sábado, 24 de novembro de 2012

Caso Bruno: Macarrão é condenado por homicídio de Eliza Samudio, e ex-namorada do goleiro, por sequestro

Ele foi condenado a 15 anos de prisão; já Fernanda, a cinco anos em regime aberto

Luiz Henrique Romão, o Macarrão, conversa com seus advogados antes do quinto dia de julgamento
Foto: Fabiano Rocha / Extra
Luiz Henrique Romão, o Macarrão, conversa com seus advogados antes do quinto dia de julgamentoFabiano Rocha / Extra
CONTAGEM E RIO — Após cinco dias, a primeira fase do julgamento envolvendo o goleiro Bruno Fernandes, ex-capitão do Flamengo, terminou na noite desta sexta-feira com a condenação dos réus Luiz Henrique Romão, o Macarrão, e Fernanda Gomes de Castro, ex-amante do jogador, pelo Tribunal do Júri de Contagem, na região Metropolitana de Belo Horizonte. O conselho de sentença, formado por seis mulheres e um homem, acolheu parcialmente a denúncia do Ministério Público (MP) de Minas Gerais e condenou os dois por cinco crimes. Apontado como protagonista da trama, Macarrão foi condenado por sequestro, cárcere privado e homicídio triplamente qualificado da modelo Eliza Samudio. Mas foi poupado da acusação de ocultação de cadáver. Ele pegou 15 anos de prisão. Fernanda foi sentenciada por cárcere privado e sequestro da modelo e de Bruninho, filho de Eliza com o jogador Bruno. Ela foi condenada a cinco anos em regime aberto. No fim da leitura da sentença, o advogado de Macarrão, Leonardo Diniz, disse que vai recorrer da decisão.


