sexta-feira, 21 de março de 2014

Cabral vai a Brasilia pedir a Dilma apoio de tropas contra ataques às UPPs

Governador, secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, e comandantes da PM e da Civil se reúnem na manhã desta sexta-feira com a presidenta

Rio - O governador do Rio, Sérgio Cabral, vai pedir a presidenta Dilma Rousseff o apoio de tropas federais no estado para a reforçar a segurança dos moradores e combater futuros ataques à Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs), como os ocorridos em duas comunidades na noite desta quinta-feira. A solicitação será feita nesta sexta-feira, durante o encontro marcado com ela, às 11 horas, em Brasília.
O governador Sérgio Cabral esteve reunido com a cúpula da segurança do estado
Foto:  Divulgação
A decisão foi tomada após uma reunião de mais de duas horas com o Gabinete de Crise do comando da Segurança Pública, no Centro Integrado de Comando e Controle (CICC), no Centro do Rio. Um plano de defesa foi elaborado. A PM e a Polícia Civil estão em alerta máximo. Não foram registrados incidentes em áreas de UPPs durante a madrugada.
"Vamos solicitar a presidenta o apoio das forças nacionais. Não sei que tropas, como, por quanto tempo, elas atuarão. Seria uma indelicadeza apresentar isso para vocês antes da presidenta ser a primeira a saber", alegou Cabral aos jornalistas, no início da madrugada, após a reunião com o secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame; o chefe da Polícia Civil, Fernando Veloso, e o comandante-geral da PM, coronel José Luís Castro Menezes. Eles também participarão do encontro em Brasília. Beltrame confirmou que as ações criminosas foram orquestradas por uma facção criminosa, com o objetivo de desmoralizar a política de segurança pública do Rio.
O pedido de apoio ao governo federal e o reforço no policiamento no Rio foram decididos pela cúpula da Segurança Pública após o comandante da UPP Manguinhos, capitão Gabriel de Toledo, ter sido baleado na perna durante um confronto com traficantes. Ele sofreu uma lesão grave em uma artéria e está internado no Hospital Central da corporação, no Estácio, na Zona Norte. Ele não corre risco de morrer.
Um PM da UPP do Mandela também foi ferido com uma pedrada na cabeça, após a polícia intervir na desocupação de um prédio do projeto Minha Casa, Minha Vida na comunidade, no fim da tarde. Houve incidente com os moradores. No início da noite, bandidos se aproveitaram do incidente e atacaram os PMs com granadas e tiros. Eles incendiaram duas viaturas e cinco contêineres, que serviam de base de apoio da UPP.
Incêndio na base UPP Arará / Manguinhos
Foto:  Divulgação
Na reunião da cúpula da Segurança Pública algumas medidas foram definidas para evitar novos ataques da principal facção criminosa do Rio. As folgas na Polícia Militar foram suspensas. PMs dos batalhões de Choque e de Operações Policiais Especiais (Bope) e policiais civis estão de prontidão, inclusive os da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), tropa de elite da corporação, estão de prontidão. O Bope reforçou o policiamento no Morro dos Macacos, em Vila Isabel, na Zona Norte, comunidade que possui uma UPP. Setores de inteligência detectaram uma ameça de invasão da fação rival à comunidade. As 37 UPPs estão em alerta máximo.
Cabral reafirmou que os ataques às UPPs são um indicativo evidente do crime organizado tentando enfraquecer a política do plano de retomada dos territórios dominados por décadas pelo tráfico de drogas. Ele reiterou que o estado não vai desistir do projeto de pacificação e que nada impedirá que o governo do Rio solicite ajuda das forças federais.
"Não vamos recuar, nem retroceder. E vamos avançar com as forças federais", decretou.
Beltrame quer ampliar discussão sobre segurança
