sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Depoimento de Caio culpa Raposo e acusa partidos de aliciar ativistas

PSOL e PSTU negam envolvimento com violência em manifestações.
Advogado estuda anular inquérito após depoimento sem sua presença.




Caio Silva de Souza, um dos suspeitos da morte do cinegrafista da TV Bandeirantes, Santiago Andrade, prestou depoimento depois de ter sido encaminhado para o presídio. No documento, revelado pelo jornal “Extra” e ao qual o Jornal Nacional teve acesso, ele diz que Fábio Raposo, o outro suspeito do crime, acendeu o rojão que atingiu o cinegrafista.
Ao chegar ao Rio preso, na manhã desta quarta-feira (12), Caio Silva de Souza se negou a prestar depoimento. Mas de madrugada, já na Cadeia Pública José Frederico Marques, no Complexo de Bangu, na Zona Oeste, ele foi ouvido por uma equipe da Polícia Civil.

No documento a que o Jornal Nacional teve acesso, Caio contou ter ido ao Ocupa Câmara, quando ativistas ficaram acampados na Cinelândia, em frente à Câmara de Vereadores. E que na ocasião viu a chegada de até 50 quentinhas para alimentar os ativistas.

Ele afirmou que tem pessoas que aliciam jovens para participar de passeatas. E que já foi convidado também para participar de forma remunerada. Caio disse que não conhece essas pessoas que aparecem no meio da manifestação e que falam que, se tiver com dificuldade financeira para voltar na próxima, pode pegar com eles o dinheiro da passagem, bem como aparecem com lanches e quentinhas.

No depoimento, ele contou também que não foi chamado pela ativista Sininho para as manifestações, mas que sabe que ela é uma das pessoas que organiza as passeatas e protestos. Caio disse não achar que ela seja líder, mas manipula a forma como a manifestação vai acontecer. Nesta quarta, a repórter Bette Luchese perguntou a Caio se ele conhecia a ativista Elisa Quadros, a Sininho. “Nem sei quem é. Nem sei quem é a Sininho”, respondeu.

Caio disse também à polícia que algumas pessoas são encarregadas de distribuir pedras e apetrechos, mas não sabe quem são. Perguntado se existem financiadores,  disse que existem, sim, tais financiadores, mas que é preciso investigar por dentro. Ele diz acreditar que os partidos que levam bandeira são os mesmos que pagam os manifestantes. Ele contou já ter visto bandeiras do PSOL, PSTU e a FIP, que, segundo ele, são os financiadores.

Em um trecho do depoimento, há uma declaração truncado. Caio diz: “A FIP [Frente Independente Popular] é um dos grupos que organiza em reuniões plenárias”, mas que nunca participou dessas reuniões.

Sobre o rojão que matou o cinegrafista Santiago Andrade, Caio disse que Fábio deu o objeto a ele e que pensou ser um sinalizador. Fábio Raposo é o outro suspeito, preso no  
domingo (9). Na entrevista desta quarta, Caio disse que achou que o artefato fosse um outro tipo de explosivo.
Caio: “Não sabia que aquilo era um rojão?”
Repórter:
 “Pensou que fosse o quê?”
Caio
: “Cabeção de nego”.

Segundo o depoimento, Caio recebeu o objeto de Fábio, que disse: “Acende aí, acende aí”. Mas, de acordo com Caio, quem acendeu foi Fábio, enquanto ele segurava o artefato, que depois apenas colocou no chão, já aceso. Na quarta, Caio tinha admitido que acendeu o rojão:
Caio: “Se eu acendi? Acendi!”
Repórter:
 “Junto com o Fábio?”
(Caio confirma balançando a cabeça)
Repórter:
 “Depois você colocou o rojão onde? Perto da árvore?”
Caio:
 “Eu nem sei, senhora”

À polícia, Caio disse também que colocou o artefato voltado na direção dos PMs. Na quarta, à TV Globo, no entanto, ele negou, balançando com a cabeça, quando perguntado se tinha algum alvo específico.

Para o delegado que cuida do caso, Fábio Raposo e Caio de Souza estavam juntos e têm a mesma responsabilidade na morte do cinegrafista.
Nesta quinta, a polícia ouviu o depoimento de um amigo de Caio, que trabalhava com ele no hospital. Segundo o delegado, este amigo contou ter recebido um telefonema de Caio no dia em que o cinegrafista da TV Bandeirantes foi atingido.
“Ele, após cometer esse ato, ligou pra esse colega e disse que tinha feito uma besteira e tinha matado uma pessoa. Então isso, para a gente, é o que interessa. São as provas abundantes de que foi ele”, disse Maurício Luciano.
A polícia informou que não vai atrasar a conclusão do caso por causa das suspeitas de aliciamento de jovens para participar de protestos violentos. Essas denúncias estão sendo investigadas em paralelo. Nesta sexta (14), o delegado entrega ao Ministério Público o inquérito sobre a morte do cinegrafista.
Quando prestou depoimento na cadeia, Caio estava sem o advogado. Por isso, o advogado Jonas Tadeu disse que estuda pedir a anulação do inquérito.
Partidos se defendem
Em nota, o PSOL declarou que nunca teve contato com os suspeitos, que são levianas as acusações que recebeu de envolvimento nesse episódio. E que não utiliza, nem defende a violência nas manifestações.
O PSTU também divulgou nota em que nega ter qualquer ligação com black blocs ou grupos da mesma ideologia. Afirmou também que, no ano passado, foi o único partido de  
esquerda a discordar publicamente dos métodos empregados por esses setores do movimento social.
A FIP, Frente Independente Popular, e a ativista Elisa Quadros foram procurados pelo Jornal Nacional, mas não deram retorno.




Depoimento de Caio Silva de Souza (Foto: Reprodução)Depoimento de Caio Silva de Souza à Polícia Civil (Foto: Reprodução)Fonte: G1



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