domingo, 21 de outubro de 2012

No Grande Rio, saneamento e pavimentação que nunca chegam

Administrações de cidades da Baixada e da Região Metropolitana do Rio não solucionam necessidades básicas


Maria do Carmo em frente a sua casa em Figueira: o esgoto corre ao lado da aposentada, que reclama da falta de saneamento
Foto: O Globo / Fábio Rossi
Maria do Carmo em frente a sua casa em Figueira: o esgoto corre ao lado da aposentada, que reclama da falta de saneamentoO Globo / Fábio Rossi
RIO - Num fim de tarde, a aposentada Maria do Carmo Souza de Oliveira, de 68 anos, moradora em Figueira, Nova Iguaçu, enfrenta o calor da Baixada Fluminense sentada com roupas molhadas numa cadeira colocada na rua. Ela, que só consegue andar amparada em muletas, diz que não consegue ficar dentro de casa, onde a temperatura parece mais alta. Há 18 anos no bairro, Maria do Carmo afirma que pouco mudou no lugar.

Ruas sem calçamento, poeira em dias de sol e muita lama no período de chuva. Nos dias de temporal, o esgoto que segue por uma vala transborda e invade o quintal. “Entra governo e sai governo, nada muda, nem as promessas”, reclama, enquanto passa um carro de som de político. Necessidades básicas como pavimentação, saneamento e abastecimento de água tratada ainda são problemas graves de Nova Iguaçu e Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, e de São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, questões que pautam promessas e se tornam um desafio para os novos prefeitos.
São Gonçalo, Duque de Caxias e Nova Iguaçu formam os maiores colégios eleitorais depois da capital. Juntas, as cidades somam 2,7 milhões de moradores e escolherão os prefeitos neste segundo turno. Além dos três municípios, os eleitores vão voltar às urnas em Belford Roxo, na Baixada; Niterói, Metropolitana; Petrópolis, Serrana; e Volta Redonda, no Sul Fluminense; cidades que também não solucionaram em 100% dos problemas relacionados a pavimentação, saneamento e água.
Nova Iguaçu tem pior índice
Enquanto a média nacional de tratamento de esgoto coletado chega a 38% — percentual considerado baixo —, de acordo com o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento Básico (SNIS) referente ao ano de 2010, em Nova Iguaçu o índice divulgado pelo órgão fica em 0,46%, enquanto em Belford Roxo atinge a 2,21%. Em Duque de Caxias, o resultado é igualmente ruim: 4,34%. São Gonçalo acumula 8,51%. Em Volta Redonda, 22,2%. Petrópolis e Niterói fogem dessa realidade e superam até o Rio (53,1%): 74,3% e 92,6%, respectivamente.
— Como outras cidades de regiões metropolitanas pelo país afora, os municípios da Baixada Fluminense também sofrem com o crescimento desornado, falta de planejamento urbano e uso do solo, migração das pessoas das áreas rurais para as cidades e sobretudo pela falta de investimentos sérios em esgotamento sanitário nas décadas de 80 e 90, onde muito pouco aconteceu no Brasil ness área da infraestrutura — explica o presidente do Instituto Trata Brasil, Édison Carlos. Na Baixada Fluminense há um agravante: o fato de o fornecimento da água potável ser feito pela Cedae, mas sem que ela tenha a obrigação de coletar e tratar os esgotos. Significa que os esgotos ficam por conta das prefeituras, que afirmam não ter recursos nem estrutura para tal, perpetuando o problema. É a tarifa da água que paga, em sua maior parte, os investimentos do esgoto.
Niterói apresenta melhor resultado
Ainda de acordo com o SNIS, a universalização do abastecimento de água está distante das cidades que terão segundo turno no estado, com exceção de Niterói e Volta Redonda (100% e 99% respectivamente). Em Belford Roxo, imóveis com ligações em redes de fornecimento de água chegam a 77%; Duque de Caxias e São Gonçalo, 85%; Petrópolis, 88%; e Nova Iguaçu, 92%. No entanto, ter rede de abastecimento em casa não significa água nas torneiras. Em Marambaia, bairro de São Gonçalo, a garantia de abastecimento vale somente para quem tem poço artesiano ou recorrer a carros-pipa.
— Água só de poço. Não cai uma gota da torneira. Quando dá, a gente compra água mineral. Quando não dá, fervemos a de poço — afirma o comerciante Francisco Reinaldo Veiga, 57 anos, dono de um bar na esquina das ruas Itacuruçá e Almirante Amorim do Vale. — Falta de água não é o nosso único problema, aqui na rua não chega ônibus e, em dias de chuva, a gente tem que usar sacos plásticos nos sapatos por causa da lama.
Tanto a Rua Itacuruçá quanto a Almirante Amorim do Vale não têm calçamento. Em alguns trechos, os buracos e as valetas criadas pelo esgoto impedem a passagem de carros de passeio.

 
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Fonte: O Globo

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