domingo, 24 de março de 2013

Após ocuparem Museu do Índio, manifestantes participam de audiência de conciliação

  • Gurpo não aceita proposta do governo de transferir índios para terreno em Jacarepaguá
  • Eles passaram a noite no início da manhã, após negociações com representantes da Justiça Federal


  • Saída de manifestantes, entre eles cinco índios, do Museu do Índio, em Botafogo. Eles ocuparam o prédio na madrugada deste domingo Foto: Pedro Kirilos / Agência O Globo
    Saída de manifestantes, entre eles cinco índios, do Museu do Índio, em Botafogo. Eles ocuparam o prédio na madrugada deste domingoPedro Kirilos / Agência O Globo
    RIO - Após ocuparem o Museu do Índio, em Botafogo, 13 índios e 41 militantes que apoiam o movimento que reivindica o espaço da Aldeia Maracanã participam de uma audiência de conciliação na sede da Justiça Federal, no Centro. Eles ainda aguardam o ouvidor-geral da Fundação Nacional do Índio (Funai); O grupo ocupou durante aproximadamente 15 horas o museu. Após negociações com representantes da Justiça Federal e a PM, o grupo aceitou deixar o prédio da Rua das Palmeiras, no início da manhã, após a revogação de uma ordem de prisão que havia sido dada pelo juiz de plantão da primeira instância Wilson José Witzel. O magistrado reviu a sua decisão, após os manifestantes terem concordado em deixar o local de forma voluntária.


    Um dos líderes do protesto, que se identificou como Urutau, da etnia Guarajara, contou que durante a tarde deste sábado o grupo foi a Botafogo tentar uma reunião com o presidente do Museu do Índio, José Carlos Levinho, para pedir apoio à causa, mas como isso acabou não ocorrendo, os manifestantes decidiram ocupar o espaço.
    — Nós precisamos ser ouvidos. A única esperança é a reintegração da Aldeia — afirmou.
    Apesar de um outro grupo com 11 índios ter partido na manhã deste domingo de um hotel no Centro para um alojamento em Jacarepaguá, os manifestantes negam que o movimento esteja dividido. Kaiah, da etnia waiwai, do Pará, que participou da ocupação em Botafogo insiste que a única saída é a reintegração da Aldeia Maracanã:
    — Muita gente dispersou por causa da violência. Nós somos a representação daqueles que não podem estar. A proposta do governo não nos contenta. Aquele patrimônio (Aldeia) é nosso.
    Os indígenas e os simpatizantes da causa chegaram no local por volta das 15h de sábado, horário em que o museu ainda estava aberto para visitas, e permaneceram após o fechamento do imóvel. Policiais do Batalhão de Polícia de Choque e do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) seguiram para o endereço durante a madrugada e interditaram os acessos à rua, que ficaram restritos aos moradores.
    De acordo com a PM, os manifestantes solicitaram a presença de representantes do governo federal, já que o museu está sob responsabilidade da União. Membros do Ministério Público Federal (MPF), da Justiça Federal e da Funai conseguiram convencê-los a deixar o museu e a dialogar sobre as propostas do grupo no prédio da Justiça Federal, no Centro.
    – Eles precisavam deixar o local, mas também precisavam ser ouvidos. A intervenção, nesses casos, é a última alternativa. Desde o início, eles se mostraram abertos ao diálogo pacífico, como ocorreu – declarou major Ivan Blaz, relações-públicas do Bope.


    No sábado, os indígenas que aceitaram ficar no hotel acolhedor, oferecido pela prefeitura, reclamaram das condições precárias do local. De acordo com Tukano, não há ventilador nos quartos e os banheiros não funcionam direito. Os indígenas não podem receber visitas e têm horário para sair e voltar. A reportagem do Globo não foi autorizada a entrar no local para verificar as condições.
    — Esperamos que o governo seja mais rápido, não queremos só palavras, não queremos só promessas, porque de promessas nós estamos cansados. Estamos cansados de sermos tradados como pessoas incapazes, pessoas tuteladas. Queremos nosso próprio espaço, nossa própria autonomia, para a gente poder gerir os nossos espaços culturais, queremos ser nós mesmos os gestores — afirmou o cacique Tukano.
    Neste domingo, indígenas foram transferidos para um terreno junto ao Hospital Curupaiti, em Jacarepaguá. Eles devem ficar um alojamento provisório, que está sendo montado por operários, por cerca de um ano, até que o governo do estado conclua o Centro de Referência Indígena. O alojamento temporário contará com camas estilo beliche, cozinha e banheiros feminino e masculino. Os índios ainda receberão kits de higiene pessoal e de limpeza, cestas básicas, toalhas e cobertores.
    A Guarda Municipal do Rio de Janeiro (GM-Rio) afirmou, em nota, que vai apurar através de imagens as cenas de violência entre agentes e manifestantes no Centro do Rio, na tarde desta sexta-feira. De acordo com nota, os agentes "foram recebidos de forma extremamente hostil pelo grupo que protestava". Cerca de 150 militantes que são contra a desocupação do antigo Museu do Índio, no Maracanã, na Zona Norte do Rio, foram para a porta da Assembleia Legislativa do Estado (Alerj) para continuar o protesto iniciado pela manhã na Radial Oeste.
    A nota diz ainda que "uma guarda chegou a ser agredida por um dos participantes do movimento, que quebraram o para-brisa de uma viatura da GM-Rio". Os casos foram registrados na 1ª e na 5ª delegacias de polícia, como lesão corporal e dano ao patrimônio público, respectivamente.


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    Fonte: O Globo

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