Interessante este processo a caminho da sustentabilidade que algumas empresas trilham. O aprendizado é grande, os erros são muitos, a preocupação com a imagem é imensa, mas quando a vontade é de acertar, ok. A CSA, por exemplo, acaba de fazer contato com nosso blog para contestar a notícia que publicamos aqui sobre o acordo que assinaria hoje com pescadores da região da Baía de Sepetiba e com a secretaria do meio ambiente do estado. No texto, fizemos uma memória das denúncias do Ministério Público contra a empresa por ter causado danos ao ar da região. Para a empresa, ficou parecendo que fizemos um link entre uma coisa e outra. Esclarecemos: uma coisa é o acordo com pescadores; outra coisa é a poluição ambiental. Mas, avançando na notícia, fato é que, segundo o diretor de sustentabilidade da empresa, Luiz Claudio Castro, o acordo assinado ontem é uma segunda versão porque o primeiro acordo, feito em 2006 pela Feema, órgão ambiental da época, era ruim.
O contato acabou rendendo uma entrevista com Luiz Claudio Castro, com quem já havíamos falado outras vezes. Abaixo, o resultado de nossa conversa:
O GLOBO - Por que o primeiro acordo, feito em 2006, era ruim?
LUIZ CLAUDIO CASTRO - Ele previa a maior parte do gasto em compra de pescado. Na verdade, os pescadores estavam precisando de uma série de coisas estruturantes.
O GLOBO - Como assim? Vocês iriam gastar R$ 14,6 milhões para comprar peixe dos pescadores? E o que vocês iriam fazer com tanto peixe?
LUIZ CLAUDIO CASTRO - Não tínhamos como comprar, claro. Mesmo que pedíssemos para eles entregarem para todas as escolas de Santa Cruz, era impossível, porque os pescadores precisavam beneficiar os peixes para fazer isso. Então, não tínhamos como comprar, nem eles tinham como vender. Ficamos num nó. O que aconteceu foi que os pescadores fizeram uma série de pedidos nas audiências públicas e a Feema incorporou esses pedidos e transformou em obrigação.
O GLOBO - Bem, então o acordo feito hoje é maior, está atendendo aos pescadores da região?
LUIZ CLAUDIO CASTRO - Houve convergência de interesses com os pescadores e o estado. Nós nos sentamos à mesa e fizemos uma revisão de todos os projetos. Para isso foi fundamental uma associação dos pescadores, chamada Epa, que somou esforços, levou um conceito de coletividade. Temos agora um projeto estruturado, com fábricas de gelo localizadas em locais para beneficiá-los, com a compra de caminhões de gelo, com locais adequados para embarque e desembarque de pescados....
O GLOBO - Pensando em tornar sustentável a presença da empresa na Baía, vocês não pensam em tentar despoluí-la? Afinal, a CSA tem tamanho suficiente para se tornar protagonista nesta iniciativa, mesmo que outras, como a Usiminas e a EBX estejam também se instalando ali...
LUIZ CLAUDIO CASTRO - Tem duas questões aí: a primeira é o passivo ambiental imenso deixado pela Ingá Mercantil (nos anos 90 a empresa abandonou o terreno com água contaminada por metais pesados) , que está sendo assumido e resolvido pela Usiminas. A outra questão é que há uma série de pequenos estabelecimentos ao longo do Rio Guandu que geram efluentes complicados e sem controle. Qualquer atuação mais direta na ponta do resultado é enxugar gelo. O que é preciso é criar uma mudança para controlar as fontes. De qualquer maneira, posso lhe garantir que a Baía não está totalmente morta, ainda h á manguezais, ainda tem vida ali. E se a gente consegue multiplicar a economia local e gerar melhoria para a população, já melhora bastante.
O GLOBO - Quantos funcionários de vocês moram na Zona Oeste?
LUIZ CLAUDIO CASTRO - Dos nossos 5.500 empregados da operação temos 61% da região. Por isso a ponta de Santa Cruz já está passando por um processo de revitalização urbana bem interessante.
O GLOBO - Mas revitalização urbana requer bons serviços locais, requer parceria com o estado...
LUIZ CLAUDIO CASTRO - Sim, fizemos parceria com o estado de R$ 14 milhões para beneficiar a região. Preciso garantir que o funcionário que eu emprego não vá embora quando começar a ganhar mais, buscando um lugar melhor para morar. Preciso garantir isso, inclusive com uma qualificação profissional que começa com o reforço escolar.
O GLOBO - Então vamos falar agora da questão da fuligem (a empresa foi multada duas vezes por ter lançado fuligem no ar)... Vocês já fizeram algo para resolver definitivamente o problema?
LUIZ CLAUDIO CASTRO - A CSA é a primeira siderúrgica brasileira totalmente montada no Brasil dentro do regime democrático? Perdemos a referência, mas montar uma fábrica assim é difícil...cometem-se alguns erros...
O GLOBO - Bem, mas é de se esperar que vocês estejam prontos para enfrentar esse desafio, né?
LUIZ CLAUDIO CASTRO - Claro, estamos sim, só queria dizer que temos uma curva de aprendizagem, ajuste de processo. Fizemos toda uma revisão de processos, melhorias em equipamentos, mexemos na comunicação interna... De qualquer maneira, posso garantir que sim, causamos incomodos sérios, mas nunca houve violação de padrão de qualidade do ar...
O GLOBO - Bem, aproveitando que estamos falando com você, e na esteira do caso Zara, que foi denunciada semana passada porque encontraram pessoas trabalhando em condições análogas à escravidão em sua cadeia produtiva, como a CSA cuida disso? Já houve denúncias dando conta de que há chineses trabalhando na fábrica sem carteira assinada e que não poderiam nem sair às ruas...
LUIZ CLAUDIO CASTRO - Tem uma farta documentação de que isso não é verdade, é pura fantasia.... Temos ainda 30 chineses trabalhando conosco, sim, mas todos vieram de avião, podem sair... As duas empresas mãe - a alemã Thyssen Krup e a brasileira Vale - assinaram pacto contra trabalho escravo. E conhecemos bem a nossa cadeia. Nunca levaremos esse susto.
Fonte O Globo
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