quarta-feira, 24 de abril de 2013

Angra dos Reis troca aterro sanitário particular por lixão

Município despeja detritos em terreno desativado há cinco anos


No momento do transbordo do lixo, caminhão deixa parte dos dejetos, incluindo resíduos hospitalares, em Ariró, ao lado de Parque Nacional da Serra da Bocaina, em Angra -
Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo
No momento do transbordo do lixo, caminhão deixa parte dos dejetos, incluindo resíduos hospitalares, em Ariró, ao lado de Parque Nacional da Serra da Bocaina, em Angra - Gabriel de Paiva / Agência O Globo

RIO - No imbróglio do destino do lixo na turística Angra dos Reis, na Costa Verde, a emenda acabou saindo pior do que o soneto. Depois de ser impedida de usar um aterro sanitário considerado inadequado no início do ano, a cidade voltou a operar um antigo lixão. Desde janeiro, as quase 200 toneladas diárias de dejetos do município estão sendo despejadas a céu aberto sobre uma área, no bairro Ariró, que já foi um lixão, fechado há cinco anos. Nas bordas do Parque Estadual Cunhambebe e do Parque Nacional da Serra da Bocaina, a paisagem agora descortina uma nuvem de urubus e uma fétida montanha de resíduos, por onde o chorume escorre para dentro de um riacho de águas cristalinas.
O panorama de descaso começou a ganhar forma em janeiro, depois de o aterro sanitário particular operado pela Infornova/Locanty na mesma região ter sido reprovado pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea), que considerou o controle ambiental do local inadequado. A solução emergencial anunciada pelo secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc, foi transportar o lixo para o Centro de Tratamento de Resíduos (CTR) de Seropédica, a 116 quilômetros de distância.
Para essa operação, os caminhões recolhem o lixo na cidade e o levam para o bairro Ariró, que passou a servir de área de transbordo. Dali, os dejetos deveriam seguir até Seropédica em carretas. Mas, segundo vereadores da Comissão de Saúde da Câmara Municipal, a quantidade de lixo despejada tem sido quase o dobro da capacidade de transporte para o centro de tratamento. O resultado é que, em pouco mais de três meses, os resíduos se acumularam sem um controle ambiental apropriado.
De um morro no lixão reativado, pode-se ver ainda outros dois grandes vazadouros de detritos, dos quais nenhuma parte é levada para Seropédica. Um acumula entulho e galhos de podas de árvores. O outro recebe o lixo hospitalar de Angra. Seringas, agulhas usadas, frascos de remédios e todo tipo de material das unidades de saúde, muitos com restos de sangue, são dispensados no solo.
A área rural tem em seu entorno uma fazenda de gado e dois vilarejos, Ariró e Zungu. Num caminho de menos de quatro quilômetros, por exemplo, o riacho poluído pelo chorume deságua no Rio Ariró, que atravessa um manguezal até chegar ao mar da Baía da Ilha Grande, perto da Ponta do Partido, de condomínios e resorts.
Câmara faz notícia-crime
A situação levou a Comissão de Saúde da Câmara a apresentar, na última sexta-feira, notícia crime denunciando o lixão a órgãos como Ministério Público Federal, Ibama, Secretaria estadual do Ambiente e Inea.
— Encontramos uma série de irregularidades, da poluição das águas superficiais e do lençol freático a trabalhadores de chinelos e bermuda em meio ao lixo. E o transporte para Seropédica é feito por meio de contratos emergenciais, sem licitação, a um custo de R$ 3,5 milhões mensais, contra R$ 1,7 milhão gastos antes — afirma o vereador José Antônio Gomes (PCdoB), membro da comissão.
O Inea notificou a prefeitura de Angra a retirar todo o lixo de Ariró em 15 dias, prazo que vence na semana que vem. Segundo Júlio Avelar, superintendente do órgão na Baía da Ilha Grande, se o prazo não for cumprido, a área será interditada. Gerente de limpeza pública da Secretaria de Obras de Angra, Paulo Sevalho reconheceu que nove mil toneladas de lixo já se acumularam em Ariró, e disse que até sexta-feira a montanha de detritos estará desmontada.
Fim do despejo
O Inea notificou a prefeitura Angra dos Reis a retirar todo o lixo de Ariró em 15 dias, prazo que vence na semana que vem. Segundo Júlio Avelar, superintendente do órgão na Baía da Ilha Grande, se o prazo não for cumprido, a área será interditada. Também foi solicitado que o município pare de fazer o despejo de resíduo hospitalar.
Gerente de limpeza pública da Secretaria municipal de Obras de Angra, Paulo Sevalho reconheceu que, entre 10 de janeiro e 16 de fevereiro, cerca de sete mil toneladas de lixo se acumularam em Ariró. Ele disse que a Polícia Rodoviária Federal havia pedido que as carretas só começassem a circular após o carnaval. Explicou que, nesse período, foram preparados os contratos emergenciais para o transporte de resíduos.
Desde então, a Zadar passou a fazer o transbordo. Mas a empresa, segundo Sevalho, teve dificuldades operacionais. Em 20 de março, já havia cerca de nove mil toneladas de lixo em Ariró, o que fez a prefeitura convocar uma reunião e determinar que a empresa fizesse, no mínimo, 20 viagens diárias até Seropédica.
Embora o lixo não pare de chegar, o município garante que, até sexta-feira, a montanha de dejetos estará desmontada. Sobre o lixo hospitalar, Savelha disse que o descarte deste tipo de material sempre ocorreu de forma irregular em Angra, mas informou que a prefeitura prepara uma licitação para dar uma solução definitiva:
— Angra e Paraty têm 80% de seu território em áreas de preservação e não têm grandes extensões de áreas planas e adequadas para o lixo.

Fonte: O Globo

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