Brasília - Esperar até 2020 para adotar ações ambiciosas visando a reduzir as
emissões de gases de efeito estufa pode significar investimentos em tecnologias
caras e desconhecidas e também alto custo para as populações que serão obrigadas
a se submeter a regras mais rígidas. Esse é o recado do Pnuma, órgão das Nações
Unidas responsável pelas questões de meio ambiente, divulgado hoje (21).
Para a entidade, ainda estamos longe de alcançar os níveis ideais de emissões
para evitar maiores impactos provocados pelo aquecimento da Terra. Na avaliação
do Pnuma, os governos precisam adotar imediatamente ações mais rigorosas
envolvendo setores da economia para que a elevação da temperatura do planeta
ocorra abaixo dos 2 graus Celsius (ºC).
"Em 2010, chegamos a 49 gigatones de emissões por ano. Para manter a
trajetória [de elevação da temperatura abaixo dos 2 ºC] teríamos que reduzir
pela metade as emissões mundiais, em 40 anos. É um esforço muito grande. É
reduzir energia fóssil, quando na verdade está crescendo. Não se faz isso sem
grandes inovações tecnológicas. Quanto mais cedo começarmos, mais se reduz as
necessidades futuras", explicou o economista ambiental, Ronaldo Seroa.
O relatório anual do Pnuma - que poderá ser usado como referência nas
negociações em torno das mudanças climáticas, marcadas para a próxima semana, no
Catar - aponta que experiências adotadas por alguns países mostraram-se eficazes
para diminuir as emissões de dióxido de carbono, por exemplo. Pela primeira vez,
o levantamento, que é feito há três anos, indica casos bem-sucedidos em alguns
países e podem ser adaptados para demais nações.
Seroa foi um dos oito pesquisadores brasileiros que acompanharam o
levantamento do Pnuma, que teve a participação de 55 especialistas. Segundo o
estudo, medidas de eficiência em setores como o de edificações, transporte e de
redução do desmatamento teriam um forte impacto nos resultados esperados pelos
países comprometidos em manter a elevação da temperatura abaixo dos 2ºC.
Pelas projeções definidas no documento do Pnuma, a lacuna entre o que se
emite hoje, a projeção para 2020 e o nível ideal apontado pelos cientistas é 14
gigatones. Especialistas apontam que os investimentos nos setores prioritários
poderiam significar uma redução para 8 gigatones de emissões por ano, nesse
cálculo.
"O mundo está ciente que tem trabalho a fazer que é o acordo global de 2020
[Plataforma de Durban que envolverá compromissos de todos os países na redução
de emissões]," lembrou Seroa.
Ate lá, o Brasil pretende alcançar a meta de reduzir as emissões entre 36% a
39%. Quase 70% delas vêm do desmatamento. "O relatório mostra que estamos
cumprindo as metas. Na parte de agricultura, o Brasil ainda tem o Programa ABC
[Agricultura de Baixo Carbono] que é bastante ousado. Os indicadores mostram que
o Brasil está avançando", acrescentou.
Os resultados alcançados pelo governo brasileiro e pela Costa Rica na
preservação de florestas, com o combate ao desmatamento e a criação de áreas
protegidas, foram apontados pelo Pnuma como exemplares. Os países em
desenvolvimento e as economias emergentes têm aguardado a definição de uma
compensação internacional pelas ações de redução de emissões.
Segundo Jorge Hargrave, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea), Brasil e Costa Rica perceberam que as medidas já trazem
benefícios locais. "Embora espera avanços [nas negociações em torno] do Redd
[sigla, em inglês, de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação
Florestal] as ações foram tomadas independentemente. Foram os benefícios que os
países enxergaram antes dessa compensação, como a questão da água e do uso de
biodiversidade", avaliou.
No caso da Costa Rica, as áreas de proteção criadas pelo governo atraíram
turistas para a região e mais dinheiro. "Com arranjo técnico você pode replicar
isto para todos os países. O monitoramento [de florestas] é uma medida barata. É
preciso comprometimento político e investimento nas áreas protegidas,
principalmente em fronteiras agrícolas", destacou.
Hargrave lembrou que a preservação de florestas precisa caminhar junto com
medidas de setores que impactam o meio ambiente. "Não adianta a ação do Ibama,
se você oferece créditos subsidiados para expansão agrícola sem qualquer
condicionante ambiental", ressaltou o pesquisador.
Fonte: Carolina Gonçalves
Repórter da Agência Brasil
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