quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Contra cracolândias, Paes se reunirá com ministro da Saúde

Será discutida proposta de internação compulsória de adultos usuários da droga
Usuários que deixaram cracolândia no Parque União migram para bar no entorno Foto: Pablo Jacob / O Globo
Usuários que deixaram cracolândia no Parque União migram para bar no entornoPablo Jacob / O Globo
RIO, SÃO PAULO e BELO HORIZONTE — Na tentativa de frear a escalada do crack na cidade, o prefeito Eduardo Paes se encontra nesta quinta-feira com o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, para discutir a proposta de internação compulsória de adultos usuários da droga. O município não esclareceu que estratégia pretende empregar, mas Paes quer apoio da União, por acreditar que os dependentes não têm condições de tomar decisões por conta própria. Segunda-feira, o prefeito anunciou a criação de 600 vagas para tratamento de dependentes até o fim do ano. A proposta é alvo de polêmica. Especialistas e autoridades se dividem sobre sua eficácia e legalidade.
O avanço do crack pode ser visto em diversos pontos do Rio, como o entorno da Central do Brasil, onde a tarde de quarta-feira dez usuários consumiam a droga na Rua Marcílio Dias, nos fundos do Comando Militar do Leste (CML) e perto do prédio da Secretaria de Segurança. Na mesma região, o ministro Padilha acompanhou uma ação de recolhimento em abril. Na ocasião, o ministro assinou convênio de repasse de R$ 240 milhões para o combate ao crack no estado.
Em Copacabana, moradores da Rua Tonelero contaram que um grupo de 20 usuários vem se reunindo no Túnel Major Vaz. O dentista Daniel Caixeta contou que, na terça-feira, os dependentes ocupavam a calçada próxima à entrada do túnel, assustando moradores.
A prefeitura informou na quarta-feira já ter recebido R$ 19 milhões do Ministério da Saúde. Os recursos foram aplicados na ampliação do atendimento à população de rua e na abertura de 29 novos leitos de emergências psiquiátricas em hospitais. A rede já contava com 31 leitos no Instituto Pinel e nos Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps AD) da Rocinha e de Ramos.
A secretaria anunciou ainda que, até o fim do ano, serão criados oito Caps nas zonas Sul, Norte e Oeste. Também foram abertas dez casas, com capacidade para oito pessoas cada, para abrigar ex-pacientes em processo de desinstitucionalização. A abertura das casas dobrou o tamanho do Programa Residencial Terapêutico da região de Jacarepaguá.
De tapume em tapume
No jogo de gato e rato entre a prefeitura e os usuários de crack, sobrou para os tapumes do BRT Transcarioca instalados sob o Viaduto Engenheiro Edno Machado, que liga a Avenida Brasil, em Ramos, à Ilha do Governador. Instalado há dois meses, o cercado foi demolido na quarta-feira, durante operação da Secretaria municipal de Assistência Social, com o apoio das polícias Militar e Civil. A ação, a segunda na área em uma semana, recolheu 63 usuários de crack, sendo três adolescentes. Mas, horas depois, um grupo de pelo menos 80 dependentes se reunia a 30 metros dali, atrás de outro tapume do BRT, colado à Favela Parque União, na altura da Avenida Brigadeiro Trompowski.
Parte dos dependentes resistiu à ação do município e precisou ser carregada pelos agentes. Enquanto os menores foram enviados a unidades do município, os adultos foram encaminhados para o centro de triagem Rio Acolhedor, em Paciência, na Zona Oeste. Ao fim do dia, contudo, muitos já estavam novamente nas ruas. Segundo a unidade, dos 87 usuários de drogas encaminhados ontem em operações na cidade, 55 já haviam deixado o local até as 18h.
Na semana passada, 67 pessoas já haviam sido recolhidas na cracolândia da Avenida Brasil. Em agosto, o cercamento do viaduto provocara a migração dos viciados para canteiros próximos. No mês anterior, a parte de baixo do viaduto, de terra e grama, já havia sido substituída por pedras pontiagudas. Sem sucesso.
Em SP, internação já é compulsória
A Secretaria de Saúde do município de São Paulo faz uma média de 1.100 internações de usuários de crack por ano, a maioria de forma involuntária. Segundo o órgão, 200 agentes de saúde fazem o acompanhamento dos usuários de crack, principalmente na região central, onde existe uma cracolândia perto da Estação da Luz. Em janeiro, a Polícia Militar iniciou uma operação para dispersar os viciados. Uma liminar, porém, proibiu a PM de impedir que os dependentes permanecessem nas ruas.
Em Belo Horizonte, apesar do avanço do crack, o governo nunca realizou uma operação a fim de retirar das ruas os usuários da droga. A cerca de cem metros da sede do Departamento de Investigações da Polícia Civil de Minas Gerais, no bairro da Lagoinha, na antiga região boêmia da capital, um exército de viciados fica perambulando dia e noite rumo à Favela Pedreira Prado Lopes. A movimentação dos policiais não inibe os usuários. Nos fins de semana, o movimento é ainda maior.

Fonte:  O Globo

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