunto da economia brasileira. Isso inclui setores como energia, processos industriais, tratamento de resíduos, agropecuária, mudança de uso da terra e florestas. Não é um valor direto de emissões pelo consumo das famílias. Se seguirmos com o exercício, cada brasileiro deveria plantar 41 árvores por ano. Seria o equivalente a 4,8 milhões de hectares por ano.
ÉPOCA: Haveria terra disponível para isso?
Resende: Pelo novo Código Florestal, os proprietários rurais precisam recuperar áreas de preservação permanente e suas reservas legais (uma parte do terreno reservada a conservação da floresta). Segundo um estudo feito pela Secretaria de Assuntos Estratégicos do Governo Federal, se todos os proprietários regularizarem tudo que foi desmatado além do legal, seria preciso replantar 21,5 milhões de hectares. Se plantássemos 41 árvores por habitante a cada ano zeraríamos o déficit de floresta do Código em 4,5 anos.
ÉPOCA: Essas áreas onde são feitos os plantios estão abertas para visitação pública?
Resende: Em geral não, pois geralmente estão em áreas rurais privadas. Mas sempre é feito e publicado o monitoramento por relatórios, mapas feitos sobre imagens de satélite, disponíveis na internet.
ÉPOCA: Quais são os próximos desafios desse projeto?
Resende: Aumentar o interesse das pessoas e empresas e fazerem seus inventários de emissões e partirem para a compensação plantando florestas. E ganhar mais adesão dos agricultores para oferecerem áreas para implantar os projetos.

Fonte: Época

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