Rio de Janeiro – No lugar de construir um condomínio, ao custo de R$ 105
milhões, para onde serão removidas as famílias da Vila Autódromo, comunidade
pobre que ocupa uma área anexa ao local onde será construído o Parque Olímpico,
os moradores propuseram uma reurbanização da favela ao preço R$ 13,5
milhões.
A proposta elaborada pelos moradores da Vila Autódromo, com a assessoria da
Universidade Federal Fluminense (UFF) e Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ), foi apresentada e discutida hoje (11) na sede do Instituto dos
Arquitetos do Brasil (IAB-RJ).
De acordo com o presidente da Associação de Moradores, Pescadores e Amigos da
Vila Autódromo (Ampava), Altair Guimarães, o projeto alternativo (Plano Popular
da Vila Autódromo- PPVA) foi entregue ao prefeito Eduardo Paes, em agosto do ano
passado. Segundo ele, a prefeitura foi convidada a comparecer ao debate, hoje,
no IAB-RJ.
“A Vila Autódromo é uma comunidade tranquila, calma, sem tráfico de droga,
sem milícia. Uma comunidade em que o governo não investiu para dar um tratamento
digno para as famílias que moram aqui. Mas, na verdade, eles trabalham para nos
tirar daqui porque é uma terra cara. Mas é uma terra que nos foi dada pelo
governo do estado, um governo que lá estava e tinha uma identificação social com
as famílias de baixa renda e que acabou titulando esta comunidade, dando o
título do terreno”.
Guimarães disse que a vila tem 450 terrenos titulados há mais de 20 anos e
não se trata de uma ocupação irregular. A comunidade Vila Autódromo existe há
quase 40 anos e a prefeitura pretende realocar as famílias para o condomínio
Parque Carioca, que começou a ser construído no mês passado em um terreno que
fica a 1 quilômetro do local.
“A prefeitura vai dizer que é lindo, que vai ser tudo de bom lá [no Parque
Carioca]. Mas tudo de bom para a gente não é quatro paredes, o que está em jogo
aqui não é quatro paredes, mas a história desta comunidade, o vínculo desta
comunidade: crianças que nasceram aqui e vão perder suas identidades com outros
amigos quando sair daqui. Eles podiam me dar uma mansão, mas eu prefiro ficar
aqui, em uma cabana”, disse.
O professor Carlos Vainer, coordenador do Instituto de Pesquisa e
Planejamento Urbano da UFRJ, entidade que deu apoio técnico para a comunidade
elaborar o PPVA, confirma que a ocupação da Vila Autódromo é reconhecida pelo
Instituto de Terras do Rio de Janeiro e ressaltou que o plano alternativo de
reurbanização do local é mais simples e viável.
“Nós consideramos que o plano é absolutamente consistente do ponto de vista
técnico, viável do ponto de vista ambiental, inclusive porque prevê a existência
de uma faixa de proteção marginal à lagoa, de 15 metros, como exige a
legislação. É um plano democrático, porque foi discutido e deliberado pela
comunidade ”.
De acordo com Vainer, a prefeitura não tem o direito de fazer remoções
forçadas na área, e o PPVA tem todas as condições de ser posto em prática. “O
que nós queremos é que o plano seja comparado ao projeto da prefeitura, que é
socialmente injusto, que é segregador, que expulsa a população daquela área, que
faz com que o Parque Olímpico se transforme em um legado apenas para os
condomínios de alta classe média e de luxo”, ressaltou.
A prefeitura informou que não trabalha com a hipótese de projeto alternativo,
e que a questão está sendo tratada pela subprefeitura da Barra e Jacarepaguá e
pela Secretaria de Habitação. A assessoria não soube informar que encaminhamento
foi dado ao projeto da Ampava.
A subprefeitura por sua vez declarou que não tem conhecimento de nenhum
projeto alternativo e que já existe uma área destinada para fazer casas
populares. Os moradores que tiverem interesse vão ser retirados da Vila
Autódromo e receberão um apartamento nesse local. Mas não informou o que vai
acontecer com quem não aceitar a remoção.
A Secretaria de Habitação informou que também desconhece o projeto
alternativo e que já iniciou as obras de construção do condomínio Parque
Carioca, na Estrada dos Bandeirantes, em Curicica, comr 900 unidades
habitacionais para receber os moradores da Vila Autódromo e de outras
comunidades. Tudo dentro do Programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal.
A previsão é que o condomínio fique pronto em 2014 e as remoções só ocorram
depois que o local for entregue.
Fonte:Akemi Nitahara
Repórter da Agência Brasil
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