segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Policiais são pegos em grampos ajudando traficantes de facção de SP

Escutas telefônicas mostram agentes colaborando em troca de propina.
MP cobra investigação; secretaria tenta identificar e punir culpados.

Gravações telefônicas autorizadas pela Justiça mostram policiais colaborando com traficantes de drogas de uma facção criminosa que age dentro e fora dos presídios paulistas em troca de propina. Os grampos foram solicitados pelo Ministério Público (MP) de São Paulo, que há três anos montou uma megaoperação para combater a quadrilha que também é responsável por orquestrar atentados contras as forças de segurança do estado. A informação foi divulgada nesta segunda-feira (14) pelo Bom Dia Brasil.

Nas interceptações telefônicas feitas em celulares, um criminoso que está nas ruas pergunta a um policial militar qual o valor da propina para soltar uma traficante presa na capital. Em outra conversa, um PM oferece ajuda para transportar a droga usando motos da própria corporação.

A Promotoria pretende enviar essas provas para a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP). O intuito dos promotores é o de que as corregedorias das policias Civil e Militar tentem identificar os policiais que foram flagrados conversando com os criminosos. Por meio de nota, a SSP informou que aguarda os relatórios do MP para que as corregedorias punam os culpados (leia a nota completa mais abaixo).

As escutas fazem parte de uma investigação sobre a quadrilha, que segundo o MP controla 90% dos presídios de São Paulo. No mês passado, os promotores denunciaram 175 acusados à Justiça e pediram o isolamento dos 35 principais chefes do bando no Regime Disciplinar Diferenciado (RDD). Todos os pedidos foram negados. O Ministério Público já entrou com recurso.
Numa das gravações feitas com autorização da Justiça um traficante da facção que atua nas ruas, indentificado como Boy, tenta negociar com um PM a libertação de uma traficante que foi presa dentro de um ônibus, na cidade de São Paulo, quando transportava cocaína para a quadrilha.

Boy: E aí? E a menina aí, tem ideia [propina] ou não?
PM: Não, ela já tinha sido presa já, né? Foi a Rocam [Ronda Ostensiva Com Apoio de Motocicletas] que pegou ela.
Boy: É?
PM: Alguém caguetou que ela tava dentro do busão.

As investigações revelam ainda que um policial militar usou um celular da corporação para conversar com o traficante. E que ele falava de dentro de uma delegacia do Morumbi, na Zona Sul da capital, onde localizou a mulher presa, a pedido da quadrilha. Na conversa o PM ainda ofereceu ajuda pra transportar drogas.

PM: Eu sou PM também, só que como eu..., a caminhada é outra, tem outra ideia pra trocar. Eu colei nela [na traficante], já sei que a lojinha [ponto de venda] é dela. E já deixei uma linha direta aí pra quando ela quiser fazer um transporte [de droga], fazer uma coisa segura e com quem confia entendeu?
Boy: Hã, hã...
PM: Tem os menino que trabalha com isso aí. É PM também. Vai de motinha. Entrega lá, recebe e vai embora.

As gravações registraram mais uma conversa do criminoso. Desta vez ele foi flagrado acertando o pagamento de propina para outro policial militar.

Carlão PM: E aí? To descendo aí
Boy: Tá bom, o menino tá lá [com o dinheiro] em frente onde eu fico lá, entendeu? De dia.
Carlão PM: Beleza, perto do mercadinho lá?
Boy: É.
Carlão PM: Beleza então.

Em outro grampo, um preso conhecido como Tuta, que é um dos chefes da quadrilha, é alertado sobre a movimentação da Força Tática da Polícia Militar, em torno de um ponto de venda de drogas. Quem o avisa é Boy, criminoso que atua nas ruas. As interceptações telefônicas foram feitas em celulares usados pelos policiais e bandidos. É de dentro dos presídios do interior paulista que os criminosos comandam o tráfico de drogas, por telefone celular.

Boy: Só tá meio estranho aqui com os fiscal [policiais] entendeu?
Tuta: Os caras de moto né?
Boy: De moto e daquela grande, sabe?
Tuta: Sei.
Boy: Daquela perua grande.
Tuta: Sei.
Boy: Então, ele não usa aquele boné. Usa aquele gorrinho
Na sequencia, Boy, o traficante solto, reclama que vinha pagando propina regularmente.
Boy: Eu passei para aqueles fiscal [PM] que nóis paga aqui, que é o seguinte: se eles não resolver esse negócio aí, não tem a mensalidade [propina] deles. Inclusive essa semana eu não mandei nada ainda, entendeu?

O que diz a SSP
Por meio de nota, a Secretaria da Segurança Pública (SSP), informou que o secretário da pasta, Fernando Grella, considera que "policial envolvido com criminoso não é policial, mas bandido. Deve ser expulso do serviço público e punido de acordo com seu crime. E que por determinação do secretário, as corregedorias das polícias Civil e Militar vão usar as informações obtidas pelo Ministério Público para apurar os fatos e punir os culpados. Para isso, a SSP aguarda o compartilhamento oficial do conteúdo da investigação, o que tem de ser feito por determinação judicial.” O processo corre em segredo de Justiça.

Fonte: G1

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