Após uma semana de protesto, Q’orianka Kilcher, intérprete de Pocahontas,
ajuda a impedir navio de carregar ferro-gusa da Amazônia.
A atriz norte-americana Q’orianka Kilcher também escalou a âncora do
cargueiro para evitar o carregamento de 31,5 mil toneladas de ferro gusa
proveniente da Amazônia. © Greenpeace/Marizilda Cruppe/EVE
“Eu acabei de vir de uma viagem à Amazônia, na região onde o ferro gusa é produzido. Vi de perto como essa produção está colocando em risco alguns povos indígenas, inclusive grupos isolados”, afirmou Q’orianka. “Precisamos defender esses povos. Eles são peça-chave na proteção das últimas reservas florestais no mundo. Preservá-los é garantir um futuro para nós mesmos”.
Segundo Q’orianka, ela decidiu agir comovida pela participação, no bloqueio, de duas jovens ativistas brasileiras. “Estou aqui, presa a essa âncora, porque no mundo todo, jovens como nós vamos herdar os problemas que as gerações passadas deixaram para trás”, disse. “O trabalho escravo e a extração ilegal de madeira, que a gente vê em livros de história, infelizmente ainda são uma realidade no Brasil”.
Q’orianka escalou a corrente da âncora do cargueiro
Clipper Hopper por volta das 9h30. Ela fez revezamento com voluntários do
Greenpeace no navio Rainbow Warrior que, desde o dia 14, se mantêm pendurados
noite e dia para evitar que o cargueiro atraque no porto de Itaqui. O
carregamento pertence à Viena Siderúrgica, uma das empresas apontadas pelo
Greenpeace como envolvidas em irregularidades
na cadeia de produção do ferro gusa.
“Q’orianka está dando um exemplo de que a defesa da Amazônia ultrapassa
nossas fronteiras”, disse Paulo Adario, diretor da campanha Amazônia, a bordo do
Rainbow Warrior. “Ela está ajudando o Greenpeace a demonstrar que, apesar da
imagem positiva que nosso país vem construindo nos últimos anos, ao reduzir o
desmatamento da Amazônia, muita coisa ainda precisa ser feita”, acrescentou.
“Isso inclui o veto total, pela presidente Dilma, do novo código florestal
ruralista aprovado pelo Congresso”.
A partir de uma pesquisa de dois anos, o Greenpeace
identificou uma série de desrespeitos à legislação brasileira na produção de
carvão vegetal usado pela indústria de ferro gusa na Amazônia. Entre os sérios
problemas apontados pela organização ambientalista estão o uso, por carvoarias,
de trabalhadores em situação análoga à escravidão e extração de madeira ilegal,
inclusive dentro de Terras Indígenas e Unidades de Conservação. Estas denúncias
foram compiladas no relatório “Carvoaria Amazônia”, publicado semana passada pela
organização.
Principal matéria-prima do aço, o minério de ferro se transforma em ferro
gusa dentro de fornos alimentados por carvão vegetal. Parte deste carvão é
proveniente de extração ilegal de madeira. O ferro gusa brasileiro é exportado,
principalmente, para os Estados Unidos. Lá, ele é usado na produção de aço para,
entre outros fins, a fabricação de veículos por grandes montadoras.
Fonte: Greenpeace
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