sexta-feira, 1 de julho de 2016

Empresa do grupo J&F pagou propina para receber recursos do FI-FGTS, diz delator

Valor financiado pelo fundo em favor da Eldorado totalizou R$ 940 milhões



BRASÍLIA — O ex-vice-presidente da Caixa Econômica Fábio Cleto disse em seu acordo de delação premiada que a empresa Eldorado — do grupo J&F, o mesmo do frigorífico JBS — pagou propina para obter recursos do fundo de investimentos FI-FGTS. Parte do dinheiro desviado foi para o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Cleto, que recebia uma parte menor da propina, disse ter sido beneficiado com R$ 1,68 milhão. O valor financiado pelo fundo em favor da Eldorado totalizou R$ 940 milhões.

As informações estão num pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, aceito pelo ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), para realizar operação de busca e apreensão em endereços de vários investigados. No documento, Janot diz que Joesley Batista, um dos donos da J&F, pediu em 2012 recursos no FI-FGTS para construir uma fábrica de celulose em Mato Grosso do Sul. A operação foi aprovada, com voto favorável de Cleto no Comitê de Investimentos do fundo. Depois, Cunha informou ao então vice-presidente da Caixa que ele receberia uma propina de R$ 680 mil.

Cerca de um ano depois, a Eldorado precisou descumprir um dos itens do acordo, que a impedia de se endividar acima do indicado no contrato. Cleto conseguiu flexibilizar esse ponto, medida que, segundo Janot, era incomum, uma vez que poderia alterar todo o equilíbrio da operação. Por esse motivo, Cleto receberia mais R$ 1 milhão.

Janot destacou que o doleiro Lúcio Bolonha Funaro — ligado a Cunha e que também teria participação no esquema — era amigo de Joesley Batista. Foi ele inclusive quem apresentou Cleto ao empresário. Funaro, Cleto e Joesley estiveram juntos nove vezes, disse Janot, uma delas em viagem ao Caribe. Por essas razões, Janot pediu busca e apreensão na casa de Joesley, mas não na residência dos outros sócios da J&F.

"Se a relação entre Lúcio Bolonha Funaro e Joesley Batista ultrapassa o aspecto 'profissional', é possível que haja elementos de convicção na residência de Joesley. Reforça essa possibilidade o fato de que apenas um dos três sócios da J&F, o Joesley, ter sido apontado como participante das tratativas de pagamento da propina pelo colaborador. Assim, faz sentido, ao menos a princípio, que ele tenha feito o pagamento sem o conhecimento dos demais sócios e levado as provas disso para sua residência, onde o acesso deles é mais restrito", escreveu Janot.

 
GRUPO BR VIAS
Segundo Janot, Cleto citou pagamento de propina pela empresa Viarondon Concessionária Rodovias S/A, do grupo BR Vias, que conseguiu um financiamento de R$ 300 milhões. Cleto disse ter recebido R$ 120 mil pelo negócio. Um dos sócios é Henrique Constantino, da família proprietária da empresa aérea Gol.

"Cleto afirmou que Lúcio Bolonha Funaro tinha relacionamento com Henrique Constantino e que, então, a solicitação para aprovação da operação foi feita por Funaro, por intermédio de Eduardo Cunha. Ao ser questionado de quem foi cobrada a propina, Cleto afirmou não saber, mas, em vista da proximidade de Funaro com Henrique Constantino, acredita que tenha sido deste último", escreveu Janot.

Cleto disse também ter recebido R$ 76 mil de propina da empresa Cone S/A, controlada pela Moura Dubeux. Nesse caso, não há informação do valor da operação financiada pelo FI-FGTS.

 
OUTRO LADO
Em nota, a Eldorado afirmou que desconhece os motivos que levaram à operação desta sexta-feira e declarou ter atuado de forma transparente e dentro da legalidade:

"A Eldorado confirma que a Polícia Federal realizou busca e apreensão em suas dependências em São Paulo na manhã de hoje. A companhia desconhece as razões e o objetivo desta ação e prestou todas as informações solicitadas. A Eldorado sempre atuou de forma transparente e todas as suas atividades são realizadas dentro da legalidade. A companhia se mantém à disposição para prestar quaisquer esclarecimentos adicionais", diz o texto divulgado pela empresa.

Fonte: O Globo


 

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