Brasil é considerado “lixeira tóxica” na produção de alimentos. Dos 50 defensivos mais utilizados no país, 22 são proibidos na Europa.
No Dia Mundial de Combate aos Agrotóxicos, 3 de dezembro, os Ministérios Públicos Federal e do Trabalho no Mato Grosso do Sul realizaram evento em Campo Grande para alertar a população sobre os riscos da utilização de defensivos agrícolas. Pesquisas apontam prejuízos ao meio ambiente e danos (imediatos e crônicos) na saúde de trabalhadores e consumidores, tanto pela ingestão, quanto pelo contato com os agrotóxicos.
De acordo com o Dossiê da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), lançado no evento, 70% dos alimentos no país estão contaminados por agrotóxicos. Entre 2007 e 2014, foram mais de 34 mil notificações por intoxicação nos hospitais públicos e, de 2000 a 2012, o uso de agrotóxicos cresceu 288% no Brasil.
“Câncer, suicídio, intoxicações… são muitos os danos já identificados em pesquisas pelo consumo e contato com agrotóxicos. A grande dificuldade é provar o nexo causal, já que as consequências do uso indiscriminado de defensivos surgem 10, 20 anos após a exposição de trabalhadores”, ressalta Cléber Folgado, da Universidade Estadual de Feira de Santana, na Bahia.
Para o procurador do Trabalho Leontino Ferreira de Lima Junior, “a sociedade tem o direito de ter acesso à informação, de saber exatamente o que está consumindo e quais são os riscos colocados na mesa das pessoas e de suas famílias”.
Lixeira tóxica – Em Mato Grosso do Sul, o agronegócio potencializa a exposição aos agrotóxicos e a fronteira seca com o Paraguai facilita o contrabando de defensivos. A situação é agravada pelo despreparo dos profissionais de saúde em identificar a correlação entre as doenças e o uso dos agrotóxicos, o que dificulta o dimensionamento dos impactos.
Na visão do pesquisador Cléber Folgado, o agronegócio produz mercadorias, enquanto a agroecologia põe comida na mesa. “Não é preciso de agrotóxicos para produzir comida. Há centenas de pessoas morrendo no campo sem saber o porquê.”
De acordo com a Abrasco, dos 50 agrotóxicos mais utilizados no Brasil, 22 são proibidos na União Europeia. Pelo alto consumo dos defensivos, o Brasil é considerado uma “lixeira tóxica”. Contudo, na visão de Alberto Feiden, pesquisador da Embrapa Pantanal, é possível mudar esse quadro. “É uma falácia dizer que é impossível produzir alimentos sem produtos químicos. Há como substituir os agrotóxicos por sistemas de manejo, um resgaste de práticas tradicionais em prol do reequilíbrio do meio ambiente”.
Fonte: Câmara de Cultura
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