RIO - Carro? Nem pensar, garantem Oscar, Veronica, Ieda, PH, Mônica e Flávia. Eles fazem parte de um grupo que decidiu vender seus automóveis, passando a andar de táxi, metrô, bicicleta e a pé nos deslocamentos diários. A opção não é motivo de arrependimento: todos comemoram os ganhos financeiros e de qualidade de vida.
Morador da Barra, o neurologista Oscar Bacelar só vai de táxi para os consultórios na própria Barra, em Botafogo e na Tijuca. Ele aproveita bem o tempo de percurso: faz ligações, responde a e-mails e até olha resultados de exames.
— Quando chego ao consultório, posso me dedicar mais às demandas do dia — conta.
As vantagens vão além. Oscar constatou que, mesmo no quesito despesa, andar de táxi sai mais barato. A cada semana, ele gasta R$ 200 nos três dias em que vai aos consultórios.
— Manter um carro é caro. Têm seguro, estacionamento, multas. Automóvel também não é investimento. Com a depreciação, um carro de R$ 60 mil, em dois anos, vale R$ 30 mil. Perdem-se R$ 15 mil por ano, mais de R$ 1 mil por mês.
Ao longo deste ano, o médico escreveu seu último livro (“Uma gota é um pingo”) durante viagens de táxi. O livro de frases, de cem páginas, foi lançado há duas semanas.
— Escrevia no iPhone e mandava, por e-mail, para mim mesmo — conta.
Oscar tomou a decisão de vender um dos carros há dois anos. O outro fica para a família: para levar as crianças à escola, fazer compras e sair nos fins de semana.
Moradora do Leblon, a gestora cultural Flávia Faria Lima vendeu seu automóvel há um ano e meio. Também só viu vantagens:
— Se computarmos o que gastamos com manutenção, IPVA e guardadores, andar de táxi é mais prático e econômico.
Para viagens curtas, Flávia tem a solução:
— A gente aluga ou vai no carro de amigos.
Poucas vagas, custo de manutenção alto, engarrafamentos e estresse no trânsito. Esses foram os motivos que levaram a diretora de produção e cineasta Veronica Menezes, de 40 anos, a vender o carro. Ela dirigiu dos 18 aos 39 anos:
— Quem sente falta? Falta de quê?
Menos tempo entre a casa e o trabalho
Veronica foi se libertando do carro gradativamente. O processo começou em 2005, quando ela se mudou da Tijuca para o Leme.
— Vivia na Tijuca. Trabalhava e estudava na Zona Sul. Morava dentro do carro. Quando me mudei, passei a usar o carro só para trabalhos na Barra. Com o tempo, fui recusando serviços distantes, para ter mais qualidade de vida.
A bicicleta e, eventualmente, o táxi são os atuais meios de transporte de Veronica:
— É ótimo pedalar e ouvir musica. É ruim chegar suada no trabalho. Quando está muito quente, também é chato. Mas é melhor do que ficar engarrafada e procurando vaga.
Depois da venda do carro, Veronica passou a ter uma vida mais saudável:
— Durmo melhor, bebo menos, os amigos e os programas mudaram. Até parei de fumar.
Designer de interiores, Mônica Nobre voltou a morar no Rio há dez anos, após um período trabalhando em São Paulo. Nos anos seguintes a seu retorno, quando começou a namorar o atual marido e o via reclamando do trânsito da cidade, dizia:
— Você fala assim porque não conhece o trânsito de São Paulo.
Há três anos, Mônica se convenceu de que o tráfego do Rio estava prestes a se comparar ao de São Paulo. Foi, então, que decidiu vender o carro. Agora, anda a pé, de bicicleta ou de táxi.
— Não quero mais carro. É uma encrenca.
Mônica achou que se acostumaria:
— Senti um desapego. O trânsito vai ficar cada vez mais uma loucura. Estou superfeliz. Atendo a meus clientes sem carro e não tenho estresse.
Locutor da rádio Nativa FM, mesmo com estacionamento no local de trabalho, no bairro da Saúde, Paulo Henrique de Góes, o PH, há seis meses vendeu o carro e aderiu a um novo costume. Morador de Copacabana, pega o metrô até a estação Central. De lá, segue de ônibus.
Aos 47 anos, PH tinha carro desde os 21. O locutor concluiu que estava sustentando uma família. Tinha prestação de R$ 800, R$ 300 de garagem, gasolina, manutenção e IPVA. Ele fez as contas e viu que, de abril deste ano a fevereiro de 2013, vai economizar pelo menos R$ 10 mil.
