RIO e CONTAGEM - Depois de um julgamento que começou na segunda-feira e entrou pela madrugada desta sexta-feira, o ex-goleiro do Flamengo Bruno Fernandes, acusado de ser o mandante da morte da modelo Eliza Samudio, foi condenado a um total de 22 anos e 3 meses de prisão. De acordo com a sentença proferida pela juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues, no Fórum de Contagem, em Minas Gerais, o ex-atleta recebeu as penas de 17 anos e seis meses, em regime fechado, por homicídio triplamente qualificado; três anos e três meses, em regime aberto, pelo sequestro de Bruninho, seu filho com Eliza; e um ano e seis meses, em regime aberto, por ocultação de cadáver.
De acordo com a juíza, Bruno, a quem classificou de mandante do crime, demonstrou ser uma pessoa “fria, violenta e dissimulada”. O ex-goleiro não poderá recorrer em liberdade.
Por causa do benefício da progressão de regime, a tendência é de que a partir de 2017 ele poderá entrar com recurso para o regime semi-aberto, pois já cumpre pena há quase três anos na penitenciária Nelson Hungria, em Contagem. Cabisbaixo, Bruno não demonstrou reação na hora da sentença.
Em entrevista coletiva, o promotor de Justiça Henry Wagner Vasconcelos de Castro já declarou que vai recorrer da decisão do Tribunal do Júri.
- Esperava de 28 a 30 anos - afirmou.
Antes de ser divulgada a dosimetria da pena, o promotor comemorou no salão do júri. O defensor do ex-goleiro do Flamengo também adiantou que vai recorrer da sentença.
- Vamos entrar com a apelação - alegou.
Na leitura da sentença, a juíza Marixa Fabiane declarou que Bruno foi o mandante de uma “trama diabólica”.
"A vítima ficou no cativeiro esperando a operacionalização da morte. O réu acreditou que consumindo com o corpo a impunidade era certa", anotou a magistrada. Ainda segundo a juíza, o jogador é frio, violento e dissimulado.
- A supressão do corpo humano é a verdadeira violência da matéria, é um ato de desprezo e vilipêndio - afirmou, emendando que a ação foi meticulosamente planejada”.
No fim de suas considerações, na noite de quinta-feira, o promotor Henry Wagner apelou para os jurados condenarem o goleiro Bruno Fernandes por todos os crimes pelos quais ele era acusado.
— Peço Justiça, peço a condenação do réu Bruno Fernandes pela destruição da vida de Eliza Samudio, pela ocultação do cadáver e pelo duplo sequestro. Ele pensou: 'eu mato você e jogo em qualquer lugar'. Deus abençoe a cada um de vocês. Hoje esse promotor vai encontrar o travesseiro no lugar e dormirá — declarou.
Pouco antes, Henry Wagner exibiu fotos dos réus fazendo uma festa em 11 de junho de 2010, um dia após Eliza ter sido morta com requintes de crueldade.
— Estava todo mundo arrasado nesse domingo de luto — ironizou, mostrando fotos de Bruno, Macarrão, Jorge e Sergio Rosa Sales, o primo morto em 2012. — Eles foram festejar a morte de Eliza.
O promotor leu para os jurados trechos do depoimento de Jorge Luiz Lisboa, primo de Bruno, e peça-chave da investigação. Jorge apresentou detalhes sobre a morte de Eliza.
— De repente, o Neném (Bola) deu uma gravata nela. Saiu espuma branca da boca dela. Fiquei olhando aqui, arrepiei todo — leu o promotor.
Neste instante, a mãe de Eliza saiu do plenário chorando. Segundo relato de uma amiga, ela ficou impressionada com frieza de Bruno no plenário.
MP denunciará Zezé
Mais cedo, o promotor Henry Wagner disse que vai denunciar o policial aposentado José Lauriano de Assis Filho, o Zezé, da Polícia Civil de Minas Gerais, por envolvimento na trama que resultou na morte e ocultação de cadáver de Eliza.
