BRASÍLIA — Depois de dizer que a Comissão de Direitos Humanos da Câmara era “dominada por Satanás”, o que causou reação negativa até mesmo de colegas de partido, o deputado Marco Feliciano (PSC-SP) adotou nova ofensiva para se desvencilhar das acusações de racismo. O parlamentar procurou 30 pastores negros em Porto Velho no último fim de semana, fez fotos com cada um deles e pretende divulgá-las para mostrar que não discrimina negros, ao contrário da acusação de crime de preconceito de raça ou cor em curso no Supremo Tribunal Federal (STF).
Em Porto Velho, Feliciano participou de um congresso da Igreja Assembleia de Deus. A milhares de fiéis, o pastor e deputado mostrou que a crise no Congresso não o constrange. Pelo contrário: na pregação feita na noite de domingo, o deputado capitalizou com o episódio. Disse estar precisando de ajuda e pediu aos fiéis que comprem seus produtos — CDs, DVDs, livros — e que fizessem ofertas a ele. Feliciano afirmou ainda no discurso ser exemplo para os fiéis, que estavam ali para ver um “mito”, que vem resistindo a “ameaças de morte”. O deputado chegou a falar que os brasileiros ainda ouvirão um presidente da República cumprimentar seus eleitores com “a paz do senhor Jesus”.
Antes da pregação, o deputado pediu apoio de pastores para continuar no cargo. Feliciano ressaltou a eles que não vai renunciar ao cargo e que tem o respaldo da bancada evangélica no Congresso Nacional.
— A bancada foi até o presidente da Câmara e obteve a garantia de que fico no cargo — disse o presidente da Comissão de Direitos Humanos, conforme relatos de pastores e deputados que participaram do evento em Porto Velho.
Antes de ir à capital de Rondônia, Feliciano esteve num culto em Passos (MG), na última sexta-feira, ocasião em que disse que a comissão estava “dominada por Satanás” antes de sua chegada à presidência. No fim da manhã desta segunda-feira, a deputada Antônia Lúcia (PSC-AC), que também é evangélica, disse que renunciaria à vaga de primeira vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos por se sentir ofendida pelas declarações de Feliciano.
Deputada cogitou renúncia
Por meio da assessoria de imprensa da liderança do PSC, o líder do partido, André Moura (SE), confirmou que Antônia Lúcia cogitou renunciar à vaga, mas os dois voltarão a conversar novamente sobre isso hoje. Antônia Lúcia pleiteou a presidência da comissão junto com Feliciano. Se ele cair, o nome dela é o mais cotado para assumir a vaga.
Feliciano usou o Twitter para explicar as declarações. Afirmou que usava a palavra “Satanás” como sinônimo para “adversário”. “Quando cito Satanás estar em locais de trabalho, falo sobre adversários. Satanás ou Satã (do hebraico) significa adversário/acusador”, afirmou o deputado no Twitter. A assessoria do deputado voltou a dizer que foram declarações feitas em uma igreja e não em atividade política. Feliciano contou que conversou com Antônia Lúcia e pediu desculpas que ela teria aceito.
O deputado iria hoje falar com líderes partidários da Câmara sobre sua permanência na presidência da comissão, mas o encontro foi adiado pelo presidente da Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que se recupera de cirurgia de hérnia feita na semana passada. A reunião foi marcada para o próximo dia 9.
Deputados contrários a Feliciano vão entrar com recurso na Mesa Diretora da Casa pedindo a anulação da eleição dele. À noite, cerca de 40 militantes do movimento gay fizeram uma vigília com velas em frente ao Congresso. Eles voltaram a pedir que Feliciano renuncie ao cargo de presidente da comissão.
Fonte: O Globo
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