segunda-feira, 7 de abril de 2014

O fim do governo de Sérgio Cabral e o suposto sucesso da segurança pública

Apreensão de drogas e armas coloca em xeque discurso do ex-governador


Na semana em que o governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral, assinou a sua carta de renúncia após sete anos de mandato, a mídia local noticiou uma série de matérias avaliando positivamente os resultados do setor que representou "o calcanhar de Aquiles" da sua gestão: a Segurança Pública. O próprio Cabral se esforçou nas últimas semanas para exaltar as suas ações na segurança do Estado, em discursos feitos nos eventos oficiais, destacando a instalação de 38 UPPs nas comunidades e a redução dos índices de criminalidade. 
No sábado (5/4), dois dias após o governador abandonar a sua cadeira no Palácio Guanabara, a Delegacia de Repressão a Entorpecentes apreendeu um caminhão usado para transportar frangos congelados carregado com drogas e armas que abasteceriam o tráfico nas favelas da Maré e de Manguinhos. Não seria essa apreensão uma prova de que os traficantes continuam agindo livremente nas favelas? Essa pode ser a maior prova de que os discursos de despedida de Cabral não passaram de uma enrolação, "maquiando" uma realidade de criminalidade que os moradores das comunidades cariocas estão tentando denunciar através dos veículos de comunicação ou em protestos. O fato é que os traficantes continuam nas favelas e engordando as suas vendas bem aos olhos das autoridades locais.
Os próprios números anunciados pelo Instituto de Segurança Pública demonstram que o ex-governador Cabral criou um cenário para disfarçar a pior crise do carro chefe de seus dois mandatos - as UPPs - e não prejudicar a candidatura de Luiz Fernando Pezão. Realmente, o número de assassinatos no Estado caiu de 6.133 em 2007 para 4.761 em 2013. Porém, houve aumento de 16,7% em relação aos 4.081 homicídios de 2012.
Na visita da presidente Dilma Rousseff ao Rio de Janeiro, na quarta-feira passada (2/4), Cabral pediu reforço federal na área da segurança. No sábado (5/4), as tropas do Exército e da Marinha entraram na comunidade da Maré, Zona Norte, para substituir parte do efetivo da Polícia Militar. O acordo veio após uma série de ataques a UPPs e um saldo de 11 policiais mortos em áreas pacificadas, em menos de dois anos. Mas essa estatística não apareceu nos discursos de despedida de Cabral.
Em entrevista ao jornal argentino Clarín, na sexta-feira passada (4/4), o secretário estadual de Segurança do Rio José Mariano Beltrame afirmou não saber até quando o Exército não será mais chamado a participar de operações no Estado e admitiu que a cidade tem áreas "muito difíceis". Beltrame disse ter a impressão de que o governo está agindo "com a aplicação de analgésicos" e o problema estrutural não foi resolvido. E ainda destacou o enorme esforço que o Estado está fazendo para capturar pessoas que deveriam estar presas há muito tempo. As declarações de Beltrame provam, mais uma vez, que o tráfico continua nas favelas e, consequentemente, oferendo uma rotina de insegurança para a população carioca.
A entrada de armas e drogas nas comunidades acontece sem grandes obstáculos, driblando as forças de segurança e as estratégias falhas do governo, há muitos anos, para modernizar as o comércio dos criminosos. Ainda existe um forte armamento nas mãos dos delinquentes, dando-os um poder de fogo muito maior que as polícias do Estado. É importante observar que no mundo do crime não existe pagamento à crédito, o que nos leva a deduzir o poder financeiro dos traficantes que agem nas comunidades do Rio, que possuem verba suficiente para pagar à vista um caminhão carregada de armas de última geração e drogas sofisticadas. E como esses criminosos conseguem tanto dinheiro para fortalecer o seu comércio? E como esses negócios fluem tão facilmente nas comunidades? 
No ano passado, seis fuzis que seguiam para o Rio de Janeiro foram apreendidos em Miranda, na rodovia que liga Corumbá a Campo Grande. Um dos fuzis era antiaéreo, com capacidade de derrubar aeronaves. Notícias dessa natureza e como a do caminhão apreendido pela Delegacia de Repressão a Entorpecentes nos permite avaliar o poderio dos traficantes. Mas também nos credencia a avaliar que os discursos de Cabral e as últimas notícias positivas sobre segurança pública só existem no mundo "fantasioso" de um governador que ainda tenta reverter uma impopularidade provocada pelo uso de helicóptero oficial para passear com a família e até com o cachorro, por viagens suntuosas para a França,amizade com empreiteiros como Fernando Cavendish, da construtora Delta e, principalmente, pelos altos custos da reforma do estádio do Maracanã para a Copa.

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