terça-feira, 30 de julho de 2013

“Loteamentos clandestinos das milícias e falta de investimento nas redes de água são receita explosiva”, diz Minc, sobre rompimento de adutora

Adutora se rompe em Campo Grande, no Rio de Janeiro, deixando ruas e casas da região inundadas (Foto: Reprodução / TV Globo)
5 Perguntas para o secretário estadual do Meio Ambiente, Carlos Minc, diante do rompimento da adutora em Campo Grande, Zona Oeste do Rio, que até agora provocou a morte de uma menina de 3 anos, 16 feridos, 70 desalojados e a destruição de casas.   
1) A ocupação desordenada do solo pode ter contribuído para essa tragédia?
Carlos Minc - No geral, na Zona Oeste, esticando um pouco para Jacarepaguá, a indústria de loteamento clandestino é enorme e em algumas áreas tem relação com a milícia. Com os projetos de vias rápidas, os BRTs como a TransOeste, essas áreas valorizam mais, e a tendência é que se construam boas residências. Essa valorização pode aguçar o instinto mercantil das milícias, que não param nunca, por mais que a gente combata a favelização em volta das lagoas.
2) Como se dá esse combate à favelização em áreas de risco e com potenciais danos ambientais?
Minc - Por exemplo, a gente demoliu recentemente um chiqueiro clandestino dentro da Lagoa de Jacarepaguá. Eram 60 porcos enormes, lançando seus coliformes em plena lagoa. Cinco meses depois, sobrevoando o exato lugar de onde tínhamos retirado o chiqueiro, havia ali um ferro velho, com 80 viaturas - todas as carcaças sobre a lagoa. Sempre, ao lado de uma favela que afunda, surge uma outra favelinha.
3) O senhor já foi processado no passado por dois presidentes da Cedae por criticar a falta de prevenção e investimentos, e a falta de prioridade no tratamento de esgotos.
Minc - Lá atrás, como deputado, eu demonstrei que não tinha havido nenhum investimento na renovação da rede, que sofria com o sucateamento das redes e elevatórias. Entre 1990 e 2006, ou seja, durante 16 anos, fui presidente da comissão de meio ambiente. Sem querer jogar água na fervura, na Zona Oeste durante muito tempo não se trocaram tubos de 60, 80 anos de idade. A Cedae funcionava como caixa de governo. Herdou-se um enorme passivo.
4) Qual é a atitude que se deve tomar para evitar desastres sociais e ecológicos como o rompimento dessa adutora em Campo Grande?
Minc - A gente tem que investir sempre em prevenção e controle, até porque já existem equipamentos que medem a pressão dentro dos tubos. Metade dos fundos da Cedae dedicados a saneamento vem do Fecam (Fundo Estadual de Conservação Ambiental e Desenvolvimento Urbano), da Secretaria Estadual do Ambiente. Saneamento é fundamental para todos nós. Mas é claro que uma região abandonada durante muito tempo, com equipamentos muito antigos, fica mais vulnerável.
5) Por que a Zona Oeste, na sua opinião, enfrenta desafios ambientais mais sérios do que outras regiões?
Minc - Olha que receita explosiva. É a região que mais cresce, que mais tem projetos Minha Casa Minha Vida e que mais tira proveito das novas vias expressas. Mas, ao mesmo tempo, é a região com menor planejamento urbano e uso desordenado do solo. Há mais especulação porque fizemos investimentos brutais em projetos viários para aumentar a mobilidade. As milícias também atuam ali historicamente. Então, se trazemos mais gente, se valorizamos a área, ao mesmo tempo aumentamos a poluição e os riscos ambientais. Tendo isso em mente, não é um destino inexorável o sofrimento dos moradores: com o diagnóstico feito, é preciso portanto um enorme esforço e investimento para atualizar os equipamentos na rede de água, ordenar o uso do solo e preservar a ecologia para evitar futuras tragédias. O governo está consciente disso.

Fonte: Época
RUTH DE AQUINO

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