— Zezé, minha gente, é o cara que chegou com o Bola para matar Eliza — afirmou.
No dia do crime, Macarrão entregou Eliza para um homem num carro preto antes de ser levada para a casa de Marcos Aparecido dos Santos, o Bola. O motorista do veículo, segundo sustenta o promotor, é o policial aposentado Zezé. Segundo o MP, ele e Bola são conhecidos de longa data.
O goleiro Bruno também prestou novo depoimento na última sessão do julgamento. Foi ele quem pediu para ser ouvido novamente pela juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues. O advogado Lúcio Adolfo perguntou a Bruno se ele sabia que Eliza ia morrer.
— Sabia e imaginava — respondeu o goleiro. — Pelas brigas constantes, pelas agressões do Macarrão e pelo fato de ter entregado ao Macarrão o dinheiro.
Depois da pausa para o almoço, o julgamento foi retomado às 15h49m, com o tempo para a argumentação da defesa. O primeiro a falar foi o advogado Francisco Simim, que representa Dayanne Rodrigues. Simim afirmou que "um dia chega a Justiça" não só para Dayanne, mas também para Bruno.
— Todo mundo ficou emocionado com o depoimento desse moço (Bruno). Não existem lágrimas de crocodilo, não — disse.
Já o advogado Tiago Lenoir disse aos jurados que eles deviam julgar o caso com base nas provas do processo, sob o risco de "enorme prejuízo à pessoa humana".
— Amanhã pode ser um de vocês — afirmou ele.
Lenoir defendeu a absolvição de Dayanne dizendo que Bruninho ficou "sob os cuidados" dela, não sob cativeiro. Ele argumentou que ela já teve um prejuízo moral, "ao estar de forma indireta com determinadas pessoas nesse procedimento".
— Diante do desaparecimento da mãe Eliza, poderia ser exigido dela (Dayanne) outra conduta a não ser cuidar do bebê? — perguntou o advogado aos jurados.
Lúcio Adolfo, o terceiro advogado a falar, criticou o trabalho da polícia e do Ministério Público. Segundo ele, as investigações produziram "provas incompletas". Adolfo disse ainda que se surpreendeu com declarações do promotor, que acusou Bruno de envolvimento com traficantes de Minas Gerais e do Rio. O advogado disse também que o promotor fez um "cineminha" no júri com imagens de reportagens sobre o caso.
— Essa é a prova de Ministério Público — ironiza, emendando que o atestado de óbito de Eliza "alimentou a imprensa".
O advogado classificou de "excuso, indecente e imoral" um suposto acordo no júri de Luiz Henrique Romão, o Macarrão, em novembro, para que ele fosse condenado com uma pena mínima. Adolfo criticou também a acusação contra o policial aposentado conhecido como Zezé:
— Ninguém quer fazer o correto. Investigar esse caso e julgar o processo depois. É outro factoide — disse Adolfo.
Adolfo chegou a convidar os jurados a se levantarem e se recusarem a julgar o caso sem que sejam finalizadas as investigações.
— Pretende-se um julgamento quando a investigação sequer terminou — completou. O advogado afirmou, em seguida, que houve uma "aceleradinha" das autoridades para prender Bruno.
Promotor acusa Bruno de envolvimento com o tráfico de drogas
O quarto dia de julgamento de Bruno e Dayanne começou por volta de 9h30m com um pedido do advogado de defesa Tiago Lenoir para interrogar novamente a ex-mulher do goleiro. Bruno foi retirado do plenário para que Dayanne fosse ouvida novamente. Ela respondeu apenas as perguntas da juíza. Após o interrogatório, Tiago Lenoir afirmou que acredita na absolvição de Dayanne.
— Ela vai sair daqui absolvida — disse ele.
