quarta-feira, 13 de junho de 2012

Tropa de choque comandada pelo PSDB protege Perillo na CPI

Relator diz que governador de Goiás estava ali como investigado, não testemunha


Tucanos se revoltam contra Odair Cunha quando o relator pede quebra de sigilo de Marconi Perillo
Foto: O Globo / André Coelho

Tucanos se revoltam contra Odair Cunha quando o relator pede quebra de sigilo de Marconi PerilloO Globo / André Coelho
BRASÍLIA - A tropa de choque do PSDB, com apoio de PPS, DEM e o silêncio do PMDB, foi para o depoimento do governador tucano Marconi Perillo, na CPI mista de Carlinhos Cachoeira preparada para a guerra e protagonizou momentos tensos nas mais de nove horas da sessão. O clima azedou quando o relator da comissão, o petista Odair Cunha (MG), pediu para Perillo abrir seu sigilo bancário.

Para piorar a situação, Odair disse que o governador tucano estava ali como investigado, embora tenha sido convocado como testemunha. Tucanos e aliados reagiram aos berros, com dedos em riste e acusações de que o relator, que estava calmo na primeira fase do depoimento, tinha recebido orientação do ex-presidente Lula para endurecer.
— Não é de hoje que venho denunciando a eloquência com que o relator direciona para interesses de seu partido, para não dizer do ex-presidente Lula. Ele levou um puxão de orelhas de alguém lá de fora, por isso voltou assim — berrou o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP).
— Por que essa vontade apressada de investigar o PSDB? Temos de nos aviltar. Vossa Excelência não sabe a diferença entre investigado e testemunha! — completou o tucano.
O relator reagiu:
— Ele compareceu como testemunha numa investigação que estamos fazendo sobre Goiás e o Distrito Federal. Há seis pessoas do governo dele citadas nas investigações. É com base nisso que estamos inquirindo!
O presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), tentou acalmar os ânimos. Pediu silêncio, mas os gritos eram mais fortes. Quando a situação voltou a uma calma relativa, outro bate-boca teve início. Dessa vez, coube ao deputado Luiz Sérgio (PT-RJ) intervir. O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) havia pedido para falar, mas prolongava sua intervenção, no que Luiz Sérgio protestou.
Foi o estopim para outro arranca-rabo. O senador Mario Couto (PSDB-PA), que nem pertence à CPI e é conhecido por bater na mesa e discursar aos berros, subiu o tom e disse que o colega podia falar quanto quisesse.
— Calado! —protestou Luiz Sérgio.
— Não é no grito. Quietinho! — insistiu o petista.
— Eu sou macho! — contra-argumentou Couto.
— Normalmente, os que gritam que são machos... — interveio Luiz Sérgio, em tom jocoso, sem terminar a frase.
Embora Perillo buscasse demonstrar tranquilidade, o clima foi tenso entre os parlamentares, sobretudo entre tucanos e petistas. Os tucanos compareceram em peso, incluindo parlamentares que nem são da CPI, como o primeiro-secretário do Senado, Cícero Lucena (PB), os senadores Aécio Neves (MG) e Flexa Ribeiro (PA), e vários deputados.
Aiança informal entre tucanos e peemedebistas

Os tucanos contaram com o apoio discreto do PMDB. Uma aliança informal entre os dois partidos foi feita para tentar evitar maiores desgastes de Perillo na CPI. A ação entre tucanos e peemedebistas garantiu que Vital do Rêgo comandasse a sessão para desfazer a hegemonia petista no palco principal da CPI, e também assegurar uma postura serena de peemedebistas na comissão, sem questionamentos constrangedores a Perillo.
A junção de forças dos dois partidos começou a ser desenhada quando o PT passou a apoiar a quebra do sigilo da Delta nacional, causando a irritação de peemedebistas, que acreditam que as informações derivadas daí podem respingar em contratos com o governo do Rio de Janeiro.
Peemedebistas se queixam do tratamento recebido pelo governo, que contribui para aprofundar a distância entre PMDB e PT na CPI.
— Desde o início, ficamos de fora porque não queremos servir ao PT nesta CPI, que está obcecado em desqualificar o mensalão, por meio da imprensa e do Ministério Público — afirmou ao GLOBO um cacique da legenda.
Vital do Rêgo, que estava de licença médica devido a um cateterismo pelo qual passou recentemente, foi acionado na segunda-feira pela cúpula do PMDB para que estivesse presente ao depoimento.
No depoimento desta quarta-feira, o PMDB não vai estender a mão ao governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT). O partido, no entanto, tampouco pretende bombardeá-lo, o que seria “passar recibo”, nas palavras de um peemedebista. Petistas na CPI já acusaram o golpe e temem os resultados da sessão em que o governador do DF será ouvido.

Fonte: O Globo

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