No esteio do pedido de reforço das forças de segurança nacional para combater ataques às UPPs, o secretário José Mariano Beltrame, deve cobrar da presidenta Dilma Rousseff, a ampliação do debate e das medidas em âmbito nacional sobre Segurança Pública. Para ele, ações isoladas em cada estado não resolverão as contantes crises na área. A discussão e ações sobre o sistema prisional, a menoridade penal, a epidemia do crack, as fronteiras nacionais, o uso de armas de fogo por civis e outros tópicos são consideradas fundamentais por ele.
"Se não discutirmos Segurança Pública na ponta, vamos passar a vida inteira resolvendo crises. Não é só no Rio. Precisamos que haja uma diálogo nacional e outras instituições venham discutir isso. Uma série de personagens tem que vir à tona. Pessoas agem sem o menor temor da lei. Se elas não sentirem que há um plano, um combate, o crime vai sempre valer a pena para elas", pregou Beltrame.
Sobre a aparente volta da tranquilidade a cidade, no início da madrugada, após o reforço no policiamento em áreas de UPPs e vários bairros do Rio, Beltrame disse que não há esse sentimento em segurança pública no Rio.
"Pode estar calmo agora e amanhecer tudo tenso", disse.
Um ônibus da linha 232 (Lins-Praça XV), na esquina das ruas Maranhão e Aquidabã, no Lins
Foto:  Seguidor @leandroestrela
Ônibus queimado e prejuízos no Lins
A série de ataques à UPPs não pararia em Manguinhos. Uma base de apoio da UPP Camarista Méier, na comunidade da Boca do Mato, no Complexo do Lins de Vasconcelos, foi atacada a tiros por bandidos, também na noite de quinta-feira. Os bandidos fugiram. Nenhum policial ficou ferido. A segurança também foi reforçada na região durante a madrugada. As informação são do Comando de Polícia Pacificadora (CPP).
No entanto, por volta das 22h, criminosos incendiaram um ônibus da linha 232 (Lins-Praça XV), na esquina das ruas Maranhão e Aquidabã. Não houve feridos, mas moradores ficaram assustados. As chamas atingiram a rede elétrica e cinco imóveis ficaram sem energia.
Morador há quatro anos do prédio de dois andares na Rua Maranhão, em frente ao local onde o ônibus foi queimado, o entregador de móveis Francisco dos Santos, de 44 anos, saiu às pressas de casa com a mulher, os filhos e outros vizinhos, temendo o pior. A picape Effa prata, usada no trabalho, foi parcialmente atingida pelas chamas.
"Ainda não dá para calcular o prejuízo, só amanhã quando for na oficina. Escutei uma explosão, vim na porta e já vi o ônibus pegando fogo. Só tive tempo de pegar minha mulher e filho, avisar os vizinhos e sair", relembrou o entregador. Ele espera ajuda da empresa que trabalha para consertar o veículo, já que não tem seguro.
A picape de Francisco dos Santos foi parcialmente atingida pelo fogo
Foto:  Osvaldo Praddo / Agência O Dia
O aposentado Levir Roberto, de 63 anos, também viu seu carro sofrer avarias com o fogo colocado no ônibus. O Fiat Siena prata estava estacionado na garagem do prédio de três andares onde mora. As janelas dos imóveis que dão de frente para a rua quebraram ou racharam. Ele calculou o prejuízo do veículo em torno de R$ 1.200.
Levir lembrou que há cerca de três anos um ônibus da linha 606 (Engenho de Dentro-Rodoviária) foi incendiado no mesmo local, durante a onda de ataques de uma facção criminosa.
Dois PMs feridos no Alemão
O clima de tensão em áreas de UPPs começou ainda na madrugada de quinta-feira. Dois policiais da UPP do Morro do Alemão ficaram feridos de raspão ao trocarem tiros com traficantes. Segundo a PM, por volta da 1h, uma equipe com 20 PMs fazia patrulhamento pela Rua Joaquim de Queiroz quando foi atacada por bandidos, na localidade conhecida como Areal. Os militares reagiram e houve troca de tiros.
Um militar teve um ferimento na altura da cintura e foi socorrido para o Hospital Central da PM, no Estácio. O segundo policial foi alvejado pelas costas, e a munição ficou alojada entre o colete e a farda.
O Bope e o Choque procuraram criminosos, mas não localizaram suspeitos. O caso foi registrado na 45ª DP (Alemão).

Fonte: O Dia

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