Em seguida, Bruno foi interrogado mais uma vez. Ele evitou perguntas do Ministério Público e da juíza. Ela afirmou que só iria responder ao seu advogado Lúcio Adolfo. Após cerca de dez minutos de interrogatório, Bruno foi retirado do plenário, dizendo que não queria mais responder nem mesmo às perguntas do próprio advogado Lúcio Adolfo. Pouco antes, o promotor Henry Wagner Castro Vasconcelos, responsável pela acusação, havia interrompido o interrogatório para dizer que "nunca houve acordo" com a defesa dos réus. O advogado Lúcio Adolfo concordou. Após a saída de Bruno do plenário, o advogado do ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, Ércio Quaresma, pediu a palavra.
Os debates entre defesa e acusação começaram por volta de 11h30m em clima acalorado, depois do interrogatório do goleiro Bruno. Primeiro a falar, o promotor Henry Wagner Castro Vasconcelos afirmou categoricamente que o goleiro Bruno Fernandes tem envolvimento com o tráfico de drogas.
— O Bruno sempre foi envolvido com o narcotráfico. Quem ditava as regras no Bairro Liberdade, em Ribeirão das Neves, era o Bruno, o Macarrão e o Cleiton — declarou.
A partir de relatos de Vinícius, identificado como segurança do traficante Nem da Rocinha, o promotor afirmou que o jogador frequentava festas na Favela da Rocinha, na companhia dos jogadores Marcinho e Adriano. Nos eventos, havia grande oferta de maconha e cocaína.
O promotor afirmou que uma “canalha quadrilha”, formada por seus primos e pelo "jagunço" Macarrão, calou Eliza em 4 de junho de 2010, quando ela foi sequestrada e trazida para o sítio do goleiro em Esmeraldas, na Grande BH. O promotor lembrou que a modelo disse, pouco tempo antes do crime, que estava vivendo sob ameaças.
— Ela falou claramente que se encontrava ameaçada de morte por Bruno — afirmou ele. — O futebol perdeu um goleiro razoável, mas em compensação a dramaturgia ganhou um ótimo ator.
Com os dados do notebook de Eliza, o promotor Henry Wagner apresentou para o júri — formado por cinco mulheres e dois homens — mensagens da vítima para uma colega. O texto foi escrito em Santos, cidade onde Eliza morava, em 10 de abril de 2010. Nesta época, segundo o promotor, o ex-goleiro do Flamengo passou a tratá-la de maneira amável para atraí-la.
— "Até hoje não entendi porque o Bruno mudou da água para o vinho. Não consigo entender. Estou ‘encasquetada’. Vou para a terra do Bruno, vou só com passagem de ida. Vão me matar lá, o Bruno é maluco" — disse o promotor, lendo a mensagem de Eliza.
O promotor disse que, no dia 4 de junho de 2010, Eliza recebeu "várias ligações" de Macarrão. Ele mostrou seis folhas de ligações do celular de Eliza para mostrar que, depois daquele dia, ela não usou mais o telefone. Para a Justiça, Eliza foi morta no dia 10 de junho daquele ano.
— Eliza estava privada de seu celular no sítio de Bruno — afirmou.
A prova mostrada pelo membro do MP contradiz o goleiro. Em seu depoimento nesta quarta-feira, o réu declarou que a vítima estava em seu sítio como uma convidada. O promotor disse ainda que todos que estavam no jogo do time 100%, no dia 6 de junho de 2010, negaram ter visto Eliza. Bruno participou do jogo, e Fernanda Gomes de Castro, a ex-namorada, foi vista com o goleiro. Em novembro do ano passado, ela foi condenada pelos sequestros de Eliza e de Bruninho.
— Eliza não estava porque não estava em liberdade — disse ele, referindo-se à estada dela no sítio do goleiro.
Ainda durante a primeira fase do debate, o promotor leu a carta enviada por Bruno a Macarrão já na cadeia, em que ele pede que o "irmão" use o "plano B". Segundo o promotor, o plano B seria Macarrão assumir a culpa pela morte de Eliza.