Em demonstração de frieza, Macarrão sorriu várias vezes durante o julgamento e não reagiu ao ouvir a sentença estipulada pela juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues. A pena base de Macarrão foi de 20 anos, mas a condenação foi reduzida para 12 anos, devido às circunstâncias atenuantes, por ter confessado parcialmente sua participação no crime. Com a pena de sequestro, foram acrescidos outros três anos. A pena de Macarrão será cumprida na Penitenciária Nelson Hungria, onde o réu já está preso. Com uma bíblia no colo, Fernanda Gomes, que estava respondendo o proceso em liberdade, chorou. Os jurados demoraram três horas para decidir o destino dos dois réus. Reunidos em uma sala reservada, eles responderam a um questionário com 19 quesitos.
— Infelizmente todos os réus ainda não foram julgados como queríamos. Não há vitória, porque uma pessoa morreu, mas o resultado foi conforme o esperado — disse o promotor Henry Wagner Vasconcelos, encarregado da acusação.
Munido de provas técnicas e depoimentos de testemunhas, o MP conseguiu provar a participação direta deles no desaparecimento e morte de Eliza, ocorrido em 10 de junho de 2010, mesmo sem ter encontrado vestígios do cadáver. Sentada na primeira fila, Sônia Fátima de Moura, mãe da vítima, assistiu ao julgamento ao lado de familiares. Segundo o MP, Bruno desembolsou R$ 5 mil para bancar a morte de Eliza. Durante debate entre defesa e acusação, o promotor afirmou ainda que o valor supostamente pago pelo crime demorou a ser quitado devido a um atraso no pagamento do salário de Bruno pelo Flamengo.
Devido a uma série de manobras jurídicas, os réus Bruno Fernandes; Marcos Aparecido dos Santos, o Bola; Dayanne Rodrigues, mãe de duas filhas do jogador; Elenilson Vítor da Silva, administrador do sítio de Esmeraldas; e Wemerson Marques de Souza, o Coxinha, serão julgados em 4 de março de 2013.
Quase nove horas de debate
O quinto dia do júri começou com duas horas e meia de atraso. O promotor de Justiça Henry Wagner Vasconcelos falou por quase quatro horas. Para ajudar no convencimento dos jurados, Wagner Vasconcelos exibiu pertences de Eliza, entre eles uma agenda com fotos de Bruninho, encontrada parcialmente queimada no sítio de Esmeraldas, onde a vítima ficou mantida em cárcere privado antes de ser assassinada com requintes de crueldade. Com o processo na mão, mostrou ainda quebras de sigilos telefônicos que fundamentaram o processo de 15 mil páginas.
— A Eliza foi morta por motivo torpe, repugnante. O Macarrão articulou e controlou todos os acontecimentos — realçou o promotor, em sua sustentação oral.
Segundo Wagner Vasconcelos, três fatores foram essenciais para o esclarecimeto do crime: o bebê ter sido encontrado, a perícia na Land Rover e o trabalho da polícia na fase de investigação. Bruninho foi localizado de madrugada na casa de Dayanne, em Ribeirão das Neves, terra natal de Bruno. No veículo importado, foi encontrado vestígios de sangue da vítima, de acordo com perícia. Eliza foi agredida com três coronhadas na cabeça pelo primo do jogador, que portava uma pistola 380. Em sua sustentação, Wagner Vasconcelos chamou Macarrão de “facínora” e Fernanda de “crápula” e “dissimulada”. Classificou os advogados de defesa de “calhordas” e “mentirosos”. Nominalmente, citou o ex-defensor de Bruno, Ércio Quaresma, a quem chamou de “antiético”, e o acusou de ter coagido testemunhas para beneficiar o ex-goleiro do Flamengo. De acordo com ele, Bruninho só não foi morto também porque Bola não topou.
— Até o Bola, um matador profissional, tem a sua ética. Ele não quis matar a criança como queria o Bruno — declarou.
Segundo a acusação, Eliza foi morta por Bola por estrangulamento. Em seguida, seu corpo foi esquartejado e, segundo depoimento do menor primo do goleiro, teve uma de suas mãos jogadas para cães da raça rottwailer.
Na madrugada de quinta-feira, Macarrão já havia confessado parcialmente sua participação no crime. Pela primeira vez, admitiu o assassinato e, de forma surpreendente, responsabilizou Bruno pelo desaparecimento e morte de Eliza. Para o promotor, a atitude só foi tomada por que ele foi rejeitado pelo jogador:
— Nós não precisávamos da confissão de Macarrão, apesar de ela ter sido relevante. Nós temos provas. Mas com o depoimento do Macarrão nós temos a afirmação que o mando partiu de Bruno. O Bruno que não queria pagar pensão e aluguel. Envolveu as mulheres, os amigos, os primos, os carros, os imóveis.
Durante o debate, o advogado de Macarrão, Leonardo Diniz, chamou Eliza de “pirracenta” e ironizou:
— Sequestro assim até eu queria. Um sítio lindo daqueles.
Mais cedo, o advogado do ex-funcionário do goleiro Bruno pediu uma “pena justa” para o cliente. Segundo o advogado, Macarrão não participou do assassinato.
— Que essa reprimenda seja justa. Que o Luiz Henrique seja absolvido do crime de sequestro, seja ainda absolvido do crime de ocultação de cadáver. Ele não participou do assassinato. Quero que vossas excelências analisem a relação entre um serviçal e um ídolo de futebol — disse Diniz, ao encerrar sua argumentação na tarde desta sexta-feira no Fórum Pedro Aleixo, em Contagem.
Carla Silene, advogada de Fernanda, também falou. Ela afirmou que queria provas da participação de Fernanda na morte de Eliza Samudio. Além disso, disse que a cliente não participou de nenhum sequestro e cárcere privado, pedindo sua absolvição.
Após os discursos dos advogados de Macarrão e Fernanda, o promotor pediu a réplica.
— O réu Macarrão confessou porque barca furada em qualquer porto atraca. Ele é um dos co-articuladores desse crime — disse Wagner Vasconcelos. — A confissão tem um papel legal devidamente definido, que é redução de pena, mesmo que seja uma confissão parcial. Macarrão merece redução da pena. Ele não tem como escapar da condenação. A confissão de Macarrão foi inteligentemente planejada.
