sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Mulher do ano: Anitta, Nadia ou Heley?


Uma revista masculina brasileira concedeu à cantora Anitta o prêmio de Mulher do Ano. Depois de saber da escolha, ela disse: “Quando soube que seria eleita a Mulher do Ano da [revista] parei para recapitular tudo que fiz em 2017 e só assim me dei conta de quanta coisa aconteceu.” Com esse título, Anitta se junta ao grupo formado por Isabeli Fontana, Grazi Massafera, Maria Casadevall, Isis Valverde, Tatá Werneck e Taís Araujo, as seis vencedoras da categoria nos anos anteriores.
Não tenho absolutamente nada contra essa moça que começou a cantar aos oito anos de idade em um coral de igreja e que acabou depois se notabilizando por suas composições e interpretações de músicas funk. Não conheço as composições dela e tudo o que sei se limita a notas e fotos que vejo de vez em quando em revistas semanais de jornalismo e nos noticiários – algumas fotos bem ousadas, diga-se de passagem.
Cada um é livre para fazer o que gosta e o que pode para “vencer na vida”. O que questiono é o título dado a ela pela revista. Por que “Mulher do Ano”? Que critérios os editores levaram em conta para fazer essa escolha? Fama? Discos vendidos? Projeção na mídia? Influência social e poder de lançar tendências? Se os critérios fossem outros, eu gostaria de propor outras “mulheres do ano”.

A Global Graphene Challenge Competition é uma competição internacional promovida pela empresa sueca Sandvik. O objetivo é procurar soluções sustentáveis e inovadoras ao redor do mundo que ajudem a criar novas utilizações para o grafeno, material extremamente fino, derivado do carbono, transparente e 200 vezes mais forte que o aço. A vencedora mundial de 2016, anunciada no início deste ano, foi Nadia Ayad, recém-formada em Engenharia pelo Instituto Militar de Engenharia do Rio de Janeiro. O trabalho de Nadia concorreu com outros nove finalistas. Nadia criou um sistema de dessanilização e filtragem de água usando o grafeno, que possibilitará que milhões de pessoas tenham acesso à água potável com custo de energia reduzido.
Você ficou sabendo disso pela grande mídia? Garanto que não. Infelizmente, Nadia é outro cérebro nacional que poderá ir embora. Deverá prosseguir em seus estudos nos Estados Unidos ou na Inglaterra, países que certamente apoiarão suas pesquisas.

Quero ainda propor outra “mulher do ano”: a professora Heley de Abreu Silva Batista, de 43 anos, que morreu na noite do dia 5 de outubro após tentar salvar crianças de um incêndio criminoso causado pelo vigia Damião Soares dos Santos, no Centro Municipal de Educação Infantil Gente Inocente, em Janaúba, MG. Segundo a polícia, Heley teria tentado conter o agressor.
Diego Abreu, primo de Heley, disse à revista Veja que a professora tinha sido efetivada este ano na escola, que pertence à rede municipal de ensino. Segundo ele, a prima sempre foi uma professora zelosa. “Ela adorava crianças, tanto seus filhos quanto seus alunos. Amava a profissão, nem se importou com sua própria vida, salvou muitas crianças”, disse ele.
Quando mulheres como Nadia e Heley são esquecidas pelas pessoas e pela mídia em detrimento de cantoras de funk, atrizes e modelos, podemos ter certeza de que algo muito errado está acontecendo com a sociedade. Nadia, Heley e muitas outras mulheres dão duro todos os dias para estudar, trabalhar e ajudar a sustentar a família ou mesmo promover avanços tecnológicos que poderão salvar milhões de pessoas. Muitas delas são mulheres anônimas que nunca receberão um prêmio de “mulher do ano”, afinal, não se vestem de maneira ousada, não cantam músicas que agradam ao gosto popular, não estão sob os holofotes às vezes protagonizando escândalos calculados para chamar atenção e vender. São mulheres comuns que salvam vidas, educam gerações, ajudam a sustentar o pouco de humanidade que ainda nos resta. Mas, definitivamente, não são mulheres midiáticas. Continuarão morrendo ou indo embora do país sem que ninguém lhes conceda um título, um prêmio ou a notoriedade que suas conquistas merecem.
Há muitas “mulheres do ano” neste país, mas poucos conhecerão seus nomes.
Fonte: Michelson Borges



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