Moradores da Vila Autódromo queriam ouvir explicações do
prefeito sobre projeto de remoção
Christina Nascimento
Rio - Terminou em confusão a reunião do prefeito Eduardo Paes, neste domingo,
com cerca de 250 moradores da Vila Autódromo, na Barra. O tumulto ocorreu porque
muitas pessoas da comunidade não conseguiram entrar no auditório, no Riocentro,
onde foi apresentado o plano de habitação para remoções. Só foram convidados
para o encontro famílias que residem nas ruas que terão desapropriações. Durante
bate-boca, uma pessoa teria cuspido no prefeito.
A proposta do município é levar as famílias que moram na beira da Lagoa de
Jacarepaguá, e nas áreas que darão acesso ao Parque Olímpico e a uma estação do
BRT Transolímpica, para o conjunto habitacional Parque Carioca, na Estrada dos
Bandeirantes, a um quilômetro da Vila. Mas a ideia, no entanto, é contestada.
“Não quero me mudar. Vai ser a terceira vez que isso acontece. Já
me tiraram da Ilha dos Caiçaras, no Leblon, na década de 60, e da Cidade de
Deus, por causa da Linha Amarela. Não aguento mais remoções. É preciso uma saída
para quem quer ficar ”, desabafou o presidente da Associação de Moradores da
Vila Autódromo, Altair Guimarães.
Manifestante enfrenta segurança exigindo entrar no auditório,
onde 250 moradores convidados escutavam as explicações do
prefeito
Foto: Maíra Coelho / Agência O Dia
Há pelo menos dois anos, moradores e prefeitura tentam entrar em
acordo sobre a necessidade de retirar famílias da comunidade. Para Fabrício
Leal, professor adjunto do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e
Regional, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o município deveria
investir na urbanização da Vila, e não fazer remoções. Uma das alegações é que a
restruturação do bairro ficaria muito abaixo dos R$ 105 milhões que serão
investidos para a construção do Parque Carioca.
“Elaboramos um plano junto aos moradores. Seriam necessários cerca de R$ 15
milhões para trazer melhorias de saneamento básico, pavimentação e em habitações
que estão em condições muito precárias. Isso tudo seria feito sem tirar ninguém
da comunidade”, afirmou Leal. Segundo a prefeitura, as famílias só serão
reassentadas quando os novos apartamentos estiverem prontos. A previsão é que
isso ocorra em fevereiro de 2014.
Prefeito apresentou plano de habitação para remoções na Vila
Autódromo
Foto: Maíra Coelho / Agência O Dia
Manifestantes temem vila fantasma
O receio de parte dos moradores é que, com as mudanças de famílias
para o conjunto popular, a Vila Autódromo se transforme num lugar abandonado.
Isso forçaria outras pessoas a aceitarem a proposta da prefeitura para se mudar
o que, a longo prazo, daria fim à comunidade.
“Já não temos infraestrutura aqui. Com menos gente, vai piorar muito”,
afirmou Pierre Braga, 34, que mora com a mulher e a sogra. O município informou
que oferece, além de apartamento no Parque Carioca, indenização para quem não
quiser ir morar no condomínio, que terá 900 apartamentos de dois e três
quartos.
O prefeito disse, em nota, que vem tentando o diálogo. “Temos nos reunido
para tentar um acordo. Por isso, hoje (ontem) convidamos famílias que vivem nas
áreas onde serão necessários reassentamentos, para explicar a proposta e propor
opções”, explicou.
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