Henry Vasconcelos iniciou os debates dizendo que Bruno esteve a "pisar como se fosse um inseto, uma barata, a mãe de um filho seu". Em seguida, emendou:
— Uma mentira contada várias vezes não se torna verdade. Não há poder, não há influência que possa tirar ninguém dos braços firmes da Justiça.
Segundo o promotor, Bruno avisou Eliza que não desejava a gravidez. Ele teria feito um acordo para que ela não se concretizasse. Além disso, Henry Wagner afirmou que há prova de que Eliza teve relações sexuais com Bruno "reiteradamente", ao contrário do que alega o goleiro. Bruno diz que transou com Eliza uma única vez, de 20 minutos.
— Eliza nunca fez o exame de DNA porque Bruno não quis — disse o promotor. De acordo com Henry Wagner, o goleiro se negava a atender seu único pedido, que era pagar os exames pré-natais.
O promotor disse que Bruno falou para Eliza: "Eu quero que você morra", e ainda que a modelo estava fugindo de Bruno, mas o goleiro passou a pesquisar onde ela poderia se encontrar.
Dayanne: "Sinto muito medo de Zezé"
Em novo interrogatório, Dayanne disse que Luiz Henrique Romão, o Macarrão, e Bruno pediram que ela negasse que Bruninho estava com ela. Dayanne afirmou que recebeu uma ligação do policial aposentado José Lauriano de Assis Filho, o Zezé, que teve o nome envolvido no crime nesta terça-feira. Foi ele quem teria apresentado o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, para Macarrão. Na ligação, Zezé dizia que Macarrão já o tinha avisado de que ela estava com o bebê. O policial teria orientado Dayanne a não comparecer com a criança na delegacia, mesmo com o pedido da delegada que investigava o caso na época. No entanto, ela estranhou o envolvimento de Zezé, pois, segundo ela, Macarrão já havia pedido para negar para todo e qualquer policial onde estava Bruninho e entregar a criança a Wemerson Marques de Souza, o Coxinha. Ele era funcionário no sítio de Bruno e teria recebido o filho de Eliza das mãos de Dayanne na BR-040 (Belo Horizonte-Sete Lagoas) e o deixado com outra pessoa. Ela contou que Zezé estava nervoso e reforçou o pedido de Macarrão para que ela entregasse a criança a Coxinha.
— Foi a pedido do Luiz Henrique (o Macarrão) — disse Dayanne.
A ex-mulher do goleiro disse que aceitou deixar a criança com Coxinha porque ele já tinha cuidado de Bruninho no sítio. Dayanne contou que recebeu várias ligações de Zezé no percurso do sítio para a rodovia onde deixou a criança com o então funcionário de Bruno. Ela declarou ainda ter muito medo do policial aposentado, alvo de novo inquérito da polícia e Ministério Público (MP).
— Sinto muito medo. Nesse momento agora demais. Pelo que disseram ontem (quarta-feira), ele está envolvido nisso — disse Dayanne.
Em suas falas, o promotor Henry Wagner Vasconcelos mostrou documentos que comprovam que Dayanne e Zezé travaram três conversas pelo telefone em 25 de junho de 2010, perto da Ceasa, em Contagem. Neste dia, Bruninho, filho de Bruno com Eliza Samudio, foi entregue por Dayanne a Wemerson Marques de Souza, o Coxinha. O bebê foi encontrado no mesmo dia no Bairro Liberdade, em Ribeirão das Neves, terra de Bruno.
Depois de ser interrogada, Dayanne deixou o plenário. Em seguida, o advogado Ércio Quaresma, do réu Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, pediu a palavra.
Fonte: O Globo
De acordo com a juíza, Bruno, a quem classificou de mandante do crime, demonstrou ser uma pessoa “fria, violenta e dissimulada”. O ex-goleiro não poderá recorrer em liberdade.
Por causa do benefício da progressão de regime, a tendência é de que a partir de 2017 ele poderá entrar com recurso para o regime semi-aberto, pois já cumpre pena há quase três anos na penitenciária Nelson Hungria, em Contagem. Cabisbaixo, Bruno não demonstrou reação na hora da sentença.
