quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Indústria do amianto pede explicação a médico

São Paulo - O Instituto Brasileiro de Crisotila, fundado por empresários da indústria do amianto, está interpelando judicialmente o médico sanitarista Hermano Albuquerque de Castro a respeito de declarações e artigos publicados por ele. Pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz desde 1986, Castro estuda os efeitos do amianto na saúde desde a década de 1970.

Para a comunidade científica, a interpelação judicial é uma tentativa de intimidar o pesquisador. A entidade nega. Castro soube da interpelação anteontem. No documento, a entidade questiona a "pesquisa ou base de dados de cunho científico" para artigos e entrevistas publicados em 2008. A medida judicial surpreendeu o pesquisador. "É uma interpelação extemporânea. Sinto-me extremamente constrangido com a ação. Você fica parecendo um criminoso".

O sanitarista acompanha pacientes com doenças respiratórias no ambulatório de pneumologia do Centro de Saúde do Trabalhador da Fiocruz. Em 1990, notificou o primeiro caso de asbestose (fibrose pulmonar crônica e irreversível) de uma trabalhadora da indústria do amianto.

Tanto a Fiocruz quanto o Instituto Nacional do Câncer (Inca) divulgaram nota em defesa de Castro. "Estudos da Organização Mundial de Saúde e da Agência Internacional para Pesquisa em Câncer atestam que o amianto é uma fibra cancerígena, assim como a Resolução 348 do Conselho Nacional do Meio Ambiente, que o considera um resíduo perigoso e cancerígeno para aqueles que o manipulam", diz o texto da Fiocruz. O produto já foi banido de 58 países.

O documento informa que será promovida uma teleconferência pela Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, que reunirá profissionais de saúde que lidam com o tema, para produzir um documento "sobre os problemas causados pela manipulação do amianto em trabalhadores do setor".

Questionamento. O Instituto Brasileiro de Crisotila questiona declarações de Castro segundo as quais o amianto prejudicaria também a saúde do consumidor, não somente a do trabalhador que o manipula. "Não há tentativa de inibir o pesquisador. Mas ele tem o dever de esclarecer qual é a base científica para essas declarações e esse esclarecimento tem de chegar à sociedade", afirmou o advogado Antonio Telles de Vasconcellos. Segundo ele, há estudos científicos que mostram que não há efeito negativo para o consumidor. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Bol -Noticia

                 
Presidência da Fiocruz repudia interpelação judicial a pesquisador da FundaçãoRicardo Valverde
A Presidência da Fiocruz, ao tomar conhecimento da interpelação judicial impetrada pelo Instituto Brasileiro de Crisotila, entidade que reúne a indústria do amianto, ao pesquisador e médico Hermano Albuquerque de Castro, que é servidor da Fundação, repudia a judicialização de um debate que está baseado em evidências técnico-científicas. Estudos da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da Agência Internacional para Pesquisa em Câncer (Iarc, na sigla em inglês) atestam que o amianto é uma fibra cancerígena, assim como a Resolução 348 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que considera ser o amianto um resíduo cancerígeno para quem o manipula. O amianto é utilizado em telhas e caixas d´água. De acordo com o Iarc, a exposição ao amianto está relacionada à ocorrência de diversas patologias. O mesmo órgão inclui o amianto no grupo 1 – o dos reconhecidamente cancerígenos, pois não foram identificados níveis seguros para a exposição às suas fibras. O uso do amianto já está proibido em 52 países.


 O amianto é utilizado na fabricação de telhas e caixas de água
O amianto é utilizado na fabricação de telhas e caixas de água




No momento, a Fundação prepara um documento oficial que servirá de referência e fundamentação científica, comprovando o caráter cancerígeno do amianto. Após o Carnaval, em 24 de fevereiro, uma teleconferência promovida pela Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde e que reunirá médicos do trabalho, pneumologistas e outros profissionais de saúde que lidam com o tema, também produzirá um documento com um posicionamento claro e inequívoco sobre os problemas causados pela manipulação do amianto em trabalhadores desse setor industrial.
O pesquisador Hermano Albuquerque de Castro, que tem 30 dias para responder à interpelação judicial, goza da confiança e do respeito da Presidência e da comunidade da Fiocruz pela sua competência técnico-científica, postura ética e compromisso social, tendo ocupado posições de direção e de representação institucional que o qualificam como profissional de referência na saúde pública e, especificamente, no campo da saúde do trabalhador e da pneumologia. A Fundação presta solidariedade a Hermano Albuquerque de Castro, que é pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), e lamenta a tentativa de intimidação e de se criar barreiras à liberdade de expressão e de pesquisa científica.

Fonte: Agência Fiocruz de Notícias

Comentário: Jorge A. Pellegrini

NO BRASIL:   Pesquisador e médico  é  interpelado judicialmente por declarações e artigos publicados  Sobre  problemas causados pela manipulação do amianto em trabalhadores do setor.


NA ITALIA:
 Em uma decisão que certamente vai entrar para a história, a Justiça de Turim, na Itália, condenou a 16 anos de prisão duas pessoas ligadas ao grupo suíço Eternit. Stephan Schmidheiny, herdeiro do grupo, e um administrador da filial italiana, o barão belga Jean-Louis Marie Ghislain de Cartier de Marchienne, foram declarados culpados pela morte de cerca de 3 mil pessoas na Itália, entre eles ex-funcionários ou moradores de quatro localidades onde a Eternit tinha fábricas de produtos à base de amianto
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário