Operação Purificação cumpre mandados de busca e apreensão contra policiais militares suspeitos de ligação com o tráfico. PMs eram lotados no batalhão de Caxias na época do ínicio das investigações
No mesmo mês — de férias — o policial liga para o amigo, o sargento André Antônio Lopes , o King Kong, para saber se têm direito a uma parte na propina. É informado, então, que vai receber R$ 600 e passa o número da conta bancária.
Outras escutas revelam as extorsões praticadas. Numa delas, o grupo sequestra três pessoas e exige R$ 200 mil. Os bandidos oferecem R$ 7 mil e o policial diz que o superior não aceitou a proposta. Os detidos vão para a 62ª (Imbariê).
Baile funk
Em quatro momentos das escutas, os policiais atribuem aos estrelas — como são conhecidos os oficiais — ordens para aumentar o valor das propinas.
Numa delas, um policial militar não identificado manda o traficante Willian Moreira da Silva, o Pit, cancelar o baile funk na favela Vai Quem Quer, em Nova Campina. E diz que a ordem é do “estrela abaixo do Dono”, numa alusão ao subcomandante do 15º BPM.
Erir Costa Filho (esq) e Beltrame em coletiva | Foto: Estefan Radovicz / Agência O Dia
O traficante Léo Centenário diz que não tem como pagar. Em outro momento, o sargento Odimar Mendes dos Santos diz para um traficante que o “estrela” mandou perguntar se o negócio (propina) está certo.
Como houve operação, o bandido se nega a dar os R$ 400 pedidos. Nesta terça-feira, mulheres de policiais presos choraram próximo ao ônibus em que eles estavam.
Vergonha: 63 presos
Ao todo, 63 PMs que atuaram no 15º BPM (Duque de Caxias) foram presos por receber propinas semanais para deixar de reprimir a venda de drogas em 13 favelas de Caxias.
Os negócios entre policiais e traficantes eram tão intensos que os chamados arregos eram pagos inclusive a quem estava de folga ou de férias e depositados em conta corrente. Em média, os bandidos pagavam R$ 2,5 mil por patrulha, onde trabalham quatro PMs.
A Polícia acredita que, no total, os agentes tenham recebido R$ 150 mil em propinas. Onze traficantes foram detidos. A quadrilha era chefiada por Carlos Braz Vitor da Silva, o Fiote, homem de confiança de Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, e que mesmo preso controlava a compra de drogas e pagamentos do tráfico.
Ao sair do Quartel-General da PM, no Centro, parte de policiais detidos é levada para o presídio Bangu 8 | Foto: André Luiz Mello / Agência O Dia
Um ano de investigação
A investigação, coordenada pela Subsecretaria de Inteligência e o Ministério Público, levou um ano e acompanhou conversas telefônicas entre PMs e traficantes. Os agentes serviam em destacamentos de seis bairros de Caxias e nos grupos de ações táticas, criados para coibir o tráfico.
Escutas autorizadas pela Justiça mostram rotina de extorsões praticadas pelos policiais quando propinas atrasavam ou não eram pagas. Para compensar, houve episódio em que o PM se comprometeu a depôr na Justiça a favor do bandido preso. Os militares foram presos em Bangu 8.
O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, espera pela expulsão sumária da polícia dos envolvidos em 30 dias. O comandante do 15º BPM, tenente-coronel Claudio Lucas Lima, foi exonerado.
Glossário
-Feitiço
Traficantes e policiais usam códigos e alguns chamam a atenção, como o Feitiço — usado na mistura de lidocaína e cafeína à cocaína para aumentar lucros.
Sintonia é como os PMs dizem que o agente está do lado do traficante e, Vento, é como a propina é chamada nas conversas. As Patamos são barcas.
-Cemitério
Locais para pagar as propinas. O sargento Wagner Teixeira Gonçalves, ao falar com o traficante Léo, diz que está a caminho do pé-junto (Cemitério) onde irá receber o "arrego". A ousadia era tanta, que até no destacamento bandidos iam entregar dinheiro.
-Doutor
Ex-diretor de presídio, Lemuel Santos de Santana era o ‘Doutor’ da quadrilha: encarregado de conseguir advogados.
-Geladeira
Sargento Emerson Vagner Costa Sousa combinou com traficante a entrega de escopeta. A arma seria deixada em uma geladeira. Ao pegar, o PM colocou R$ 300 no congelador.
Fonte: O Dia
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