— Um casal pode passar uma semana em Nova York se andar de metrô e ônibus por um ano no Rio — comenta o locutor.
O ganho de PH foi também de tempo:
— Por causa dos engarrafamentos, levava 40 minutos de casa até o trabalho. Hoje, gasto 25.
Ex-funcionária da Secretaria de Comércio Exterior, Ieda Fernandes se aposentou há dois anos e meio. Além de deixar de morar em Brasília de segunda a sexta-feira, Ieda se mudou da Tijuca para Copacabana.
— Gastava R$ 7 mil por ano com o carro que trouxe de Brasília. Em abril, decidi vendê-lo. Agora, ando a pé, de metrô ou de táxi. Do jeito que o transito está, não vale a pena ter carro — diz Ieda. — Só estava usando para lavar e emplacar. Quando vendi, meu carro tinha quatro anos e somente 8.500 quilômetros rodados.
Na Zona Sul, Ieda faz tudo a pé. Quando quer viajar, tem a opção de usar o automóvel do marido. Ela tem carteira de habilitação desde os 24 anos e adora dirigir. Mas garante que não está sentindo a menor falta do carro:
— Na Zona Sul, você quase não usa carro. Temos muita condução e estacionar é horrível.
Bonde das bicicletas para o trabalho
A funcionária pública Maysa Blay não vendeu o carro, mas usá-lo para ir trabalhar, no Centro, nunca esteve nos planos. Automóvel, só para sair à noite e nos fins de semana. Há dois anos, Maysa deu um passo adiante: trocou o ônibus pela bicicleta no trajeto de casa, em Laranjeiras, para o trabalho. Com isso, reduziu a duração do trajeto de 40 para 15 minutos.
— Economizo tempo. A cidade está saturada de carros. A bicicleta é mais saudável para as pessoas e a cidade.
Há três semanas, Maysa viu que era hora de criar o bond-bike, através de seu perfil no Facebook. Moradores da Zona Sul se encontram no Largo do Machado, às 7h45m, de segunda a sexta-feira, e formam o bonde das bicicletas. Seguem para o trabalho, no Centro, pedalando.
— Não passamos despercebidos pelos motoristas com que cruzamos pela rua, às vezes, parados em engarrafamentos — diz Maysa.
Fonte: O Globo
Morador da Barra, o neurologista Oscar Bacelar só vai de táxi para os consultórios na própria Barra, em Botafogo e na Tijuca. Ele aproveita bem o tempo de percurso: faz ligações, responde a e-mails e até olha resultados de exames.
— Quando chego ao consultório, posso me dedicar mais às demandas do dia — conta.
As vantagens vão além. Oscar constatou que, mesmo no quesito despesa, andar de táxi sai mais barato. A cada semana, ele gasta R$ 200 nos três dias em que vai aos consultórios.
— Manter um carro é caro. Têm seguro, estacionamento, multas. Automóvel também não é investimento. Com a depreciação, um carro de R$ 60 mil, em dois anos, vale R$ 30 mil. Perdem-se R$ 15 mil por ano, mais de R$ 1 mil por mês.
Ao longo deste ano, o médico escreveu seu último livro (“Uma gota é um pingo”) durante viagens de táxi. O livro de frases, de cem páginas, foi lançado há duas semanas.
— Escrevia no iPhone e mandava, por e-mail, para mim mesmo — conta.
Oscar tomou a decisão de vender um dos carros há dois anos. O outro fica para a família: para levar as crianças à escola, fazer compras e sair nos fins de semana.
Moradora do Leblon, a gestora cultural Flávia Faria Lima vendeu seu automóvel há um ano e meio. Também só viu vantagens:
— Se computarmos o que gastamos com manutenção, IPVA e guardadores, andar de táxi é mais prático e econômico.
Para viagens curtas, Flávia tem a solução:
— A gente aluga ou vai no carro de amigos.
Poucas vagas, custo de manutenção alto, engarrafamentos e estresse no trânsito. Esses foram os motivos que levaram a diretora de produção e cineasta Veronica Menezes, de 40 anos, a vender o carro. Ela dirigiu dos 18 aos 39 anos:
— Quem sente falta? Falta de quê?
Menos tempo entre a casa e o trabalho
Veronica foi se libertando do carro gradativamente. O processo começou em 2005, quando ela se mudou da Tijuca para o Leme.