Advogado de Macarrão questiona credibilidade
Durante seu primeiro discurso, o advogado de Macarrão pediu aos jurados o “afastamento dos boatos”. Ele questionou a credibilidade das provas apresentadas pela acusação:
— Será que realmente as provas que estão ali não tiveram nenhuma alteração? A prova é frágil, decorrente de vício e mácula. Ao acusador, compete o ônus da prova.
Ele ressaltou os laços de amizade entre Macarrão e Bruno, lembrando como eles se conheceram e como o amigo ajudou Bruno a seguir carreira no esporte:
— Que garoto não tem o sonho de ser jogador de futebol? É nesse contexto que se insere o Luiz Henrique. Em Ribeirão das Neves, ainda pequeno, engrossava as peneiras de campos de futebol. Ele sonhava em ser goleiro. Até conhecer um tal de Bruno Fernandes. Naquele momento de amizade, os dois tinham um sonho: ser jogador de futebol, uma celebridade. Eles cresceram juntos. O Luiz se manteve no futebol, o Bruno desistiu da carreira. Mas a amizade é muito forte, e o Luiz Henrique fez Bruno voltar. Bruno virou goleiro do Atlético. Com sucesso do amigo, surge uma admiração, uma idolatria. Depois Bruno foi para o Corinthians, Flamengo, e aí já estava estourado para o futebol.
Diniz disse que Macarrão era alvo de ciúmes dos dois primos de Bruno: Sérgio Rosa Sales e o então menor J.
— Macarrão passou a controlar as despesas do Bruno, gerir suas contas, conquistando a antipatia de seus dois primos. Foi criado um ranço entre eles — afirmou o advogado.
Segundo Diniz, Macarrão ainda tentou evitar o crime:
— O Macarrão disse para o Bruno: “vai acabar com a sua carreira". Mas o Bruno disse: “é para fazer, eu estou mandando”. Aí, ele se submete, adere a essa vontade. Sai, pega Eliza e leva até o lugar combinado, ela achando que iria ao apartamento do Bruno.
Já o promotor, durante a argumentação, relatou o depoimento de J., primo de Bruno que era menor na época do crime e hoje integra um programa de proteção a testemunhas, para sustentar a acusação.
— Na hora em que Macarrão falou que Bruno era um babaca eu rendi ela (sic). Foi tudo combinado. Eu rendi a Eliza com a arma, aí ela tentou pular do carro em movimento, porque o Macarrão esqueceu de fechar. Daí nessa hora eu dei três coronhadas na cabeça dela — disse Wagner Vasconcelos, lendo o depoimento de J. aos jurados.
O promotor afirmou que a modelo foi atraída pela proposta "hipócrita" de Bruno, transmitida por Macarrão, que ele chamou de "faz-tudo". Wagner Vasconcelos mostrou aos jurados os registros de ligações telefônicas feitas e recebidas pelo celular de Macarrão. Segundo ele, em uma delas, registrada em 4 de junho, às 20h20m, Macarrão fez uma proposta a Eliza para que ela fosse ao encontro do goleiro, que estava concentrado no Flamengo. O promotor relatou que Bruno ameaçava Eliza enquanto a manteve em cativeiro:
— Depois que ela foi levada a cativeiro, Bruno a advertiu expressamente a não procurar a polícia, pois se ela o fizesse, ele a mataria e providenciaria a morte de seus amigos e de seus parentes.
Para o promotor de Justiça, Fernanda Gomes de Castro já sabia que a ex-amante do goleiro seria sequestrada. Segundo o Wagner Vasconcelos, Fernanda fez várias ligações para Luiz Henrique Romão, o Macarrão.
— Não consigo entender como uma mulher consegue verter tantas lágrimas hipócritas — disse o promotor, que ainda questionou o fato de Fernanda ter tomado conta do filho de Eliza. — Somente uma mulher gravemente lesionada poderia entregar os cuidados do próprio filho para uma mulher desconhecida e rival amorosa.
O promotor disse acreditar que, com as condenações, Eliza poderá ser sepultada, ainda que simbolicamente. Ele terminou pedindo a condenação de Macarrão e Fernanda:
— Sei o que um rapazinho da periferia sonha em ser, porque nasci na periferia e vi o chão batido. Esse julgamento é simbólico, um espelho para a sociedade. Esses rapazes não podem achar que ganhando dinheiro e fama podem matar e esconder o corpo de uma vítima sem serem responsabilizados por isso. O Macarrão chutou a perna de Eliza para viabilizar a morte dela mais rapidamente, ele é um facínora. Excelências, peço a vocês justiça, peço que vocês condenem Macarrão e Fernanda pela morte de Eliza. Apesar de termos um homicídio sem corpo, temos provas. A ausência de corpo comprova o quarto crime: ocultação de cadáver. Peço justiça, hoje essa conta tem que começar a ser paga.
Após boato da morte de Bruno, juíza proíbe jornalistas no plenário
O quinto dia de julgamento começou com atraso porque o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJ-MG) teve de instalar um sistema de som na sala de imprensa do Fórum Pedro Aleixo, em Contagem, Região Metropolitana de Belo Horizonte, para que os jornalistas pudessem acompanhar a sessão, que estava prevista para começar às 9h. A medida foi tomada porque a juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues proibiu a entrada e saída de jornalistas no plenário enquanto defesa e acusação estiverem em debate.
A justificativa da magistrada para proibir a imprensa no plenário foi o tumulto provocado nesta quinta-feira pela entrevista do novo advogado do goleiro Bruno Fernandes, Luiz Adolfo Silva, que divulgou e logo depois desmentiu a versão de que o atleta teria sido encontrado morto na penitenciária Nelson Hungria. O boato foi espalhado enquanto a ré Fernanda Gomes de Castro, ex-namorada do jogador, estava sendo interrogada.
Depois que acusação e defesa apresentarem suas alegações, o conselho de sentença se reunirá para decidir se os réus serão condenados ou absolvidos. Macarrão responde por homicídio triplamente qualificado, sequestro e cárcere privado e ocultação de cadáver. Já a ex-namorada do goleiro Bruno Fernandes é acusada de sequestro e cárcere privado de Eliza e do filho dela.


