domingo, 25 de março de 2012

Plantando nas nuvens

A viabilidade econômica não está demonstrada, mas os custos ecológicos da agricultura tradicional estimulam a construção de fazendas verticais nos centros urbanos. Na Coreia do Sul, já existem prédios produzindo alfaces. Em Nova York, há projetos para torres agrícolas de 30 andares
No futuro, quem quiser comprar morangos poderá ir a um arranha-céu de 30 andares envidraçados, ao lado de casa, e procurar em cada piso a produção do cultivo da sua escolha. O prédio será urbaníssimo, mas até certo ponto: trata-se, mesmo, de uma roça high tech produtora, o ano todo, de alface, espinafre, ervas aromáticas, frutas, legumes, frangos e peixes. A cena pode parecer ficção científica, mas para os idealizadores das fazendas verticais deverá ser realidade em curto prazo.

Sete bilhões de bocas para alimentar serão provavelmente 9 bilhões em 2050. Como arranjar comida para todos? As áreas de cultivo serão cada vez mais escassas, longínquas e a demanda de produção, cada vez maior. Se o ser humano vive em residências alinhadas verticalmente para aproveitar o espaço urbano, por que não usar o mesmo conceito para a agricultura? As fazendas verticais serão o próximo passo.


Foto: Divulgação
Dickson Despommier: era arranhacéus agrícolas.

A ideia de agricultura intensiva em canteiros verticais existe pelo menos desde o início do século 20, mas o conceito de um sistema agrícola fechado em arranha-céu foi proposto pela primeira vez pelo ecólogo norte-americano Dickson Despommier, professor de microbiologia da Universidade de Columbia, em Nova York, autor do livro the vertical farm.
"As pessoas que são contra as fazendas verticais são do mesmo tipo das que eram contra o voo tripulado porque Deus não nos deu asas."

Em 1999, Despommier lançou um desafio aos seus alunos: adaptar as hortas urbanas existentes nos telhados de prédios da cidade de Nova York para alimentar o maior número possível de habitantes. Em suas pesquisas, ele calculou que uma fazenda vertical instalada num edifício de 30 andares poderia alimentar 50 mil pessoas. Se o número de prédios fosse multiplicado, seria possível alimentar uma cidade inteira.


Fotos: Rural Development Administration

Teoria e prática
A ideia já foi adotada por diversos arquitetos ao redor do mundo, que imaginaram projetos futurísticos de prédios verdes, nas quais o urbano e o rural se misturam. Na prática, entretanto, nenhum arranha-céu agrícola já foi construído. A viabilidade comercial do empreendimento não foi demonstrada, sobretudo tendo em vista o alto custo do metro quadrado urbano e os gastos de energia dos projetos. A especulação imobiliária não dá sinal de perder a rentabilidade para a produção agrícola.

As fazendas verticais de Despommier são arranha-céus de 30 andares, onde plantas e animais são criados em ambiente fechado, com temperatura, umidade, emissão de gás carbônico e iluminação controladas. Na teoria, poderiam produzir mais e de maneira mais ecológica do que os métodos usados pela agricultura tradicional. A principal vantagem é a proximidade com o consumidor, diminuindo os custos de transporte e as emissões de gases de efeito estufa decorrentes.


Fotos: Rural Development Administration
Fazenda vertical em Suwon, na Coreia do Sul.

Em tese, todas as plantas cultiváveis por hidroponia – o cultivo sem solo, em solução de água e nutrientes minerais – seriam aceitas nas fazendas verticais. De acordo com os defensores do conceito, o consumo de água seria 90% menor do que na agricultura tradicional. Em alguns casos também podem ser usadas técnicas de aeroponia – o cultivo de plantas com raízes aéreas alimentadas por gotas de nutrientes.

É claro que a inexistência de fazendas verticais em operação alimenta o ceticismo dos críticos. A calefação e a iluminação artificial por meio de lâmpadas LEDs, em substituição à luz do sol, consomem muita energia, em vários países proveniente da queima de combustíveis fósseis, o que encareceria o projeto em termos econômicos e ecológicos. “Antes de qualquer coisa, devem ser feitos testes em fazendas-protótipo; a Coreia do Sul e o Japão já estão fazendo isso”, afirma Despommier à PLANETA.

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Fonte: Revista Planeta
Texto Marcelo Paes

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