terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Rocinha tem ‘exército’ de 60 bandidos com fuzis, diz a PM

Após tiroteios, polícia reforça o policiamento na favela por tempo indeterminado

HERCULANO BARRETO FILHO E MARIA INEZ MAGALHÃES
Rio - O poderio bélico de traficantes na Rocinha, comprovado após três intensos confrontos com PMs da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) local, sábado, coloca em xeque o processo de pacificação na favela. Relatório concluído pelo Centro de Comando das UPPs relatou a existência de mais de 60 homens com fuzis no tiroteio que aterrorizou a comunidade, deixando quatro policiais feridos, quatro suspeitos baleados e um morto. Os bandidos também atiraram em oito viaturas, danificaram câmeras de monitoramento, geradores e atearam fogo em pneus na Autoestrada Lagoa-Barra, interditando o Túnel Zuzu Angel. O clima é tenso na região.
A quantidade de armas de grosso calibre quase equivale às apreensões feitas pela Polícia Civil na Operação Choque de Paz, em novembro de 2011 — às vésperas da ocupação policial que deu origem à maior UPP do Rio de Janeiro, policiais apreenderam mais de 70 fuzis na favela. Antes da chegada da UPP, havia cerca de 200 armas desse tipo na Rocinha, segundo agentes da Polícia Civil que investigaram o tráfico de drogas na área.
PMs de unidades especiais estão de prontidão na Rocinha
Foto:  Carlos Moraes / Agência O Dia
O relatório também citou a presença de ‘bondes’ armados de traficantes do Comando Vermelho (CV) circulando em outras regiões da cidade, como Jacarepaguá, Madureira, Pavuna, Tijuca, Rocha Miranda e Zona Sul. Entretanto, a informação de uma possível guerra pelo controle do tráfico de drogas na Rocinha contra traficantes da facção Amigos dos Amigos (ADA), que atua na favela, não foi confirmada pela polícia.
Depois do tiroteio, o policiamento na favela foi reforçado por mais de 200 homens dos batalhões de Operações Especiais (Bope), de Choque (BPChoque) e de Ações com Cães (BAC), além de policiais de outras UPPs. Segundo a polícia, o reforço no efetivo na Rocinha ocorrerá por tempo indeterminado.
O reforço no policiamento também foi citado nas entrevistas dadas pelo governador Sérgio Cabral e pelo secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame. “Não temos a ilusão de que estes traficantes e as facções criminosas que eles pertencem deixaram de lado esta luta de ocupação territorial do maior ponto de venda de drogas do Brasil. A resposta será reforço na UPP da Rocinha, como houve no Alemão, e Polícia Civil mais integrada com a Polícia Militar fazendo investigações. Vamos continuar avançando”, afirmou o governador.
Para o secretário, as ações foram feitas em represália ao trabalho da UPP na Rocinha.
“É uma total afronta. A Rocinha é um lugar emblemático. Se tiver que aumentar o efetivo, vamos aumentar. Entendemos que não é uma situação fácil, mas não haverá nenhum tipo de recuo. A resposta nós já planejamos. Essas ações são em represália do que vem sendo feito na região, mas permaneceremos lá”, garantiu o secretário Beltrame.
Cerca de 15 kg de crack que estavam num Fiat Siena estacionado na parte baixa da favela foram apreendidos nesta segunda-feira. Não houve prisões.
Troca de tiros em três pontos da comunidade
De acordo com a Polícia Civil, o tiroteio aconteceu entre PMs da UPP da Rocinha e traficantes da parte alta da comunidade que desceram, a pé, para a localidade conhecida como Valão. Segundo as investigações, não houve disputa entre facções rivais. O bando tinha dez homens fortemente armados. Foi no Valão onde começou o confronto.
Os criminosos depois recuaram e foram para o Largo do Boiadeiro, onde aconteceu um novo tiroteio. A troca de tiros continuou ainda na Rua 2, na parte alta da Rocinha. A Polícia Civil está analisando as câmeras da UPP.
Cerca de 15 kg de crack que estavam num Fiat Siena estacionado na parte baixa da favela foram apreendidos. Não houve prisões
Foto:  Carlos Moraes / Agência O Dia
O delegado-titular da 11ª DP (Rocinha), Gabriel Ferrando, no entanto, não quis dar detalhes sobre o caso. “Já identificamos os líderes desse confronto e vou pedir a prisão deles. Estamos investigando o motivo dessa ação”, disse ele, que investiga, ainda, se os baleados e o morto que foram levados para o Hospital Souza Aguiar, na Gávea, têm ligação com o confronto. Os feridos foram sarqueados. Como não tinham antecedentes, três foram liberados. Um permanece no hospital em estado grave.
Comandante ficou ferido
Os oficiais da PM feridos patrulhavam a favela quando foram surpreendidos por bandidos. Na ocasião, o coronel Frederico Caldas, comandante das UPPs, se protegeu atrás de um muro e foi atingido por pedaços de tijolo no olho direito, após tiro atingir parede na localidade Macega. Ele foi operado no Hospital Central da PM, onde foi feita a limpeza na córnea, e já teve alta.
Pelo Facebook. o coronel agradeceu a atenção dos amigos. “Mando um beijo e um abraço carinhosos pra todos aqueles que me incluíram em suas orações.” Além do coronel, a major Pricilla Azevedo, que comanda a UPP da Rocinha, o capitão Flavio Cardoso, subcomandante da unidade, e o sargento Pinto também sofreram ferimentos ao caírem no chão, enquanto se protegiam dos tiros.
Dois bandos comandam o tráfico na Rocinha: Rogério Avelino, o Rogério 157, e Luiz Carlos Jesus da Silva, o Djalma, ambos foragidos da Justiça. Djalma controla a parte alta da favela, enquanto Rogério, é apontado como o chefe da parte baixa.

Fonte: O Dia

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