sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Setor de serviços corre risco de sofrer apagão de mão de obra

Especialistas dizem que capacitação profissional não atende às necessidades do mercado

RIO - Um dos estados que mais cresce no país e palco da final da Copa de 2014 e das Olimpíadas 2016, o Rio de Janeiro precisa investir em treinamento profissional se não quiser sofrer as consequências de um apagão de mão de obra no setor de serviços nos próximos anos. O alerta é do professor Lívio Giosa, autor do livro "O Brasil profissional: a hora e a vez da competência".
— A situação é ainda mais preocupante do que na indústria — afirma o especialista, que falará sobre o assunto nesta sexta-feira, durante o II Congresso Nacional de Terceirização e Gestão de Serviços (Conterge), na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro.
Giosa explica que o setor de serviços demanda uma mão de obra diversa, com vários tipos de especializações, mas, devido à baixa qualidade do ensino de base no Brasil, a capacitação profissional não corresponde às necessidades do mercado. Enquanto na indústria boa parte dos investimentos é destinada à tecnologia, no setor de serviços, o gasto com mão de obra chega a 70% da receita, mas nem sempre os profissionais são capazes de atender à demanda do mercado. E lembra que, neste segmento, a composição de atividades se baseia em pessoas. Para se ter uma ideia, diz, uma grande empresa de serviços tem cerca mil funcionários:
— O Rio de Janeiro e o Nordeste estão se desenvolvendo muito mais rapidamente do que o restante do país. Nos próximos anos, o Rio receberá eventos internacionais, por isso, as empresas precisam investir em treinamento para que sejam bem vistas pelos turistas. Tudo isso para que não se repita o que ocorreu com Atenas, que recebeu os Jogos Olímpicos de 2004 e não reverteu os investimentos feitos em benefício próprio. É imprescindível que se tome providências em relação à infraestrutura e ao atendimento.
Outro problema que o setor enfrenta é escassez de profissionais fluentes em outros idiomas, principalmente o inglês. Segundo Adalberto Santos, diretor de empresas de RH e Trabalho Temporário da Associação de Empresas Prestadoras de Serviços do Estado do Rio de Janeiro (Aeps-RJ), é importantíssimo que quem trabalha com público tenha o domínio de um segundo idioma, especialmente diante da realização desses eventos internacionais no estado.
Segundo Adalberto, as profissões mais requisitadas neste cenário de crescimento econômico do estado e, especialmente, antes e durante os eventos internacionais — e que enfrentam maior risco de apagão de mão de obra — são justamente aquelas ligadas a atendimento ao cliente de uma forma em geral, como hotelaria, vendas e atendimento em bares e restaurantes:
— Mas é na área de vendas que se escuta mais reclamações de falta de mão de obra especializada. Vender é uma arte e, para isso, não basta saber falar uma segunda língua. Tem que saber se comunicar. E quem mais perde com um mau atendimento no comércio é o próprio empreendedor.
Adalberto lembra que o salário de um vendedor pode chegar a R$ 1,5 mil ou mais, dependendo do desempenho. Já quem trabalha com atendimento em lojas e restaurantes ganha entre R$ 800 e R$ 1,3 mil. As remunerações, no entanto, podem ficar maiores conforme o profissional vai se aperfeiçoando.
— Para o empregador, é imprescindível investir em treinamento e, assim, manter o alto nível de atendimento. Mas, tendo em vista os eventos que o Rio de Janeiro receberá nos próximos anos, seria interessante mesmo a criação de cursos voltados para o atendimento ao público na área técnica — ressalta Adalberto.
Segundo ele, aqueles que querem entrar para este mercado precisam, antes de mais nada, se qualificar, através de cursos específicos e técnicos, dominar um outro idioma, no mínimo o inglês, e analisar este momento não como passageiro, mas sim como uma chance de aprimoramento e formação de carreira.
— Quem trabalha na área de serviços deve perceber que não exerce uma função passageira, mas que pode evoluir e construir uma carreira de sucesso no setor — afirma o diretor da Aeps-RJ, lembrando que o setor de serviços é o que mais gera empregos, seguido por comércio.
Alguns números do setor:
Terceirização - No Brasil, 32,5 mil empresas atuantes nos segmentos de prestação de serviços especializados geram empregos diretos e indiretos e contribuem para reduzir a informalidade. Estima-se que, atualmente, 10 milhões de trabalhadores sejam terceirizados, ou seja, contratados por uma empresa que presta serviço para outra ou para o estado.
Empregos - O setor de Serviços é o que mais gera empregos formais no país (15,3 milhões de trabalhadores, ante o total de 46,3 milhões formais). Em segundo lugar vem comércio, com um total de 8,8 milhões de trabalhadores empregados.
Crescimento - Entre 2010 e 2011, o setor de serviços foi o que apresentou mais crescimento absoluto, trazendo para o mercado formal de trabalho (com carteira assinada) 1 milhão de novos trabalhadores. (Dados da Rais)

Fonte: O Globo

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