terça-feira, 30 de outubro de 2012

Contra transporte pirata: delegado planeja ‘Lei Seca’ das vans

Novo ‘xerife’ planeja asfixiar máfias com blitzes envolvendo polícias, TJ, MP e Detran


Extorsão. Motoristas durante uma reunião na última quarta-feira para discutir a cobrança de pedágio pela milícia chefiada por Toni Ângelo, procurado pela polícia
Foto: Divulgação
Extorsão. Motoristas durante uma reunião na última quarta-feira para discutir a cobrança de pedágio pela milícia chefiada por Toni Ângelo, procurado pela políciaDivulgação
RIO — A fiscalização para reprimir o transporte ilegal de passageiros no Rio vai contar com ações semelhantes às colocadas em prática pela Operação Lei Seca. A ideia de adotar a metodologia aplicada com sucesso na repressão a motoristas que dirigem após consumir bebidas alcoólicas é do delegado Cláudio Ferraz. O ex-titular da Delegacia de Repressão a Ações Criminosas Organizadas (Draco) foi convidado pelo prefeito Eduardo Paes para assumir o comando de um núcleo de inteligência que vai intensificar o combate ao transporte pirata. Ferraz disse que, para realizar o trabalho, será fundamental trabalhar em conjunto com representantes da Secretaria estadual de Segurança, das polícias Federal, Civil e Militar, do Ministério Público, do Tribunal de Justiça e do Detran.
A atividade de transporte ilegal de passageiros é considerada a principal fonte de recursos das milícias que atuam no Rio. Com isso, ao intensificar o combate às vans, kombis e ônibus piratas, Ferraz acredita que a prefeitura vai diminuir substancialmente o fluxo financeiro dos grupos paramilitares. À frente da Draco, o delegado foi responsável pelas prisões de quase 800 milicianos e pela desarticulação de alguns dos principais grupos paramilitares que agiam na cidade.
Ferraz está fazendo um pente-fino na relação de vans e kombis cadastradas pela Secretaria municipal de Transportes. O objetivo é criar um banco de dados que possibilite a identificação dos motoristas que respondem a algum tipo de ação penal por ligação com milícias e outros crimes. O banco de dados também vai reunir prontuários de multas e os nomes dos motoristas mais notificados. Essas informações serão usadas como base para liberar ou cancelar licenças dos motoristas.
Milícia ameaça e cobra taxa de motoristas
Enquanto as novas medidas não são colocadas em prática, a milícia comandada pelo ex-PM Toni Ângelo Souza Aguiar vem impondo terror a 700 motoristas associados à cooperativa de transporte de passageiros Rio da Prata, impedida de circular nos bairros de Campo Grande, Cosmos, Santa Cruz e Sepetiba, na Zona Oeste. Os paramilitares exigem taxa semanal de R$ 350 de cada cooperado para permitir a exploração do serviço. A cobrança garantiria aos milicianos um caixa mensal de quase R$ 1 milhão. De acordo com o diretor financeiro da cooperativa, Jaime Souza, o problema se agravou na última quarta-feira, quando 120 motoristas foram abordados e ameaçados.
— Nesse dia, homens armados com fuzis e usando toucas ninja renderam motoristas cooperados em vários pontos de Campo Grande e de Sepetiba. Abordaram com violência 120 carros, ameaçaram motoristas e passageiros, que foram obrigados a descer dos veículos e a seguir viagem a pé. Desde então, os cooperados não se sentem seguros para trabalhar — disse Jaime.
De acordo com o diretor da Coop Rio da Prata, devido à insegurança o serviço de transporte não está sendo realizado integralmente. Isso, segundo ele, estaria prejudicando diariamente cerca de 210 mil passageiros — número de usuários das kombis e vans cooperadas que circulam nas linhas Cosmos-Cascadura e Padre Miguel-Sepetiba. Segundo Jaime Souza, os donos dos veículos que fazem esses itinerários estão apavorados, e poucos insistem em continuar trabalhando por não terem outra alternativa.
— São pais de família que precisam alimentar filhos, pagar contas, e não podem arcar com um pedágio semanal de R$ 350 imposto pela milícia de Campo Grande. O problema é que esse grupo circula fortemente armado pela região. Eles afirmam que, para o motorista rodar em Campo Grande, Santa Cruz, Cosmos e Sepetiba, tem que pagar a taxa — disse.
Os milicianos não se limitam a ameaçar motoristas e passageiros. Segundo o diretor da cooperativa, toda a direção da Coop Rio da Prata vem sendo ameaçada pelos paramilitares, que chegaram a dizer que jogariam uma granada na sede da entidade. Ontem, o presidente da cooperativa, César Moraes, teve que ser escoltado por policiais para prestar depoimento na 35ª DP (Campo Grande). A delegacia instaurou inquérito para apurar as denúncias, já que o grupo chefiado pelo ex-PM Toni Ângelo tem como reduto o bairro. Expulso da corporação após desertar, Toni passou a controlar a milícia de Campo Grande após as prisões do ex-deputado estadual Natalino Guimarães e de seu irmão, o ex-vereador Gerominho, e do ex-PM Ricardo Teixeira Cruz, o Batman.
As ameaças sofridas pela direção da cooperativa e por seus associados também foram relatadas na última sexta-feira na Superintendência da Polícia Federal, na Praça Mauá, e a promotores do Ministério Público estadual que acompanham a investigação da Polícia Civil. Em março de 2007, a direção da Coop Rio da Prata já havia denunciado que motoristas que atuavam na linha de Santa Cruz vinham sendo obrigados a pagar pedágio a traficantes da Favela do Rola.

Fonte: O Globo

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