Declarações ocorrem após manifestantes passarem a cobrar posição de presidente
sobre o caso; deputado usará ato religioso para se defender
BRASÍLIA - Duas ministras de Dilma Rousseff colocaram ontem o Planalto no
centro do debate sobre a permanência do deputado pastor Marco Feliciano (PSC-SP)
na presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara.
Uma moção aprovada pelo Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial e
assinada pela ministra Luiza Bairros, publicada no Diário Oficial da União,
afirma que a indicação do pastor para o cargo contraria os propósitos da
referida comissão porque "a trajetória e a postura do deputado em relação à
população LGBT e à população negra se revelam preconceituosas e excludentes,
causando insatisfação aos mais diversos segmentos sociais". No texto ainda se
define como "inaceitável" a permanência dele na presidência.
Em visita a uma exposição sobre holocausto na Câmara, a ministra Maria do
Rosário, dos Direitos Humanos, reforçou as críticas. "É lamentável que a cada
dia nos deparamos com mais um pronunciamento, mais uma intervenção que incita o
ódio, o preconceito, algo que já ultrapassa as barreiras da comissão na Câmara e
diz respeito a todos", disse a ministra. "A Câmara certamente encontrará uma
solução ou o próprio Ministério Público porque incitar a violência e o ódio é
atitude ilegal, inconstitucional e as autoridades também estão sujeitas à lei",
afirmou.
As manifestações ocorrem no momento em que Dilma passa a ser pressionada -
nas redes sociais e atos públicos - a se posicionar em relação a Feliciano.
No Congresso, Feliciano ouvirá hoje de líderes partidários um novo pedido
para que renuncie. O deputado, porém, tem afirmado que não deixará o posto, para
o qual foi eleito após um acordo entre os mesmos partidos que hoje pedem para
ele sair. Feliciano diz ainda que vai defender a tese segundo a qual a comissão
trabalha normalmente - os trabalhos são conduzidos de portas fechadas para
evitar manifestações.
O deputado também pretende usar um evento da Assembleia de Deus em Brasília
hoje no qual mais de 20 mil pastores vão manifestar seu apoio a ele.
O PSC também tem saído em defesa de seu mais notório filiado. O partido, que
é da base aliada de Dilma, criticou as manifestações das ministras e sugeriu uma
ação orquestrada. "As ministras representam o governo, então isso só pode ser
ação do governo. Eu não estou entendendo nada. Nós, do PSC, nunca pedimos para o
PT colocar A ou B em uma comissão", afirmou o vice-presidente nacional do PSC,
Everaldo Pereira. Ele disse que a manutenção de Feliciano é um assunto encerrado
para o partido e que o destaque dado a frases polêmicas pode ser entendido como
uma perseguição religiosa. "Agora estão querendo pegar as opiniões, impedir a
liberdade de expressão dele. Parece perseguição religiosa. Eu pensei que o
preconceito e a intolerância não existissem mais no Brasil."
Parlamentares que defendem a saída do pastor veem nas ações de integrantes do
governo uma consequência da crise que afeta a Câmara. "As posições dele
(Feliciano) são tão destrutivas que é impossível que quem defenda os direitos
humanos possa ficar calado e é isso que está acontecendo com essas manifestações
das ministras. A Casa precisa encontrar uma saída", disse ontem a deputada Erika
Kokay (PT-DF).
Fonte: EDUARDO BRESCIANI - O Estado de S.Paulo
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