sábado, 27 de abril de 2013

Prefeitura do Rio suspende apoio de R$ 8 milhões à OSB

Com medida, orçamento do conjunto sofre redução de 20%


Conflito. Ao suspender apoio à Orquestra Sinfônica Brasileira, Paes alegou investimento em eventos esportivos
Foto: Marcelo Carnaval/5-12-2011 / Agência O Globo 
Conflito. Ao suspender apoio à Orquestra Sinfônica Brasileira, Paes alegou investimento em eventos esportivos Marcelo Carnaval/5-12-2011 / Agência O Globo
RIO - Uma nova e inesperada nuvem negra paira sobre a Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB). A prefeitura do Rio acaba de suspender, por tempo indeterminado, a parceria que tinha há 20 anos com a fundação que administra o conjunto. Isso significa que a OSB perderá 20% de seu orçamento anual: R$ 8 milhões dos cerca de R$ 40 milhões de que dispõe anualmente.
Ao explicar a medida, a prefeitura diz que ela faz parte de um contingenciamento que atinge diversas outras áreas. Os músicos, por sua vez, afirmam que a cultura foi deixada de lado, em detrimento das obras relacionadas aos grandes eventos do calendário municipal — Copa do Mundo e Jogos Olímpicos. Em meio a mais uma crise, há quem tema pelo futuro da orquestra.
A decisão da prefeitura de suspender a parceria com a Fundação Orquestra Sinfônica Brasileira (FOSB) foi comunicada à sua diretoria por meio de uma carta. Com data de 18 de março, ela leva a assinatura do prefeito Eduardo Paes. No texto, ele explica que não manterá o apoio porque a prefeitura precisa fazer um grande aporte de verba na preparação da cidade para os eventos esportivos dos próximos anos.
O anúncio atinge em cheio o conjunto, que luta para sair do vermelho — em dezembro, o atual superintendente da FOSB, Ricardo Levisky, disse ao GLOBO que faltavam pelo menos R$ 5 milhões ao caixa da instituição para “fechar a conta”. Além disso, em 2011, a OSB enfrentou uma grave crise institucional, que opôs o regente titular, Roberto Minczuk, aos músicos. Por um lado, o maestro pretendia fazer avaliações de desempenho, alegando a busca por excelência. Por outro, a grande maioria da orquestra se insurgiu contra a proposta, temendo demissões em massa e lembrando que já havia passado por testes para ingressar no grupo. A consequência foi a criação da OSB Ópera & Repertório (OSB O&R), composta pelos dissidentes. Até hoje, o grupo divide o orçamento com a OSB.
OSB aguarda reunião com Paes
A notícia vem à tona na semana em que a fundação, que ainda é patrocinada por Ministério da Cultura, Vale, BNDES e Carvalho Hosken, comemorava o fato de ter batido um recorde: vendeu todos os ingressos de sua temporada na Sala São Paulo, que começa em maio.
— Para a OSB, a suspensão do apoio representa uma perda de receita importante — reconhece o secretário municipal de Cultura, Sérgio Sá Leitão. — Mas o volume de recursos repassado à orquestra é muito grande. Individualmente, trata-se do maior beneficiário único da secretaria. É o mais pesado que temos.
Apesar da suspensão, Sá Leitão diz que a prefeitura tem, sim, interesse em apoiar a orquestra e que estuda uma nova forma de fazê-lo. Assim que recebeu o comunicado do prefeito, em março, a FOSB solicitou uma reunião com Paes e com o secretário. Até agora, no entanto, o encontro não foi marcado.
— Estudamos a possibilidade de não aportar recursos diretamente, mas de permitir que a OSB use espaços públicos, como a Cidade das Artes, sem pagar aluguel — explica o secretário. — Essa será uma das propostas da reunião.
Em 2002, quando o então prefeito do Rio, Cesar Maia, decidiu erguer a Cidade das Artes, na Barra da Tijuca, a prefeitura se comprometeu a fazer do espaço a casa da OSB. O centro cultural foi aberto em janeiro, sob a administração do produtor e ex-secretário de Cultura Emilio Kalil, mas até agora a OSB não assumiu o palco.
Procurados pelo GLOBO, músicos da OSB alegam a existência de uma cláusula em seus contratos que os impede de comentar com a imprensa problemas da orquestra. Em anonimato, afirmam, no entanto, que o temor já tomou conta do conjunto. A parceria com a prefeitura foi resultado de reivindicações dos próprios músicos, que chegaram a passar quatro meses sem receber salários
Andrea Ernest, diretora do Sindicato dos Músicos Profissionais do Estado do Rio de Janeiro (SindMusi), critica a decisão da prefeitura.
— A notícia atinge a classe como um todo. Deve gerar desemprego e instabilidade. O músico não deve pagar pela indefinição da prefeitura — diz ela. — Essa medida nos parece um paradoxo. Toda a verba do Rio está indo para obras, para a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Estão deixando para trás o lado humano da cidade. Há um imenso esvaziamento no setor cultural.
Fundação ainda acredita em negociação
Apesar do quadro, Ricardo Levisky nega a existência de uma crise e diz que a orquestra não corre riscos. Numa entrevista por e-mail, explica que a verba da prefeitura é “fundamental não só pelo percentual que representa, mas também porque é um recurso livre, ao contrário da verba destinada via leis de incentivo”. Levisky lamenta que a informação sobre a suspensão da parceria venha à tona enquanto ele ainda enxerga espaço para negociação com Paes:
— Acreditamos que podemos ainda reverter a situação. A OSB é uma septuagenária. Já enfrentou crises profundas. Esta não é uma delas. Apostamos na capacidade de diálogo com a prefeitura e com o prefeito, que sempre foi muito positivo em relação ao trabalho que vínhamos desenvolvendo.
Mas, para o caso de ser realmente afetado pelo corte, Levisky já vislumbra um caminho:
— Faremos o que temos feito desde 2005, ampliar a capacidade de financiamento da fundação e manter o projeto de qualidade das orquestras (OSB e OSB O&R).
Procurado pelo GLOBO, o prefeito Eduardo Paes não se manifestou sobre o assunto.

Fonte: O Globo

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