quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Viúva de Amarildo registra queixa contra Crivella; ele nega acusação

Beth diz que foi procurada para gravar um vídeo para a campanha do PRB.
Já a campanha de Crivella afirma que foi procurada pela viúva do pedreiro.

Elizabeth da Silva, viúva de Amarildo de Souza, deixa a delegacia após registrar queixa contra campanha de Crivella (Foto: Gabriel Barreira/G1)

A viúva do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, Elizabeth Gomes da Silva, registrou queixa na polícia contra a campanha de Marcelo Crivella, candidato à Prefeitura do Rio de Janeiro pelo PRB, por constrangimento. O caso foi anotado na 11ª DP (Rocinha) nesta quinta-feira (27).
A informação foi divulgada inicialmente pela coluna de Ancelmo Gois, do jornal "O Globo". Segundo o texto, ela, que seria dependente química, teria sido induzida a beber e depois gravar uma entrevista em vídeo para a campanha de Crivella.
No vídeo, de acordo com ela, os autores perguntam se o adversário do bispo na prefeitura do Rio, Marcelo Freixo (PSOL), ficou com parte do valor da campanha "Somos Todos Amarildo". Por estar fora de si, ela diz que não se lembra do que respondeu.
Com o projeto, Elizabeth comprou uma casa para a família após a morte do marido. Freixo diz, em nota, que a família de Amarildo sempre soube que parte do valor iria para organizações de direitos humanos.
O advogado da família, João Tancredo, disse que a viúva de Amarildo é usuária de drogas e gravou o vídeo após receber dinheiro para comprar cocaína. A campanha de Crivella diz que foi procurada espontaneamente para ouvir uma denúncia.
"Ela foi procurada tarde da noite na casa por uma quantidade de 12 a 15 homens que insinuavam que o advogado [o próprio Tancredo] e Marcelo Freixo tinham ficado com o dinheiro da campanha chamada 'Somos Todos Amarildo'. Sendo que a família sabe que parte era para compra da casa e parte para um projeto sobre outros desaparecidos no Rio de Janeiro", afirma o advogado.
Beth também garante que foi surpreendida em casa pela chegada do grupo que trabalha para Crivella. "Eu não procurei esse povo. Eles vieram falar para mim que iam fazer a filmagem da minha casa para o Crivella ganhar [a eleição], arrumar minha casa e arrumar um dinheiro para mim durante quatro anos", diz Beth.
Após a morte de Amarildo, assassinado em julho de 2013 por policiais militares da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha, onde vivia, Freixo participou de uma campanha que arrecadou dinheiro para comprar uma casa para Elizabeth e seus filhos.
Segundo Tancredo, os homens se disseram funcionários da campanha de Crivella e teriam dado R$ 190 a Elizabeth, que teria comprado droga com o dinheiro. Depois de gravar o material, eles teriam dado mais R$ 100 e dito que ela seria recompensada.
Tancredo disse que o caso é uma "perversidade" por "aproveitar" a fragilidade da família. O advogado disse também que vai tentar impedir judicialmente que as imagens sejam utilizadas na propaganda eleitoral. "Tenho plena compressão se ela tenha dito qualquer coisa em que não acredita. Vamos solicitar as gravações e buscar a não-divulgação das imagens".
Veja nota da campanha de Crivella na íntegra:
Na semana passada, a equipe de campanha do Senador Marcelo Crivella foi contatada pela Associação de Moradores da Rocinha que nos informou que Elizabete Gomes da Silva, viúva do pedreiro Amarildo, queria conversar conosco sobre o dinheiro arrecadado numa campanha de solidariedade à família que não foi repassado integralmente a ela e a seus seis filhos com Amarildo.
No início da noite da última terça-feira, por volta das 20h, fomos entrevistá-la.
Ela falou por mais de uma hora à equipe e à representantes da Associação de Moradores da Rocinha. Elizabete não estava sob o efeito de álcool e não houve consumo da substância por parte de ninguém durante toda a entrevista.
A campanha de Marcelo Crivella, através dos instrumentos legais disponíveis, buscará entender:
1) Se, de fato, Elizabete Gomes da Silva fez alguma queixa à delegacia, alegando que foi embriagada para dar a entrevista;
