domingo, 26 de maio de 2013

No meu tempo

COLUNA DA REVISTA O GLOBO (26/5/2013

No meu tempo

No meu tempo, as agências bancárias funcionavam até 18h. Cinema era sempre às duas, às quatro, às seis, às oito e às dez. Teatro era de terça a domingo. 
No meu tempo, a gente tinha que ir até São Conrado para comer casquinha de siri e beber água de coco. Almoço de domingo era na Confeitaria Colombo com piano ao vivo. No meu tempo, tinha um tobogã na Lagoa. 
No meu tempo todo telefone era preto. A gente tinha sempre uma ficha no bolso para falar no telefone público. No meu tempo tinha telefone público. 
No meu tempo, a gente tinha medo de telefone vermelho, de bomba atômica e de areia movediça. 
No meu tempo, baleira de cinema vendia Mentex, bala Toffee e drops Dulcora. Ainda existe drops? 
No meu tempo, para estar na moda, tinha que se usar calça boca-de-sino, camiseta manchada e sandália com sola de pneu. 
No meu tempo, eu fazia compras no Hippie Center, no Disco do Dia e numa loja de jeans usados que ficava no Shopping dos Antiquários. No meu tempo, o Shopping dos Antiquários era conhecido como shopping da Siqueira Campos. 
No meu tempo, os prédios da Delfim Moreira tinham, no máximo três andares, a Vinicius de Moraes chamava-se Montenegro e eu só gostava de ir a Ipanema para assistir a um filme no Pax e, depois, comer um cheesebacon no Chaplin. 
No meu tempo, quem ia à Bahia voltava sempre com um berimbau. Quem ia a Buenos Aires trazia um frasco de colônia Lancaster. Quem ia a Nova York tinha que ver “Cats”. No meu tempo, quem ia Machu Pichu às vezes não voltava da viagem. 
No meu tempo, só existiam três canais de televisão: a TV Rio, a TV Tupi e a TV Continental. Depois, bem depois, apareceu a TV Excelsior. No meu tempo, tinha mais coisas para se ver em três canais do que nos cento e tantos canais de hoje na TV a cabo. 
No meu tempo, tinha filme que era proibido para menores de 21 anos. Geralmente, eram com a Libertad Lamarque. Todo domingo, às 10 da manhã, tinha Sessão Tom & Jerry no Metro. No meu tempo, tinha Festival Greta Garbo uma vez por ano. 
No meu tempo, os elevadores tinham porta pantográfica. No meu tempo, não existia porteiro eletrônico (todo mundo jogava a chave da janela). No meu tempo, ouvia-se jogo de futebol em radinho de pilha. 
No meu tempo, usava-se óleo de bronzear. Todo mundo comprava uma cadeira de praia nova no começo do verão. No meu tempo, só criança andava de bicicleta. 
No meu tempo, a gente trocava tampinhas de Coca-Cola por miniaturas de personagens da Disney. No meu tempo, tampinhas de Coca-Cola eram chamadas de chapinhas. No meu tempo, a gente juntava palitos de picolé para concorrer a prêmios na Grande Ginkana Kibon. No meu tempo, a gente colecionava álbum de figurinhas com fotos da recém-inaugurada Disneylândia. 
No meu tempo, dançava-se cha cha cha no Le Bateau, twist no Black Horse e hully gully no Jirau. 
No meu tempo, não tinha restaurante japonês, nem comida indiana, nem pizza fininha. Quando a gente saía de casa, era para comer camarão á milanesa com arroz à grega. E dava para lamber os beiços.

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