GOIÂNIA - O Ministério Público Federal diz acreditar que o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, seja condenado a mais de 20 anos de prisão, e que isso aconteça até o final de agosto. O julgamento está na fase final. Nesta terça-feira, o juiz Alderico Rocha Santos, substituto da 11ª Vara Federal de Goiás e responsável pelo processo, interrogou as primeiras testemunhas do caso — dois agentes da Polícia Federal que participaram das investigações da Operação Monte Carlo, deflagrada em 29 de fevereiro. Durante a sessão, advogados de defesa tentaram dificultar o andamento dos trabalhos, desqualificar as investigações da Polícia Federal e desferiram ataques à imprensa.
— As provas dos autos são robustas. O Ministério Público trabalha com a possibilidade de condenação superior a 20 anos — rebateu a procuradora Léa Batista Oliveira, no intervalo da primeira audiência.
Depois do interrogatório de testemunhas e réus, acusação e defesa terão dez dias para apresentar as alegações finais. Ao final do prazo, o juiz terá mais dez dias para concluir o processo e encerrá-lo. Cachoeira e mais sete cúmplices são acusados de corrupção de agentes públicos e formação de quadrilha armada, entre outros crimes. O bicheiro, cujo interrogatório está previsto para esta quarta-feira, deverá ser denunciado ainda por lavagem de dinheiro e evasão de divisas.
A relação entre Cachoeira e políticos, como o ex-senador cassado Demóstenes Torres e o governador de Goiás, Marconi Perillo, está sob investigação do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça.
A sessão de interrogatório das testemunhas começou em clima tenso, pouco depois das 9h. Alguns advogados reclamaram da segurança, dos jornalistas e do desmembramento do processo, que contava inicialmente com 81 acusados.
Durante o interrogatório do agente Fábio Alvarez Shor, testemunha do MP, Dora Cavalcanti e Ney Moura Teles, advogados de Cachoeira e do ex-vereador Wladmir Garcez, um dos oito acusados, tentaram apontar falhas formais no inquérito da Polícia Federal. Em nenhum momento, porém, os advogados rebateram o conteúdo da denúncia formulada por Léa Batista e pelo colega Daniel de Resende Salgado. A mesma estratégia foi usada com o segundo depoente, o agente da PF Luiz Carlos Pimentel.
Advogados querem anulação de provas
Para tentar justificar que Demóstenes Torres teria sido investigado ilegalmente e, por isso, o processo seria nulo, o advogado Moura Teles citou um diálogo de Demóstenes com Cachoeira sobre legalização dos jogos, cujo teor foi ouvido pelos agentes da PF. A citação serviu para insinuar que Demóstenes fora investigado indevidamente e, portanto, a denúncia não teria validade.— Esses diálogos foram extirpados do processo, mas o agente ouviu vários diálogos de Demóstenes e Cachoeira. Essa é a chave da nulidade desse processo — disse Teles.
O procurador Daniel Resende lembrou, então, que o diálogo faz parte da Operação Vegas, e não da Operação Monte Carlo, motivo do processo. O interrogatório das testemunhas foi acompanhado por Cachoeira e outros seis réus. O grupo é apontado como núcleo central da organização do bicheiro.
Nesta quarta-feira, os advogados tentarão retardar os interrogatórios dos réus. O MPF acredita que Cachoeira permanecerá calado. Numa rápida conversa com o juiz, o bicheiro provocou risos na plateia. Perguntado pelo magistrado se poderia ser chamado de Carlos Cachoeira, respondeu:
— Carlinhos Cachoeira.
Fonte: O Globo
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