terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Itaquerão: operador trabalhava há 18 dias sem folga

Edição/247 Fotos: Reprodução | Agência Brasil:
Todos sabem que a pressa é inimiga da perfeição, mas relatório do Ministério do Trabalho aponta que era assim que se trabalhava no canteiro de obras do estádio do Itaquerão; construtora de Marcelo Odebrecht levou operador do guindaste que se acidentou, causando duas mortes, estar trabalhando pelo 18º dia consecutivo quando peça gigante que estava sendo içada caiu; pressão sobre os trabalhadores tende a continuar na retomada das obras para cumprir prazo de inauguração em abril, como quer a Fifa; isso não tem nada a ver com Deus ou Alá, mr. Joseph Blatter, mas com irresponsabilidade versus condições de
O relatos de que as obras no estádio do Itaquerão, do Corinthians, em São Paulo, eram tocadas num ritmo excessivamente rápido ganharam mais um elemento de consistência. “Devido à rapidez da obra, todo o dia aqui tem duas horas extras por dia”, disse o superintendente do Ministério do Trabalho em São Paulo, Luiz Antônio Medeiros. Ele afirmou que o operador do guindaste que içava a peça gigante que caiu, causando duas mortes, estava trabalhando pelo 18º dia consecutivo no momento do acidente. “Achamos que há exaustão para uma pessoa que opera um mecanismo tão delicado”, completou.

Nada indica, porém, que após a liberação completa da obra, ainda sem data prevista, o ritmo da construção seja retomado em padrões normais. A construtora Odebrecht comprometeu-se com a Fifa em entregar o estádio do Corinthians até o mês de abril, a tempo de manter-se como sede da abertura da Copa do Mundo de 2014. O presidente da Fifa, Joseph Blatter, disse que irá apelar para “Deus e Alá” para que o prazo seja cumprido.

O problema é que Deus e Alá nada tem a ver com isso. Se a construtora presidida por Marcelo Odebrecht não aliviar, efetivemente, a pressão sobre os trabalhadores, o risco continuará sendo maior. Como se sabe, não há milagres no setor de construção civil.

Abaixo, notícia da Agência Brasil a respeito:



Operador de guindaste no Itaquerão trabalhava há 18 dias seguidos, aponta ministério

Camila Maciel
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – O Ministério do Trabalho e Emprego informou que José Valter Joaquim, operador do guindaste que tombou no último dia 27 no estádio do Corinthians, trabalhava há 18 dias seguidos, tendo cumprido horas extras diariamente nesse período. Na avaliação do superintendente do ministério em São Paulo, Luiz Antonio Medeiros, embora seja legal o cumprimento de duas horas a mais de trabalho por dia, é necessário limitá-las especialmente nos casos em que o estresse do trabalhador possa representar risco à segurança. O acidente provocou a morte de dois operários.

“Devido à rapidez da obra, todo o dia aqui tem duas horas extras por dia. Estava conversando com a Odebrecht [construtora responsável pela obra] no sentido de dar uma limitada nisso”, declarou Medeiros, após fazer uma vistoria no estádio na manhã de hoje. Ele esclareceu ainda que o trabalho por um período ininterrupto é legal. “Não sei o que a empresa combinou com eles [funcionários], se esses 18 dias eram compensados, banco de horas, não sei, mas achamos que há exaustão para uma pessoa que opera um mecanismo tão delicado”, disse.

O operador de guindaste é funcionário da Locar, empresa contratada pela Odebrecht para operar esse tipo de equipamento. A reportagem telefonou para a assessoria de imprensa externa da terceirizada por meio do número informado pela própria empresa, mas não conseguiu retorno até o momento.

Em nota, a Odebrecht informou que, no período relatado pelo ministério, o operador do guindaste ficou, na maior parte do tempo, em área designada aguardando a liberação da peça para o içamento. A construtora destacou que o equipamento foi contratado para manobrar as peças da estrutura metálica de cobertura da arena e que esses trabalhos nunca são contínuos.

Durante a vistoria, a superintendência iniciou a inspeção dos nove guindastes que foram interditados pelo órgão um dia depois do acidente. Os testes incluem, por exemplo, a verificação do peso suportado pelo equipamento. “A máquina levantou 10 toneladas, então queremos ver se os relógios estão marcando exatamente esse valor”, explicou. A equipe do ministério chegou ao local por volta das 9h30 e, até as 14h30, quatro guindastes haviam sido vistoriados. O balanço da inspeção será divulgado ao final do dia.

A expectativa é que até o dia 16 todas as máquinas estejam liberadas, inclusive a grua quebrada, que ainda está no local. Medeiros informou que, além da liberação dos equipamentos, a Odebrecht deverá firmar uma acordo com o ministério sobre horas extras, condições de trabalho e segurança. “Para nós termos a garantia de que nada vai ocorrer no futuro. A empresa vai ter que assinar um compromisso conosco”, disse o superintendente.

A construtora prepara o plano que indicará como será retirada a peça da cobertura que tombou no dia do acidente e destruiu cerca de 10% do estádio. “Nós temos especialistas fazendo estudos para a remoção daquela peça de 420 toneladas. É um processo que envolve uma técnica apurada. É um documento que está em elaboração e assim que concluirmos vamos apresentar aos órgãos competentes”, explicou o gerente comercial da Odebrecht, Ricardo Carragio.

O mesmo documento foi solicitado pela Defesa Civil, que interditou a área do acidente, para autorização de obras emergenciais no local. Enquanto isso, a empresa não pode dar continuidade às obras. As atividades nas demais áreas foram retomadas no dia 2. “Trata-se de um plano que traga segurança para a mão de obra, porque desmontar uma máquina dessa não é fácil. Pode ter acidente ou alguma coisa. Temos que ter um plano aprovado também pelos técnicos do MTE”, explicou Medeiros. O plano de remoção do guindaste, por sua vez, já foi entregue e aguarda avaliação dos técnicos do MTE.

O Itaquerão, como é conhecido, sediará a abertura da Copa do Mundo de 2014 e mais cinco jogos da competição, em junho do próximo ano. Antes do acidente, a previsão para finalização do estádio era dezembro deste ano. A entrega ficou para abril de 2014.

Fonte: Brasil 247

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