Em entrevista coletiva, o promotor de Justiça Henry Wagner Vasconcelos de Castro já declarou que vai recorrer da decisão do Tribunal do Júri.
- Esperava de 28 a 30 anos - afirmou.
Antes de ser divulgada a dosimetria da pena, o promotor comemorou no salão do júri. O defensor do ex-goleiro do Flamengo também adiantou que vai recorrer da sentença.
- Vamos entrar com a apelação - alegou.
Na leitura da sentença, a juíza Marixa Fabiane declarou que Bruno foi o mandante de uma “trama diabólica”.
"A vítima ficou no cativeiro esperando a operacionalização da morte. O réu acreditou que consumindo com o corpo a impunidade era certa", anotou a magistrada. Ainda segundo a juíza, o jogador é frio, violento e dissimulado.
- A supressão do corpo humano é a verdadeira violência da matéria, é um ato de desprezo e vilipêndio - afirmou, emendando que a ação foi meticulosamente planejada”.
Por quatro votos a três, os jurados absolveram Dayanne Rodrigues, ex-mulher de Bruno, dos crimes de sequestro e cárcere privado de Bruninho. Mais cedo, o promotor Henry Wagner Vasconcelos Castro havia pedido a absolvição da ré. De acordo com ele, “Dayanne foi manobrada por todos os envolvidos, incluindo o policial aposentado José Lauriano de Assis Filho, o Zezé”, que, segundo o Ministério Público, também teria participado da trama. Durante a sua fala, o promotor chamou o ex-goleiro de “canalha” e “criminoso facínora”.
Eliza Samudio conheceu Bruno numa festa em maio de 2009, quando tinha 24 anos. Ela engravidou do então goleiro do Flamengo e em outubro o denunciou à polícia, acusando-o de tê-la sequestrado, com ajuda de dois amigos, mantendo-a em cárcere privado e obrigando-a a tomar uma substância abortiva. Bruninho acabou nascendo em 10 de fevereiro de 2010. Em junho de 2010, Eliza desapareceu. Em novembro do ano passado, no primeiro julgamento do caso, Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, braço direito de Bruno, foi condenado a 15 anos de prisão, por homicídio triplamente qualificado, sequestro e cárcere privado de Eliza. Já Fernanda Gomes de Castro, ex-namorada do ex-goleiro, foi condenada a cinco anos por sequestro e cárcere privado de Eliza e Bruninho.No fim de suas considerações, na noite de quinta-feira, o promotor Henry Wagner apelou para os jurados condenarem o goleiro Bruno Fernandes por todos os crimes pelos quais ele era acusado.
— Peço Justiça, peço a condenação do réu Bruno Fernandes pela destruição da vida de Eliza Samudio, pela ocultação do cadáver e pelo duplo sequestro. Ele pensou: 'eu mato você e jogo em qualquer lugar'. Deus abençoe a cada um de vocês. Hoje esse promotor vai encontrar o travesseiro no lugar e dormirá — declarou.
Pouco antes, Henry Wagner exibiu fotos dos réus fazendo uma festa em 11 de junho de 2010, um dia após Eliza ter sido morta com requintes de crueldade.
— Estava todo mundo arrasado nesse domingo de luto — ironizou, mostrando fotos de Bruno, Macarrão, Jorge e Sergio Rosa Sales, o primo morto em 2012. — Eles foram festejar a morte de Eliza.
O promotor leu para os jurados trechos do depoimento de Jorge Luiz Lisboa, primo de Bruno, e peça-chave da investigação. Jorge apresentou detalhes sobre a morte de Eliza.
— De repente, o Neném (Bola) deu uma gravata nela. Saiu espuma branca da boca dela. Fiquei olhando aqui, arrepiei todo — leu o promotor.
