domingo, 31 de março de 2013

Vento modernizador na região do Maracanã

Barracos da Favela do Metrô e antigo quartel do Exército já sumiram do mapa com o bota-abaixo

Pilha de escombros na área que foi do Exército e que servirá de apoio ao Maracanã
Foto: Daniela Dacorso
Pilha de escombros na área que foi do Exército e que servirá de apoio ao MaracanãDaniela Dacorso
RIO - Um furacão chamado Copa do Mundo e Olimpíadas hoje varre a região do Maracanã. Caminhar por lá é escutar o barulho de britadeiras, cruzar com operários uniformizados, deparar-se com montanhas de escombros, seguir por corredores sem fim de tapumes e olhar para o céu e ver, entre nuvens, guindastes de obra. O protagonismo do velho estádio nos grandes eventos esportivos parece engolir tudo a sua volta: parte da Favela do Metrô, que margeia a Radial Oeste, já foi demolida, assim como instalações de uma área de 83 mil metros quadrados de um antigo complexo do Exército, em São Cristóvão. O bota-abaixo ainda atingirá a Escola Municipal Friedenreich, o Parque Aquático Júlio Delamare e o Estádio Célio de Barros.
As demolições abrirão espaço para a organização dos Jogos e permitirão a reurbanização de áreas degradadas. Da Favela do Metrô, 550 famílias já foram reassentadas pela prefeitura, e as 46 que continuam lá se mudam para o Bairro Carioca, em Triagem, em abril. A favela, que ainda inspira medo e cujos espaços vazios viraram um lixão e atraem usuários de drogas, deve ser cercada em maio. As demolições vão até o fim do ano, informa a subprefeitura da Zona Norte. Para o lugar dos barracos, uma das propostas é a construção de um parque, com quadras.
Do outro lado da linha férrea, montes de entulho são o que restam dos prédios que serviam a um grupamento de artilharia do Exército. Em nome do progresso, um antigo quartel de cavalaria, erguido após a Proclamação da República, também foi quase todo destruído. Dele, sobrou parte da fachada, cujo destaque é o grande brasão com a inscrição Estados Unidos do Brasil.
— As pessoas vêm e perguntam se têm como comprar o brasão, mas ele vai continuar aí — conta uma funcionária do canteiro de obras.
Seguindo mais à frente pelo terreno vazio, encontra-se o Centro Hípico do Exército, que se salvou por ter sido tombado pela Câmara de Vereadores antes de a Secretaria municipal de Obras começar a esvaziar o terreno. Lá, ficam as chamadas cocheiras imperais. O prédio da antiga escola de veterinária do Exército, a primeira do Brasil, também será preservado com a suas palmeiras imperiais e vai receber a Escola Friedenreich, que este ano ainda funciona no Maracanã.
Sobre a área que foi do Exército, a Secretaria de Obras diz apenas que “será um grande pátio, para uso da organização dos eventos esportivos”. O espaço servirá à Copa das Confederações, em junho, mas a passarela ligando o estádio à Quinta da Boa Vista ficou para dezembro.
— Com a passarela, você poderá ir de bicicleta da Tijuca à Quinta, passando pelo Maracanã. O caminho até a Quinta é hoje horrível e inseguro — comenta, com entusiasmo, Jaime Miranda, da Associação Comercial e Industrial da Tijuca.
Mas esse furacão modernizador não é ponto pacífico. Sob protestos, o governo do estado desistiu de pôr abaixo o antigo Museu do Índio, que será transformado em Museu Olímpico. No entanto, caberá à empresa que vencer a licitação para o Complexo do Maracanã derrubar a escola, o Júlio Delamare e o Célio de Barros. Para as áreas vagas, estão previstas quadras de aquecimento, bares, restaurante, estacionamentos e heliponto.
Muitos atletas do parque aquático já fizeram suas malas, mas não sabem ainda para onde ir. Amanhã, o Júlio Delamare fecha, definitivamente, seus portões. Mônica Lages, de 19 anos, treinava saltos ornamentais no local desde os 6:
— Perdemos uma ferramenta preciosa. É a melhor instalação do Rio. E, mais do que isso, é a minha casa — lamenta a atleta, da seleção brasileira, agora sem local para treinar.

Fonte: O Globo

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