RIO - No imbróglio do destino do lixo na turística Angra dos Reis, na Costa Verde, a emenda acabou saindo pior do que o soneto. Depois de ser impedida de usar um aterro sanitário considerado inadequado no início do ano, a cidade voltou a operar um antigo lixão. Desde janeiro, as quase 200 toneladas diárias de dejetos do município estão sendo despejadas a céu aberto sobre uma área, no bairro Ariró, que já foi um lixão, fechado há cinco anos. Nas bordas do Parque Estadual Cunhambebe e do Parque Nacional da Serra da Bocaina, a paisagem agora descortina uma nuvem de urubus e uma fétida montanha de resíduos, por onde o chorume escorre para dentro de um riacho de águas cristalinas.
O panorama de descaso começou a ganhar forma em janeiro, depois de o aterro sanitário particular operado pela Infornova/Locanty na mesma região ter sido reprovado pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea), que considerou o controle ambiental do local inadequado. A solução emergencial anunciada pelo secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc, foi transportar o lixo para o Centro de Tratamento de Resíduos (CTR) de Seropédica, a 116 quilômetros de distância.
Para essa operação, os caminhões recolhem o lixo na cidade e o levam para o bairro Ariró, que passou a servir de área de transbordo. Dali, os dejetos deveriam seguir até Seropédica em carretas. Mas, segundo vereadores da Comissão de Saúde da Câmara Municipal, a quantidade de lixo despejada tem sido quase o dobro da capacidade de transporte para o centro de tratamento. O resultado é que, em pouco mais de três meses, os resíduos se acumularam sem um controle ambiental apropriado.
De um morro no lixão reativado, pode-se ver ainda outros dois grandes vazadouros de detritos, dos quais nenhuma parte é levada para Seropédica. Um acumula entulho e galhos de podas de árvores. O outro recebe o lixo hospitalar de Angra. Seringas, agulhas usadas, frascos de remédios e todo tipo de material das unidades de saúde, muitos com restos de sangue, são dispensados no solo.
A área rural tem em seu entorno uma fazenda de gado e dois vilarejos, Ariró e Zungu. Num caminho de menos de quatro quilômetros, por exemplo, o riacho poluído pelo chorume deságua no Rio Ariró, que atravessa um manguezal até chegar ao mar da Baía da Ilha Grande, perto da Ponta do Partido, de condomínios e resorts.
Câmara faz notícia-crime
A situação levou a Comissão de Saúde da Câmara a apresentar, na última sexta-feira, notícia crime denunciando o lixão a órgãos como Ministério Público Federal, Ibama, Secretaria estadual do Ambiente e Inea.
— Encontramos uma série de irregularidades, da poluição das águas superficiais e do lençol freático a trabalhadores de chinelos e bermuda em meio ao lixo. E o transporte para Seropédica é feito por meio de contratos emergenciais, sem licitação, a um custo de R$ 3,5 milhões mensais, contra R$ 1,7 milhão gastos antes — afirma o vereador José Antônio Gomes (PCdoB), membro da comissão.
O Inea notificou a prefeitura de Angra a retirar todo o lixo de Ariró em 15 dias, prazo que vence na semana que vem. Segundo Júlio Avelar, superintendente do órgão na Baía da Ilha Grande, se o prazo não for cumprido, a área será interditada. Gerente de limpeza pública da Secretaria de Obras de Angra, Paulo Sevalho reconheceu que nove mil toneladas de lixo já se acumularam em Ariró, e disse que até sexta-feira a montanha de detritos estará desmontada.
Fim do despejo
O Inea notificou a prefeitura Angra dos Reis a retirar todo o lixo de Ariró em 15 dias, prazo que vence na semana que vem. Segundo Júlio Avelar, superintendente do órgão na Baía da Ilha Grande, se o prazo não for cumprido, a área será interditada. Também foi solicitado que o município pare de fazer o despejo de resíduo hospitalar.
Gerente de limpeza pública da Secretaria municipal de Obras de Angra, Paulo Sevalho reconheceu que, entre 10 de janeiro e 16 de fevereiro, cerca de sete mil toneladas de lixo se acumularam em Ariró. Ele disse que a Polícia Rodoviária Federal havia pedido que as carretas só começassem a circular após o carnaval. Explicou que, nesse período, foram preparados os contratos emergenciais para o transporte de resíduos.
Desde então, a Zadar passou a fazer o transbordo. Mas a empresa, segundo Sevalho, teve dificuldades operacionais. Em 20 de março, já havia cerca de nove mil toneladas de lixo em Ariró, o que fez a prefeitura convocar uma reunião e determinar que a empresa fizesse, no mínimo, 20 viagens diárias até Seropédica.
Embora o lixo não pare de chegar, o município garante que, até sexta-feira, a montanha de dejetos estará desmontada. Sobre o lixo hospitalar, Savelha disse que o descarte deste tipo de material sempre ocorreu de forma irregular em Angra, mas informou que a prefeitura prepara uma licitação para dar uma solução definitiva:
— Angra e Paraty têm 80% de seu território em áreas de preservação e não têm grandes extensões de áreas planas e adequadas para o lixo.
Fonte: O Globo
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