terça-feira, 27 de setembro de 2011

RELATO SOBRE OS ATENDIMENTOS REALIZADOS NO AMBULATÓRIO CSTEH/ENSP/FIOCRUZ

Relato sobre os atendimentos realizados no Ambulatório
CESTEH/ENSP/FIOCRUZ
Responsável: Hermano Albuquerque de Castro - Médico
Em áreas urbanas industrializadas os poluentes do ar são potenciais
causadores de danos à saúde. De um modo geral, produzem danos
principalmente ao sistema cardiovascular, como infarto agudo do miocárdio e
respiratórios, como agravamento de asma e bronquite crônica.No caso do dano
pulmonar, o poluente inicia um processo inflamatório no aparelho respiratório,
alterando a permeabilidade das vias aéreas e possibilitando, assim, o acesso e a
entrada destes poluentes no organismo humano. Assim, poeiras, gases e vapores
presentes na poluição do ar podem interferem no sistema respiratório e
contribuem para inúmeros processos mórbidos na população exposta. Além disso,
cardiopatas, pneumopatas, crianças e idosos representam o grupo mais sensível
aos efeitos deletérios dos poluentes atmosféricos. Estes efeitos deletérios da
poluição do ar sobre a saúde humana têm sido observados tanto na mortalidade
geral e por doenças respiratórias e cardiovasculares, como na morbidade,
incluindo aumentos de sintomas respiratórios e diminuições de valores na função
pulmonar.
Do ponto de vista das fontes poluidoras, distinguem-se as fontes móveis
(automotivos) e as fontes fixas, dentre estas, destacam-se, pelas suas emissões,
as unidades industriais e de produção de energia, como a geração de energia
elétrica, as refinarias, fábricas de pasta de papel, e no caso em questão as
siderurgias. A utilização de combustíveis para a produção de energia é
responsável pela maior parte das emissões de óxidos de enxofre (SOx) e dióxido
de carbono (CO2) contribuindo, ainda, de forma significativa para as emissões de
monóxido de carbono (CO) e óxidos de nitrogênio (NOx). No caso da siderurgia
tem-se ainda emissão de quantidades apreciáveis de compostos orgânicos
voláteis, como o benzeno e que se não controlados podem causar danos severos
a saúde da população exposta.
O atual padrão de controle da qualidade do ar referida na resolução
CONAMA 03/90 encontra-se defasada para uma análise que se relacione com
danos a saúde. Os valores atuais para os gases poluidores e material particulado
(MP) definidas pela OMS e que visam proteger a saúde da população estão bem
abaixo dos atuais valores brasileiros. Somado aos poluentes típicos da siderurgia,
houve ainda fuga de MP durante falhas no processo de produção da siderúrgica
em questão.Embora, não haja ainda uma qualificação oficial, por órgão público, do
tipo de material jogado na atmosfera, houve uma crescente demanda de
problemas de saúde na população que vive no entorno da fábrica.
A FIOCRUZ recebeu moradores residentes próximo a esta fábrica, com
diferentes queixas de saúde. Os encaminhamentos foram realizados pelo Sistema
único de Saúde e pelos movimentos sociais locais.
Foi atendido no ambulatório da Fundação Oswaldo Cruz o total de 07
moradores. Dentre estes, uma criança e 06 adultos.
A criança apresentava história clínica compatível com rino-sinusopatias e
asma brônquica, com piora do quadro após a exposição ambiental, relatada pela
família como uma poeira, ora prateada e ora escura. Foi possível verificar ao
exame do couro cabeludo da criança, a presença de poeira, tipo purpurina.
Todos os adultos apresentavam queixas respiratórias, como tosse, dispnéia
e sinusite, da mesma forma referiram relação e agravamento do quadro
respiratório com a exposição ao pó liberado na atmosfera pela siderurgia. Dois
adultos apresentaram quadro clínico-funcional compatível com asma brônquica e
um adulto apresentava na história pregressa patologia pulmonar prévia. Três
adultos apresentaram alterações funcionais ao exame de espirometria realizado
no ambulatório do CESTEH. Além disso, dois moradores (01 adulto e 01 criança)
referiram prurido em membros superiores e couro cabeludo relacionadas a
presença da poeira, tipo purpurina, segundo relato de exposição. As queixas e os
sintomas agravados destes moradores se relacionavam através da história colhida
com a exposição à fuligem da siderurgia, a partir do mês de agosto de 2010.
Este relato não constitui um estudo epidemiológico. O que se verificou
foram eventos sentinelas que demonstram a possibilidade de danos causados
pela exposição ambiental, relacionadas ao acidente ocorrido na região ou ao
processo de emissão dos poluentes produzidos pela fábrica. Diante deste fato é
necessária uma abordagem epidemiológica através de busca ativa de casos, e
estudos ecológicos com dados secundários sobre a morbidade e a mortalidade da
população exposta, dentre outros. Ainda, tomando-se em conta a proximidade das
habitações e da população no entorno da fábrica e possíveis danos à saúde de
curto prazo (efeitos agudos), médio e longo prazo, como câncer (efeitos crônicos),
esta população deveria ser colocada sob vigilância ambiental em saúde pelo
tempo em que ficar exposta e por pelo menos 20 anos após retirada da exposição.
Rio de Janeiro, 09 de maio de 2011
.
Hermano Albuquerque de Castro
Pesquisador Titular
CESTEH - ENSP - FIOCRUZ
http://www.ensp.fiocruz.br
Tel: 55 21 25982682
FAX: 55 21 22703219

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