Brasil sem câncer

Cor da esperança na campanha de prevenção contra a doença, o rosa coloriu ontem monumentos de Brasília, como o Palácio do Planalto. O objetivo é alertar as mulheres, principalmente as que têm entre 50 e 69 anos, para a importância do diagnóstico precoce. "Recomendamos uma mamografia a cada dois anos", diz a médica Fernanda Salum. "O câncer de mama tem tratamento e cura."

 

Durante o mês de outubro, rosa é a cor da esperança. O tom colore os principais monumentos da capital do país desde a noite de ontem com o objetivo de alertar as mulheres sobre os cuidados com a saúde. "Rosa, agora, é a cor da esperança de que a mulher tenha mais atenção à saúde, que ela se olhe, cuide-se. E que a família e o governo cuidem dela também", resume a presidente da Recomeçar — Associação de Mulheres Mastectomizadas de Brasília, Joana Jecker. O principal foco da ação, que ocorre simultaneamente em todo o mundo, é divulgar a importância do diagnóstico precoce do câncer de mama — além de derrubar mitos.
Ao longo do ano passado, 2.542 mulheres fizeram o tratamento no Sistema Único de Saúde do Distrito Federal. E a previsão da Secretaria de Saúde é de que 880 novos casos sejam diagnosticados até o fim de 2013. "O câncer de mama tem tratamento e cura. E a probabilidade de vencer a doença é maior quanto mais cedo é diagnosticada. Por isso, a importância de uma ação de grande impacto como a deste mês", ressaltou a médica Fernanda Salum, da Coordenação de Câncer de Mama da Secretaria de Saúde do DF. O número de mortes ainda é alto no DF. Em 2012, 190 mulheres morreram por causa da doença.
Exame periódico
A atenção à saúde é a principal arma para que seja possível vencer a doença. "O fundamental é consultar o médico periodicamente. Principalmente, mulheres entre 50 e 69 anos. Recomendamos que seja feita uma mamografia a cada dois anos. É ela que constata a doença e garante uma sobrevida para as pacientes", explica Fernanda. O diagnóstico precoce aumenta em 95% as chances de cura.
Em maio deste ano, entrou em vigor a lei que assegura a pacientes com diagnóstico de câncer o início do tratamento em até 60 dias. O prazo máximo vale para que a mulher passe por cirurgia ou inicie sessões de quimioterapia ou radioterapia.
Outra lei sancionada este ano determinou a reconstrução imeadiata da mama pelo SUS.
A auxiliar administrativa Lucineide Ribeiro, 34 anos, recebeu o diagnóstico de câncer de mama aos 29 anos. "Percebi um nódulo no autoexame e procurei o médico. Quando eu o senti, já tinha certeza de que era câncer. Comecei a procurar médico, tratamento. Eu queria tanto viver, que não me importei de ficar careca, de tirar o seio, de ter que passar pela quimioterapia. Eu queria viver e consegui", contou, orgulhosa.
Há três anos, Lucineide fez a cirurgia de reconstrução. "Retirar a mama é uma agressão muito grande. Antes, eu esqueci que era mulher. Sair da reconstrução e perceber que eu estava curada, sem sequelas, foi uma alegria que não dá para definir", lembrou-se. Lucineide e outras 19 mulheres que fazem parte da Recomeçar — Associação de Mastectomizadas de Brasília —, participaram de um ensaio fotográfico em exposição no Congresso (leia programação).
"É só ter coragem"
Joana Jecker, presidente da associação, e a mãe dela também posaram para o ensaio. As duas enfrentaram juntas o diagnóstico. "Nosso objetivo é mostrar que o câncer de mama não é um inimigo imbatível. O cabelo cresce, a mama é reconstruída. Só é preciso ter coragem, enfrentar, não ficar com medo", aconselhou.
Integrante do grupo, Sheyla Machado, 46 anos, dá uma dica para quem está passando pela experiência: "É preciso ter coragem para enfrentar. Estou em tratamento há cinco anos e vou continuar lutando".
O apoio da família é fundamental. A professora Joana D"arc Souza, 49 anos, se emociona ao se lembrar da ajuda que recebeu dos familiares, dos amigos e do marido. "Foi deles que tirei a minha força. Eles estavam tão confiantes que eu ficaria bem, que eu não duvidei. Contei com o meu marido em todas as etapas do processo. Mesmo careca e sem um seio, eu me sentia mais amada a cada dia", emocionou-se.