Neste instante, a mãe de Eliza saiu do plenário chorando. Segundo relato de uma amiga, ela ficou impressionada com frieza de Bruno no plenário.
MP denunciará Zezé
Mais cedo, o promotor Henry Wagner disse que vai denunciar o policial aposentado José Lauriano de Assis Filho, o Zezé, da Polícia Civil de Minas Gerais, por envolvimento na trama que resultou na morte e ocultação de cadáver de Eliza.
— Zezé, minha gente, é o cara que chegou com o Bola para matar Eliza — afirmou.
No dia do crime, Macarrão entregou Eliza para um homem num carro preto antes de ser levada para a casa de Marcos Aparecido dos Santos, o Bola. O motorista do veículo, segundo sustenta o promotor, é o policial aposentado Zezé. Segundo o MP, ele e Bola são conhecidos de longa data.
O goleiro Bruno também prestou novo depoimento na última sessão do julgamento. Foi ele quem pediu para ser ouvido novamente pela juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues. O advogado Lúcio Adolfo perguntou a Bruno se ele sabia que Eliza ia morrer.
— Sabia e imaginava — respondeu o goleiro. — Pelas brigas constantes, pelas agressões do Macarrão e pelo fato de ter entregado ao Macarrão o dinheiro.
Depois da pausa para o almoço, o julgamento foi retomado às 15h49m, com o tempo para a argumentação da defesa. O primeiro a falar foi o advogado Francisco Simim, que representa Dayanne Rodrigues. Simim afirmou que "um dia chega a Justiça" não só para Dayanne, mas também para Bruno.
— Todo mundo ficou emocionado com o depoimento desse moço (Bruno). Não existem lágrimas de crocodilo, não — disse.
Já o advogado Tiago Lenoir disse aos jurados que eles deviam julgar o caso com base nas provas do processo, sob o risco de "enorme prejuízo à pessoa humana".
— Amanhã pode ser um de vocês — afirmou ele.
Lenoir defendeu a absolvição de Dayanne dizendo que Bruninho ficou "sob os cuidados" dela, não sob cativeiro. Ele argumentou que ela já teve um prejuízo moral, "ao estar de forma indireta com determinadas pessoas nesse procedimento".
— Diante do desaparecimento da mãe Eliza, poderia ser exigido dela (Dayanne) outra conduta a não ser cuidar do bebê? — perguntou o advogado aos jurados.
Lúcio Adolfo, o terceiro advogado a falar, criticou o trabalho da polícia e do Ministério Público. Segundo ele, as investigações produziram "provas incompletas". Adolfo disse ainda que se surpreendeu com declarações do promotor, que acusou Bruno de envolvimento com traficantes de Minas Gerais e do Rio. O advogado disse também que o promotor fez um "cineminha" no júri com imagens de reportagens sobre o caso.
— Essa é a prova de Ministério Público — ironiza, emendando que o atestado de óbito de Eliza "alimentou a imprensa".
O advogado classificou de "excuso, indecente e imoral" um suposto acordo no júri de Luiz Henrique Romão, o Macarrão, em novembro, para que ele fosse condenado com uma pena mínima. Adolfo criticou também a acusação contra o policial aposentado conhecido como Zezé:
— Ninguém quer fazer o correto. Investigar esse caso e julgar o processo depois. É outro factoide — disse Adolfo.
Adolfo chegou a convidar os jurados a se levantarem e se recusarem a julgar o caso sem que sejam finalizadas as investigações.
— Pretende-se um julgamento quando a investigação sequer terminou — completou. O advogado afirmou, em seguida, que houve uma "aceleradinha" das autoridades para prender Bruno.
Promotor acusa Bruno de envolvimento com o tráfico de drogas
O quarto dia de julgamento de Bruno e Dayanne começou por volta de 9h30m com um pedido do advogado de defesa Tiago Lenoir para interrogar novamente a ex-mulher do goleiro. Bruno foi retirado do plenário para que Dayanne fosse ouvida novamente. Ela respondeu apenas as perguntas da juíza. Após o interrogatório, Tiago Lenoir afirmou que acredita na absolvição de Dayanne.
