quinta-feira, 28 de março de 2013

Pesquisadores identificam novos traços de DNA que preveem risco de câncer

Pelo menos 74 marcadores genéticos para tumores de ovário, mama e próstata foram descobertos

A dupla-hélice do DNA. Alterações podem favorecer doenças
Foto: Reuters
A dupla-hélice do DNA. Alterações podem favorecer doençasReuters

RIO- Pelo menos 74 marcadores genéticos que determinam um aumento significativo no risco de desenvolvimento de câncer de mama, ovário e próstata foram descobertos no maior estudo já realizado sobre o tema. O DNA de 200 mil pessoas — metade delas com câncer e a outra metade sem — foi comparado, revelando perfis mais propensos à doença. Pesquisadores acreditam que, com a descoberta, nos próximos cinco anos já seja possível termos um novo teste genético para a prevenção de câncer. Eles também acreditam que o conhecimento possa levar a uma maior compreensão sobre o desenvolvimento de tumores.
A pesquisa foi coordenada por cientistas da Universidade de Cambridge e do Instituto de Pesquisa do Câncer. Mas profissionais de outras 200 instituições na Europa, Ásia e EUA também participaram do levantamento. Os principais resultados foram reunidos em cinco grandes estudos publicados na “Nature Genetics”.
— Estamos muito perto de conseguir usar o nosso conhecimento das variações genéticas para desenvolver um teste que possa complementar o atual screening genético para o câncer de mama e de termos um eficaz programa de screening genético para o câncer de próstata — afirmou, em entrevista a BBC, de Londres, Doug Easton, um dos principais autores do estudo.
A colaboração permitiu a identificação de erros genéticos relacionados às três doenças, que afetam 2,5 milhões de pessoas em todo o mundo. Cada um desses erros, chamados de polimorfismos de nucleotídeo único, confere, por si, um aumento muito baixo do risco das doenças. Mas um indivíduo pode acumular dezenas deles, aumentando de maneira significativa as chances de desenvolver um tumor cancerígeno ao longo da vida.
Os polimorfismos de nucleotídeo único são, na realidade, pequenas alterações na ordem das letras do DNA. O genoma é composto de três bilhões de pares formados pelos elementos químicos A, C, T e G. Cada indivíduo pode ter milhões de falhas no seu genoma sem muitas consequências. Essas alterações nos diferenciam uns dos outros; explicam, por exemplo, por que uma pessoa responde melhor a um tratamento do que outra; ou ainda por que um indivíduo é mais sensível a determinadas doenças. Diferentemente das mutações (menos comuns, porém mais determinantes), os polimorfismos são muito frequentes. Mas são necessários dezenas deles para que se possa dizer que há um aumento significativo do risco para determinadas enfermidades.
Comparando pacientes com câncer a pessoas saudáveis, os cientistas conseguiram identificar “erros” na grafia genética que ocorrem, repetidamente, no grupo daqueles que tinham a doença. Nada menos que 49 alterações foram associadas com o câncer de mama, levando o total já identificado a 76. Para o câncer de próstata, 23 novos marcadores foram encontrados, perfazendo um total de 78. Para os tumores de ovário, foram identificadas oito variantes, que se somam às quatro já conhecidas.
Embora cada variação, individualmente, aumente muito pouco o risco de alguém vir a ter a doença, cientistas calculam que 1% dos homens que carregam várias dessas alterações podem ter um risco de câncer de próstata aumentado em até 50%. Mulheres com múltiplas das variantes teriam o risco de câncer de mama elevado em 30%.
alterações apontam Riscos de até 100%
Sabe-se que uma em cada 300 mulheres carrega um gene alterado, chamado de BRCA1 ou BRC2. Dois terços delas vão desenvolver câncer de mama antes dos 80 anos e 45% terão tumores de ovário. Mulheres que apresentem, por exemplo, esses marcadores e mais alguns dos recentemente descobertos poderiam ter até 100% de risco de desenvolver tumores. Em contraste, aquelas sem nenhum dos novos marcadores, poderia ter o risco bastante reduzido. O mapeamento desses perfis genéticos poderia ser útil na prevenção da doença.
— Nossa pesquisa nos coloca muito perto de oferecer às mulheres um retrato muito mais acurado de suas chances de desenvolver câncer de mama ou de ovário e nos ajudará a orientá-las sobre as mais apropriadas formas de prevenção e monitoramento.
Mas não só. Outros especialistas acreditam que o estudo pode revelar muito sobre o desenvolvimento de tumores, de forma a permitir a criação de novos tratamentos.
— Estes resultados não são o que qualquer cidadão médio esperaria, uma cura para o câncer, por exemplo. Tampouco vão a alterar imediatamente os tratamentos oncológicos. Mas têm, sim, um grande valor a curto prazo — afirmou, em entrevista ao jornal espanhol “El Mundo”, John Witte, coautor do estudo. — Como alguns dos marcadores descobertos são comuns a vários cânceres, isso aponta diretamente para o início do processo tumoral e sugere que, em vez de categorizar os tumores como diferentes, talvez devêssemos centrar nossos estudos em suas semelhanças

Fonte: O Globo

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