2) E se realmente o fez, buscar entender a razão que motivou Elizabete Gomes da Silva a ter ido à delegacia e inventado que deu entrevista sob o efeito de álcool.
Repetimos: a conversa foi sugerida e autorizada por ela. Depois desse entendimento, as medidas  legais cabíveis serão tomadas.
Nota da campanha de Marcelo Freixo sobre a campanha "Somos Todos Amarildo"
A campanha "Somos Todos Amarildo", organizada por artistas, juristas e pesquisadores da área de segurança pública após o desaparecimento do pedreiro Amarildo de Souza, em julho de 2013, arrecadou R$ 359.341,77 através de leilão realizado pela produtora Paula Lavigne e show de Caetano Veloso e Marisa Monte no Circo Voador. Deste total, R$ 186.213,48 foram doados para a família.
O restante do dinheiro foi destinado a entidades que atuam na defesa dos Direitos Humanos: Grupo Tortura Nunca Mais, Rede de Comunidades e Movimentos Contra a Violência, Associação de Mídia Comunitária da Rocinha (TV Tagarela), Projeto Via Sacra e Associação Cristã de Ação e Desenvolvimento do Rio de Janeiro.
O projeto "Somos Todos Amarildo" tinha dois objetivos, que foram acordados com a família e bastante divulgados: comprar uma nova casa para a família do pedreiro e financiar o desenvolvimento de um programa sobre pessoas desaparecidas no Rio em consequência de ações de agentes do Estado. A ideia era produzir o perfil das vítimas, entender como ocorrem os desaparecimentos, descobrir as principais dificuldades para a investigação e prestar assistência às famílias.
O primeiro objetivo foi atingido. A nova casa, escolhida pela viúva de Amarildo, Elizabeth Silva, e seus filhos na Rocinha custou R$ 50 mil. Os eletrodomésticos e móveis foram adquiridos por R$ 10 mil. O segundo objetivo, infelizmente, não foi alcançado devido à não colaboração do governo do Estado.
Lamentavelmente, o governo Sérgio Cabral não forneceu as informações necessárias para o desenvolvimento do programa sobre pessoas desaparecidas. A coordenação do projeto, formada por Julita Lemgruber (Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes), Ignacio Cano (Laboratório de Análise da Violência da UERJ), Michel Misse (Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana da UFRJ) e Glaucio Soares (Instituto de Estudos Sociais e Políticos da UERJ), encaminhou diversos pedidos de informações ao Instituto de Segurança Pública, ligado à Secretaria de Segurança Pública, mas não obteve resposta.
Diante disso, com descrito anteriormente, o dinheiro que seria usado para financiar o programa foi destinado à família e às entidades que atuam na defesa e promoção dos Direitos Humanos. Todas as decisões foram tomadas pelo conjunto de pessoas envolvidas no projeto, inclusive a família de Amarildo.
O ajudante de pedreiro Amarildo de Souza sumiu após ser levado por policiais militares para ser interrogado na sede da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) durante a "Operação Paz Armada", de combate ao tráfico na comunidade, entre os dias 13 e 14 de julho de 2013.
Na UPP, o pedreiro teria passado por uma averiguação. Após esse processo, segundo a versão dos PMs, eles ainda passaram por vários pontos do Rio antes de voltar à sede da UPP, onde as câmeras de segurança mostram as últimas imagens de Amarildo, que, segundo os policiais, teria deixado o local sozinho, o que as câmeras nao registraram.
                                                     Amarildo desapareceu em julho de 2013 (Foto:
                                                          Reprodução/GloboNews)
Em janeiro deste ano, a juíza Daniella Alvarez Prado, da 35ª Vara Criminal da Capital, condenou 12 dos 25 policiais militares denunciados pelo desaparecimento e morte de Amarildo.
Fonte: G1

3 comentários:

  1. Ausência de dignidade, a malandragem a baixeza é um comportamento indigno, Sr. Crivella que falta de caráter a que ponto a politica chegou!

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  2. Falta de caráter é o que essa mulher tem. O filho dela já deu uma declaração dizendo que a mãe nunca foi embriagada por ninguém da equipe do Crivella! Fazem de tudo para queimar o cara, impressionante!

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