— Ela vai sair daqui absolvida — disse ele.
Em seguida, Bruno foi interrogado mais uma vez. Ele evitou perguntas do Ministério Público e da juíza. Ela afirmou que só iria responder ao seu advogado Lúcio Adolfo. Após cerca de dez minutos de interrogatório, Bruno foi retirado do plenário, dizendo que não queria mais responder nem mesmo às perguntas do próprio advogado Lúcio Adolfo. Pouco antes, o promotor Henry Wagner Castro Vasconcelos, responsável pela acusação, havia interrompido o interrogatório para dizer que "nunca houve acordo" com a defesa dos réus. O advogado Lúcio Adolfo concordou. Após a saída de Bruno do plenário, o advogado do ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, Ércio Quaresma, pediu a palavra.
Os debates entre defesa e acusação começaram por volta de 11h30m em clima acalorado, depois do interrogatório do goleiro Bruno. Primeiro a falar, o promotor Henry Wagner Castro Vasconcelos afirmou categoricamente que o goleiro Bruno Fernandes tem envolvimento com o tráfico de drogas.
— O Bruno sempre foi envolvido com o narcotráfico. Quem ditava as regras no Bairro Liberdade, em Ribeirão das Neves, era o Bruno, o Macarrão e o Cleiton — declarou.
A partir de relatos de Vinícius, identificado como segurança do traficante Nem da Rocinha, o promotor afirmou que o jogador frequentava festas na Favela da Rocinha, na companhia dos jogadores Marcinho e Adriano. Nos eventos, havia grande oferta de maconha e cocaína.
O promotor afirmou que uma “canalha quadrilha”, formada por seus primos e pelo "jagunço" Macarrão, calou Eliza em 4 de junho de 2010, quando ela foi sequestrada e trazida para o sítio do goleiro em Esmeraldas, na Grande BH. O promotor lembrou que a modelo disse, pouco tempo antes do crime, que estava vivendo sob ameaças.
— Ela falou claramente que se encontrava ameaçada de morte por Bruno — afirmou ele. — O futebol perdeu um goleiro razoável, mas em compensação a dramaturgia ganhou um ótimo ator.
Com os dados do notebook de Eliza, o promotor Henry Wagner apresentou para o júri — formado por cinco mulheres e dois homens — mensagens da vítima para uma colega. O texto foi escrito em Santos, cidade onde Eliza morava, em 10 de abril de 2010. Nesta época, segundo o promotor, o ex-goleiro do Flamengo passou a tratá-la de maneira amável para atraí-la.
— "Até hoje não entendi porque o Bruno mudou da água para o vinho. Não consigo entender. Estou ‘encasquetada’. Vou para a terra do Bruno, vou só com passagem de ida. Vão me matar lá, o Bruno é maluco" — disse o promotor, lendo a mensagem de Eliza.
O promotor disse que, no dia 4 de junho de 2010, Eliza recebeu "várias ligações" de Macarrão. Ele mostrou seis folhas de ligações do celular de Eliza para mostrar que, depois daquele dia, ela não usou mais o telefone. Para a Justiça, Eliza foi morta no dia 10 de junho daquele ano.
— Eliza estava privada de seu celular no sítio de Bruno — afirmou.
A prova mostrada pelo membro do MP contradiz o goleiro. Em seu depoimento nesta quarta-feira, o réu declarou que a vítima estava em seu sítio como uma convidada. O promotor disse ainda que todos que estavam no jogo do time 100%, no dia 6 de junho de 2010, negaram ter visto Eliza. Bruno participou do jogo, e Fernanda Gomes de Castro, a ex-namorada, foi vista com o goleiro. Em novembro do ano passado, ela foi condenada pelos sequestros de Eliza e de Bruninho.
— Eliza não estava porque não estava em liberdade — disse ele, referindo-se à estada dela no sítio do goleiro.
