quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Tremembé, cidade do interior paulista, à espera de mensaleiros

Expectativa é recepcionar ex-ministro José Dirceu e condenados pelo STF no mensalão


Notável. A fachada da Penitenciária José Augusto César Salgado: nas celas estão ou já estiveram criminosos que ficaram famosos pela repercussão dos casos em que se envolveram
Foto: O Globo / Marcelo Piu
Notável. A fachada da Penitenciária José Augusto César Salgado: nas celas estão ou já estiveram criminosos que ficaram famosos pela repercussão dos casos em que se envolveramO Globo / Marcelo Piu
SÃO PAULO - Cidade pequena encravada na região do Vale do Paraíba, no interior de São Paulo, Tremembé já vive as expectativas de ser o provável destino dos mensaleiros, como está sendo chamada a turma liderada pelo ex-ministro José Dirceu, condenada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) durante o julgamento do mensalão. Pelo menos é nisso que os moradores do município apostam. Eles dão como certo que o núcleo com residência em São Paulo vá cumprir pena na Penitenciaria José Augusto César Salgado, uma das quatro unidades de um complexo de presídios que abriga mais de 1.600 presos. Com uma característica: são levados para lá todos os condenados que viraram celebridade pela repercussão dos seus crimes.

Estão ou estiveram por lá presos do calibre de Florisvaldo de Oliveira, o cabo Bruno, ex-policial militar famoso nos anos 80; o chinês Law Kin Chong, empresário acusado de ser um dos maiores contrabandistas brasileiros; o ex-vereador Vicente Benedicto Viscome, ex-vereador de São Paulo, da máfia dos fiscais que agia na prefeitura de São Paulo; os irmãos Cristian e Daniel Cravinhos de Paula e Silva, do Caso Richthofen; Lindemberg Alves Fernandes, acusado da morte de Eloá Cristina; Alexandre Alves Nardoni, acusado da morte da filha Isabella Nardoni; e o jornalista Pimenta Neves, condenado pelo assassinato da namorada e também jornalista, Sandra Gomide.
— Esperamos que eles venham mesmo para cá, mas ainda não sabemos quando. É preciso o STF expedir os mandados de prisão primeiro — disse um agente penitenciário, que pediu para não ser identificado.
O P-II de Tremembé, como a penitenciária é conhecida, fica numa região isolada do município, cercado de grades e muito verde. Dentro dele estão atualmente 119 presos em regime semiaberto e 410 cumprindo regime fechado. Há campos de futebol, biblioteca com mais de seis mil títulos, salão para jogos, incluindo um concorrido campeonato interno de xadrez, uma igreja ecumênica e uma horta, com plantio de mudas de árvores nativas da região para reflorestamento. A comida é feita na própria cela, e as visitas acontecem aos sábados e domingos.
— Só há uma exceção. Nos primeiros dez dias, o preso pode receber visita de parentes ou advogados em qualquer dia. Depois, só no fim de semana — informou um funcionário do presídio.
Enquanto José Dirceu e seus companheiros não chegam, Tremembé segue sua rotina. A cidade acaba de completar 116 anos com o status de estância turística, distinção incluída ao nome oficial do município após manobra política em dezembro de 1993. Aliado dos ex-governadores de São Paulo Orestes Quércia e Luiz Antônio Fleury Filho, lideranças nacionais do PMDB durante anos, o então prefeito Messias Paredão Nascimento Lima incluiu no Diário Oficial a nomeação de Tremembé como uma das mais de 40 cidades-estância do estado. Messias foi cassado um ano depois, suspeito de irregularidades na instalação de um quiosque na principal praça da cidade.
— A cidade deve muito ao prefeito Paredão. Como estância, o município recebe royalties de R$ 2, 5 milhões do Departamento de Apoio às Estâncias Turística — disse Fátima Leite, chefe de gabinete do atual prefeito, José Antonio de Barros Neto, que, de férias, foi passar uns dias em Las Vegas, após indicar um sucessor e perder as eleições.
Quem se elegeu foi Marcelo Vaqueri (PSB), mas na coligação de José Antonio estavam siglas de peso: PT, PMDB e PTB.
Tremembé, assim como os hóspedes ilustres que acolhe no presídio, passou por crises e teve três prefeitos cassados. O último foi Mário Carneiro Leão, deposto pela Câmara por suspeita de corrupção. Foi uma decepção. Os cerca de 46 mil habitantes (22 mil são eleitores) se encantaram quando ele lançou sua candidatura. Era uma espécie de Collor do interior paulista: foi eleito com maioria esmagadora de votos em 1997 depois de arrancar suspiros das meninas e cativar os mais velhos com palavras bonitas e promessas de modernidade.
Um ano depois quase foi parar num dos quatro presídios onde agora é esperado José Dirceu. Foi cassado sem completar um ano no cargo. Chegou a ficar detido, mas escapou da condenação e do presídio. Foram tantas denúncias que Carneiro Leão deixou a cidade, onde ainda vive sua família.

Fonte: O Globo

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