Luiz Henrique Romão, o Macarrão, conversa com seus advogados antes do quinto dia de julgamentoFabiano Rocha / Extra
CONTAGEM E RIO — Após cinco dias, a primeira fase do julgamento envolvendo o goleiro Bruno Fernandes, ex-capitão do Flamengo, terminou na noite desta sexta-feira com a condenação dos réus Luiz Henrique Romão, o Macarrão, e Fernanda Gomes de Castro, ex-amante do jogador, pelo Tribunal do Júri de Contagem, na região Metropolitana de Belo Horizonte. O conselho de sentença, formado por seis mulheres e um homem, acolheu parcialmente a denúncia do Ministério Público (MP) de Minas Gerais e condenou os dois por cinco crimes. Apontado como protagonista da trama, Macarrão foi condenado por sequestro, cárcere privado e homicídio triplamente qualificado da modelo Eliza Samudio. Mas foi poupado da acusação de ocultação de cadáver. Ele pegou 15 anos de prisão. Fernanda foi sentenciada por cárcere privado e sequestro da modelo e de Bruninho, filho de Eliza com o jogador Bruno. Ela foi condenada a cinco anos em regime aberto. No fim da leitura da sentença, o advogado de Macarrão, Leonardo Diniz, disse que vai recorrer da decisão.

Fonte: O Globo

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