quinta-feira, 15 de agosto de 2013

'O que fizeram com o meu menino?', grita mãe em enterro de jovem na Zona Norte

Moradores denunciaram agressões de PMs da UPP do Parque Proletário, onde adolescente foi morto

Rio - O corpo de Laércio Hilário da Luz Neto, de 17 anos, foi enterrado na manhã desta quinta-feira, por volta das 11h30, no Cemitério de Irajá, na Zona Norte. O jovem foi encontrado morto, nesta terça-feira, na laje de uma casa vizinha no Parque Proletário, na Penha, também na Zona Norte. Não houve velório, o corpo foi levado do Instituto Médico Legal (IML) direto para o cemitério.
Enterro de jovem encontrado morto na Penha é marcado por protestos
Foto:  Estefan Radovicz / Agência O Dia

Cerca de 200 pessoas, entre familiares e amigos, estiveram presentes no enterro. Um grupo de 100 mototáxis da comunidade fizeram um pequeno protesto na porta do local. Eles gritavam palavras de ordem contra o governador Sérgio Cabral e a Polícia Militar.

"O que fizeram com meu filho? Quero abraçar, quero beijar meu menino", gritava a mãe de Laércio. O pai da vítima não quis falar nada a respeito.

Moradores denunciam de agressões de PMs na comunidade

Muitos familiares e colegas do jovem aproveitaram o momento do enterro para denunciar agressões sofridas por PMs da UPP do Parque Proletário. Amiga da família, Silvia Cristina, de 40 anos, relatou que todos sabiam que "mais cedo ou mais tarde outros moradores seriam assassinados pela polícia".

"A forma como estamos sendo tratados na comunidade não deixa margem de que se algo não for feito, outros morrerão", afirmou. 

Segundo o presidente da Associação de Moradores do Parque Proletário, Celso de Sousa Campos, conhecido como Binha, Laércio desapareceu às 20h de segunda-feira, depois de ter avistado PMs e corrido “com medo”.

“Laércio e amigos viram policiais e, com medo de serem abordados, correram. Ele foi mais para cima da favela, onde foi achado morto. Mas ele não tinha envolvimento com o tráfico. Era um bom garoto e trabalhava na barbearia do avô”, afirmou.

Na tarde desta quinta-feira, os parentes da vítima prestarão os primeiros depoimentos na Delegacia de Homicídios.
Enterro de jovem encontrado morto na Penha é marcado por protestos de mototaxistas do Parque Proletário
Foto:  Estefan Radovicz / Agência O Dia

Após morte de adolescente, moradores fizeram protesto

A notícia do encontro do corpo do adolescente e da acusação da participação de PMs acirrou os ânimos na comunidade. Uma manifestação foi realizada na Estrada José Rucas, uma das principais vias de acesso as comunidades do Complexo da Penha, na noite desta quarta-feira.

Na altura da Praça São Marcos, uma viatura da PM baseada no local foi apedrejada. Foi pedido reforço e os policiais chegaram a usar balas de borracha para dispersar a multidão.

Em represália, populares incendiaram dois ônibus da linha 623, na Rua Aimoré, na altura da Rua Maragogi. Um outro da linha 622 foi queimado na Estrada José Rucas. Os três coletivos fazem a linha Penha-Saens Pena.

Com medo de novos ataques, a empresa Nossa Senhora de Lourdes, responsável pelas linhas, recolheu todos os seus veículos da região. Moradores que voltavam de seus compromissos tiveram que ir para casa a pé.

O fornecimento de energia elétrica também ficou prejudicado na região. Trechos da fiação foram atingidos pelas chamas do fogo nos ônibus. Técnicos da Light passaram a madrugada tentando normalizar a situação. Segundo Frederico Caldas, o policiamento está reforçado na região da Penha com PMs de seis UPPs e do 16º BPM (Olaria).
 
 
Após morte de adolescente, moradores incendeiam ônibus na Penha
Foto: Alexandre Brum / Agência O Dia

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