— Vivia na Tijuca. Trabalhava e estudava na Zona Sul. Morava dentro do carro. Quando me mudei, passei a usar o carro só para trabalhos na Barra. Com o tempo, fui recusando serviços distantes, para ter mais qualidade de vida.
A bicicleta e, eventualmente, o táxi são os atuais meios de transporte de Veronica:
— É ótimo pedalar e ouvir musica. É ruim chegar suada no trabalho. Quando está muito quente, também é chato. Mas é melhor do que ficar engarrafada e procurando vaga.
Depois da venda do carro, Veronica passou a ter uma vida mais saudável:
— Durmo melhor, bebo menos, os amigos e os programas mudaram. Até parei de fumar.
Designer de interiores, Mônica Nobre voltou a morar no Rio há dez anos, após um período trabalhando em São Paulo. Nos anos seguintes a seu retorno, quando começou a namorar o atual marido e o via reclamando do trânsito da cidade, dizia:
— Você fala assim porque não conhece o trânsito de São Paulo.
Há três anos, Mônica se convenceu de que o tráfego do Rio estava prestes a se comparar ao de São Paulo. Foi, então, que decidiu vender o carro. Agora, anda a pé, de bicicleta ou de táxi.
— Não quero mais carro. É uma encrenca.
Mônica achou que se acostumaria:
— Senti um desapego. O trânsito vai ficar cada vez mais uma loucura. Estou superfeliz. Atendo a meus clientes sem carro e não tenho estresse.
Locutor da rádio Nativa FM, mesmo com estacionamento no local de trabalho, no bairro da Saúde, Paulo Henrique de Góes, o PH, há seis meses vendeu o carro e aderiu a um novo costume. Morador de Copacabana, pega o metrô até a estação Central. De lá, segue de ônibus.
Aos 47 anos, PH tinha carro desde os 21. O locutor concluiu que estava sustentando uma família. Tinha prestação de R$ 800, R$ 300 de garagem, gasolina, manutenção e IPVA. Ele fez as contas e viu que, de abril deste ano a fevereiro de 2013, vai economizar pelo menos R$ 10 mil.
— Um casal pode passar uma semana em Nova York se andar de metrô e ônibus por um ano no Rio — comenta o locutor.
O ganho de PH foi também de tempo:
— Por causa dos engarrafamentos, levava 40 minutos de casa até o trabalho. Hoje, gasto 25.
Ex-funcionária da Secretaria de Comércio Exterior, Ieda Fernandes se aposentou há dois anos e meio. Além de deixar de morar em Brasília de segunda a sexta-feira, Ieda se mudou da Tijuca para Copacabana.
— Gastava R$ 7 mil por ano com o carro que trouxe de Brasília. Em abril, decidi vendê-lo. Agora, ando a pé, de metrô ou de táxi. Do jeito que o transito está, não vale a pena ter carro — diz Ieda. — Só estava usando para lavar e emplacar. Quando vendi, meu carro tinha quatro anos e somente 8.500 quilômetros rodados.
Na Zona Sul, Ieda faz tudo a pé. Quando quer viajar, tem a opção de usar o automóvel do marido. Ela tem carteira de habilitação desde os 24 anos e adora dirigir. Mas garante que não está sentindo a menor falta do carro:
— Na Zona Sul, você quase não usa carro. Temos muita condução e estacionar é horrível.
Bonde das bicicletas para o trabalho
A funcionária pública Maysa Blay não vendeu o carro, mas usá-lo para ir trabalhar, no Centro, nunca esteve nos planos. Automóvel, só para sair à noite e nos fins de semana. Há dois anos, Maysa deu um passo adiante: trocou o ônibus pela bicicleta no trajeto de casa, em Laranjeiras, para o trabalho. Com isso, reduziu a duração do trajeto de 40 para 15 minutos.
— Economizo tempo. A cidade está saturada de carros. A bicicleta é mais saudável para as pessoas e a cidade.
Há três semanas, Maysa viu que era hora de criar o bond-bike, através de seu perfil no Facebook. Moradores da Zona Sul se encontram no Largo do Machado, às 7h45m, de segunda a sexta-feira, e formam o bonde das bicicletas. Seguem para o trabalho, no Centro, pedalando.
— Não passamos despercebidos pelos motoristas com que cruzamos pela rua, às vezes, parados em engarrafamentos — diz Maysa.
Fonte: O Globo
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