Ainda durante a primeira fase do debate, o promotor leu a carta enviada por Bruno a Macarrão já na cadeia, em que ele pede que o "irmão" use o "plano B". Segundo o promotor, o plano B seria Macarrão assumir a culpa pela morte de Eliza.
Henry Vasconcelos iniciou os debates dizendo que Bruno esteve a "pisar como se fosse um inseto, uma barata, a mãe de um filho seu". Em seguida, emendou:
— Uma mentira contada várias vezes não se torna verdade. Não há poder, não há influência que possa tirar ninguém dos braços firmes da Justiça.
Segundo o promotor, Bruno avisou Eliza que não desejava a gravidez. Ele teria feito um acordo para que ela não se concretizasse. Além disso, Henry Wagner afirmou que há prova de que Eliza teve relações sexuais com Bruno "reiteradamente", ao contrário do que alega o goleiro. Bruno diz que transou com Eliza uma única vez, de 20 minutos.
— Eliza nunca fez o exame de DNA porque Bruno não quis — disse o promotor. De acordo com Henry Wagner, o goleiro se negava a atender seu único pedido, que era pagar os exames pré-natais.
O promotor disse que Bruno falou para Eliza: "Eu quero que você morra", e ainda que a modelo estava fugindo de Bruno, mas o goleiro passou a pesquisar onde ela poderia se encontrar.
Dayanne: "Sinto muito medo de Zezé"
Em novo interrogatório, Dayanne disse que Luiz Henrique Romão, o Macarrão, e Bruno pediram que ela negasse que Bruninho estava com ela. Dayanne afirmou que recebeu uma ligação do policial aposentado José Lauriano de Assis Filho, o Zezé, que teve o nome envolvido no crime nesta terça-feira. Foi ele quem teria apresentado o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, para Macarrão. Na ligação, Zezé dizia que Macarrão já o tinha avisado de que ela estava com o bebê. O policial teria orientado Dayanne a não comparecer com a criança na delegacia, mesmo com o pedido da delegada que investigava o caso na época. No entanto, ela estranhou o envolvimento de Zezé, pois, segundo ela, Macarrão já havia pedido para negar para todo e qualquer policial onde estava Bruninho e entregar a criança a Wemerson Marques de Souza, o Coxinha. Ele era funcionário no sítio de Bruno e teria recebido o filho de Eliza das mãos de Dayanne na BR-040 (Belo Horizonte-Sete Lagoas) e o deixado com outra pessoa. Ela contou que Zezé estava nervoso e reforçou o pedido de Macarrão para que ela entregasse a criança a Coxinha.
— Foi a pedido do Luiz Henrique (o Macarrão) — disse Dayanne.
A ex-mulher do goleiro disse que aceitou deixar a criança com Coxinha porque ele já tinha cuidado de Bruninho no sítio. Dayanne contou que recebeu várias ligações de Zezé no percurso do sítio para a rodovia onde deixou a criança com o então funcionário de Bruno. Ela declarou ainda ter muito medo do policial aposentado, alvo de novo inquérito da polícia e Ministério Público (MP).
— Sinto muito medo. Nesse momento agora demais. Pelo que disseram ontem (quarta-feira), ele está envolvido nisso — disse Dayanne.
Em suas falas, o promotor Henry Wagner Vasconcelos mostrou documentos que comprovam que Dayanne e Zezé travaram três conversas pelo telefone em 25 de junho de 2010, perto da Ceasa, em Contagem. Neste dia, Bruninho, filho de Bruno com Eliza Samudio, foi entregue por Dayanne a Wemerson Marques de Souza, o Coxinha. O bebê foi encontrado no mesmo dia no Bairro Liberdade, em Ribeirão das Neves, terra de Bruno.
Depois de ser interrogada, Dayanne deixou o plenário. Em seguida, o advogado Ércio Quaresma, do réu Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, pediu a palavra.
Fonte: O Globo
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