Três perguntas para
Olgamir Amancia, secretária da Mulher do DF
Qual é o objetivo ao tingir de rosa os principais monumentos da cidade?
A ideia é criar uma ação de impacto, que tenha grande visibilidade, que chame a atenção das pessoas para a importância da campanha. Rosa é uma referência à cor do laço, símbolo mundial da luta contra o câncer de mama. Essa ação é global e chegou ao Brasil em 2008. Desde que assumimos a Secretaria da Mulher, em 2011, passamos também a coordenar o Outubro Rosa no DF. O objetivo da campanha é alertar as mulheres, e os homens também, sobre os cuidados que precisam ter com o próprio corpo.
Outubro será dedicado à conscientização e à prevenção ao câncer de mama. O que a Secretaria da Mulher planejou?
Preparamos um atendimento especial da Carreta da Mulher, unidade móvel da Secretaria de Saúde que vai até as cidades para oferecer exames, entre eles o de mamografia. Até o dia 11, uma delas estará na Rodoviária do Plano Piloto,fazendo atendimento especial às mulheres que compõem a faixa de risco, entre 50 e 69 anos. Haverá também doação de procedimentos de pigmentação (tatuagem) da aréola, na reconstituição do bico do seio para mulheres mastectomizadas. Além disso, estão programadas atividades de mobilização e conscientização, como a Semana Cultural, entre os dias 21 e 25; caminhada e corrida contra o câncer de mama, dia 27; e até um desfile de mulheres mastectomizadas no dia 30, na Rodoviária do Plano Piloto.
Como a divulgação de informações sobre o câncer de mama pode ajudar a prevenir a doença?
O câncer de mama é o tipo de tumor maligno mais comum entre as mulheres e também o que mais leva à morte. Quanto antes for diagnosticada a doença, maiores as chances de cura. Segundo a Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama), o percentual de sucesso chega a 95% quando o tumor é detectado com menos de 1cm. Por isso, a divulgação é uma ferramenta fundamental para a prevenção. Quanto mais informações, maiores são as chances de as mulheres se conscientizarem sobre a importância do autoexame e da mamografia periódica.
Programação
1º a 11 de outubro
» Presença da Carreta da Mulher na Rodoviária do Plano Piloto. Mamografias e ecografias para as mulheres na faixa de risco (50 aos 69 anos)
14 a 18 de outubro
» Exposição Recomeço: até dia 4, na galeria do Senado, depois na Rodoviária, no Conjunto Cultural da República e na Câmara do DF
21 a 25 de outubro
» Semana Cultural na Rodoviária do Plano Piloto. De manhã e no fim da tarde, haverá recital de poesia, com Cristiane Sobral e Marina Mara; shows de música, com Célia Porto, Ellen Oléria, Luciana Luppy, grupo Batalá, Atitude Feminina, Toque de Salto e Nós, Negras; e apresentação de teatro com o grupo Palhaça Matusquela
27 de outubro
» Caminhada e Corrida contra o Câncer de Mama. Local: Eixão do Lazer, na altura do Banco Central. Horário: 9h. Kit básico: Camiseta, chip e medalha. Inscrições gratuitas e doação de produtos de higiene pessoal para mulheres da Casa Abrigo
30 de outubro
» Cerimônia de encerramento do Outubro Rosa com desfile de mulheres mastectomizadas, personagens da exposição Recomeço. Local: Rodoviária do Plano Piloto. O horário não está definido.
» Dicas
Sintomas
» Aparecimento de um nódulo ou de um espessamento da mama ou próximo a ela ou ainda na região da axila
» Alteração no tamanho ou na forma da mama
» Alteração no aspecto da mama, aréola ou mamilo
» Saída de secreção pelo mamilo, sensibilidade mamilar ou inversão do mamilo para dentro da mama
» Enrugamento ou endurecimento da mama (a pele adquire aspecto de casca de laranja)
» Sensações diferentes: calor, inchaço, rubor, escamação
Fatores de risco
» Vários casos na família (mãe, tias, irmãs)
» Primeira gestação depois dos 30 anos
» Não ter filhos
» Menopausa após os 55 anos
» Primeira menstruação antes dos 10 anos
» Estresse
» Tabagismo e alcoolismo

Fonte: Unidas a favor da saúde
Correio Braziliense