domingo, 16 de fevereiro de 2014

Milícia agora explora a venda de cestas básicas na Zona Oeste do Rio




CI Rio de Janeiro (RJ) 14/02/2014 Distribuidora de cestas básicas São Jorge, que pertence a Márcio Rosalba Pinto, acusado de integrar milícia na Zona Oeste e preso por homicídio. Foto Reprodução / Google Street View
CI Rio de Janeiro (RJ) 14/02/2014 Distribuidora de cestas básicas São Jorge, que pertence a Márcio Rosalba Pinto, acusado de integrar milícia na Zona Oeste e preso por homicídio. Foto Reprodução / Google Street View Foto: Terceiro / reprodução/google street view


A maior milícia do Rio está usando a fome alheia como uma nova fonte de renda. Investigações feitas pela Polícia Civil e a Secretaria de Segurança revelam que grupos criminosos da Zona Oeste já exploram a venda de cestas básicas a juros. Para forçar as vítimas a continuarem comprando comida das mãos da milícia — e, ao mesmo tempo, lavar dinheiroganho com outras atividades criminosas — milicianos oferecem a venda de cestas com prazo de pagamento de 30 dias a quem não tem dinheiro para fazer as compras do mês.
Enquanto uma cesta é oferecida por estabelecimentos comerciais do Rio, pela internet, entre R$ 44 e R$ 170 — dependendo da quantidade de itens — quem cai na rede de exploração da milícia enfrenta uma realidade diferente. Depois de obrigatoriamente fornecer endereço e telefone, o cliente se compromete a pagar um preço (acrescido de juros) que, em alguns casos, ultrapassa os R$ 200. No mês seguinte, sem ter dinheiro para fazer compras e precisando quitar a dívida, a vítima acaba comprando de novo na mão da milícia.
— Quem não paga sofre consequências como ameaças, expulsão do bairro e até mesmo assassinatos. A cesta é uma forma de a milícia ganhar dinheiro. Temos investigações neste sentido em andamento e já concluímos inquéritos que traziam este tipo de crime — explica o delegado Alexandre Capote, titular da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco).
Nos últimos três anos, o Disque-Denúncia (2253-1177) recebeu 65 telefonemas com informações de que a milícia era responsável pela venda de cestas básicas em Cosmos, Bangu e Sepetiba. Nesse último bairro, o relatório do inquérito número 901-01298, da Divisão de Homicídios, revela que o grupo chefiado pelo cabo PM Flávio Lúcio de Carvalho de Faria administrava a distribuidora de cestas básicas São Jorge, que pertence a Márcio Rosalba Pinto, o Márcio Mochila. Os dois e André Maulaz de Almeida estão presos desde agosto de 2012, acusados do assassinato do comerciante Humberto Tjie -A-Njien, morto a tiros em 2011.




A exploração da venda de cestas básicas pela milícia em Sepetiba é citada pelo menos duas vezes no relatório da Divisão de Homicídios. Em uma das oportunidades, o documento revela que uma quebra de sigilo telefônico flagrou o PM Flávio conversando por 38 vezes, entre 7 e 16 de março de 2012, sobre empréstimos a juros e a venda de cestas. Ainda segundo o relatório, o militar teria colocado um parente para trabalhar na loja, que monopolizava a exploração do negócio no bairro.
Em agosto do ano passado, a DH apreendeu uma lista com nomes, endereços e telefones de clientes que haviam adquirido as cestas no local.
O EXTRA procurou os advogados Roberto Madeira e Oswaldo Luiz Rosalba Silva, que defendem respectivamente Flávio Lúcio Carvalho e Márcio Rosalba.
O primeiro disse que as acusações contra seu cliente não são verdadeiras e que Flávio não pertence a nenhuma organização criminosa. Já Oswaldo Luiz negou ligação de Márcio com a milícia. Ele disse que a Cesta São Jorge é uma empresa regularizada e legal. Sobre a acusação de assassinato, ele negou que seu cliente tenha qualquer participação no fato.
Dossiê seria causa da morte
Segundo a polícia, Humberto Tjie foi assassinado porque entregou um dossiê ao Ministério Público denunciando a milícia de Sepetiba.
O cabo Flávio Lúcio é acusado de ser o homem que disparou 12 tiros contra a vítima. Já Márcio Rosalba é apontado como sendo o homem que dirigia o carro de onde o pistoleiro desceu para executar o crime. André Maulaz é acusado de passar as informações sobre o carro onde estava a vítima. Ele está sendo atendido pela Defensoria Pública, que vai recorrer da prisão preventiva do acusado.
Os advogados que defendem Flávio e Márcio Rosalba também anunciaram que entraram com pedido de habeas corpus solicitando a liberdade para seus clientes. O PM Flávio está preso, à disposição da Justiça, no Batalhão Especial Prisional da PM (BEP).
Márcio Rosalba encontra-se na Penitenciária Lemos Brito, no Complexo Gericinó, em Bangu. Já André Maulaz encontra-se na Cadeia Pública Romeiro Neto, em Magé. Segundo a PM, o cabo Flávio Lúcio está sendo submetido a um conselho de disciplina formado por oficiais. O julgamento do processo disciplinar está previsto para ocorrer até o fim deste mês. Ele pode ser absolvido,advertido ou expulso.

Fonte: Extra /Marcos Nunes

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