A disposição do PGR Rodrigo Janot em apresentar denúncia contra Delcídio do Amaral no Supremo Tribunal Federal leva a uma pergunta obrigatória: e Eduardo Cunha?
Os jornais já trazem, hoje, que o senador -- preso no exercício do mandato, numa decisão vetada pela Constituição -- pode ser condenado a uma pena superior a quatro anos de prisão.
Vamos combinar. Quem acusa Delcídio de fazer um plano para obstruir a Justiça, a partir de um episódio que ainda precisa ser investigado e esclarecido, não pode ficar de braços cruzados diante da reação de Eduardo Cunha decisão do Partido dos Trabalhadores em exigir que responda no Conselho de Ética pelas contas na Suíça.
Não há como negar que o presidente da Câmara tornou-se um perigo público para a democracia e que sua forma de “ obstruir a Justiça” é muito mais grave do que uma promessa de mesada de R$ 50 000 para a família de um corrupto confesso como Nestor Cerveró, certo? Fuga para o Paraguai? Viagem de Falcon?
Se a acusação contra Delcídio se baseia numa gravação, sempre complicada, cujas circunstâncias ainda não foram totalmente esclarecidas, nem todas as dúvidas foram sanadas, a ação de Cunha fala por si.
Seu caso foi investigado em profundidade pelo ministério público, do Brasil e da Suíça. As conexões e ilegalidades estão estabelecidas. Várias testemunhas explicam a origem do dinheiro, contam casos, dão detalhes. Os fatos são coerentes. As contas secretas foram rastreadas e não há dúvida sobre sua origem.
Lembrando que a mais frequente das razões para se pedir a prisão preventiva de um cidadão é a ameaça a ordem pública, ninguém seria capaz de negar o alto nível de periculosidade assumido pelas ações de Eduardo Cunha. Você pode achar, erradamente em minha opinião, que há algum fundamento para se investigar a presidente.
Mas nenhuma pessoa pode negar que Eduardo Cunha só entrou em ação contra Dilma quando se tornou claro que esta era uma forma de tumultuar o exame de seu caso no Conselho de Ética. Ao fazer isso – mesmo que pudesse ter razão, o que não é o caso – ele está impedindo a Câmara e a Justiça de encontrar mais provas contra ele.
O plano é confundir, adiar, atrasar, adiar de novo, de novo, de novo...para ver se alguma coisa muda na paisagem política. Será impossível pensar numa recompensa por serviços prestados pela manobra contra a presidente?
Delcídio foi preso e encarcerado. Até hoje, não foi ouvido por seus pares, questão que tem incomodado o senador João Alberto, presidente da Comissão de Ética do Senado, que já demonstrou interesse em convocar Delcídio para prestar depoimento quando seu caso for discutido. " Eu votei contra a prisão porque acho que ele tem o direito de defesa," diz João Alberto, um senador maranhense orgulhoso pela disposição em dizer o que pensa.
"Já perdi votação em que eu era o único voto contra todos no plenário. Não me importei. No fim, um colega me abraçou e disse que eu tinha uma coragem que ele não teve."
João Alberto acha, por exemplo, que há pontos a favor de Delcídio. Um deles envolve a questão que muitos apontam como a mais grave da conversa gravada. . João Alberto recorda que, enquanto o senador disse que seria capaz de encontrar ministros do Supremo e convencê-los a dar um habeas corpus a Cerveró, os próprios juízes mencionados negaram peremptoriamente que essa conversa tenha ocorrido. "Essa negativa é boa para a defesa," diz João Alberto. " Mostra que o Delcídio não estava falando a verdade quando sugeriu que poderia ter influencia sobre o Supremo."
Enquanto Delcídio cumpre um silêncio forçado, Cunha faz o que quer, diz o que quer, quando quer. Não acho que deva ser preso.
Só questiono por que as injustiças -- como uma prisão que não atende requisitos constitucionais -- sempre ocorrem contra um lado só.
Fonte: 247 Paulo Moreira Leite - Brasil 247
PAULO MOREIRA LEITE
O jornalista e escritor Paulo Moreira Leite é diretor do 247 em Brasília
PAULO MOREIRA LEITE
O jornalista e escritor Paulo Moreira Leite é diretor do 247 em Brasília
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