Medo. Uma lona preta foi estendida sobre o chão do condomínio Volta IV, em Volta Redonda, durante a realização de uma obra: moradores dizem que objetivo é evitar poeira tóxicaGustavo Stephan / O Globo
RIO - As placas indicam o perigo: “Área com recomendação de restrição de uso. Potencial risco à saúde”. Nelas, moradores do conjunto habitacional Volta Grande IV, em Volta Redonda, são orientados a não usar água de poço, cultivar vegetais nem fazer escavações. Espalhadas pelo bairro há um mês, elas reforçam a apreensão em relação à contaminação do solo por resíduos da produção de aço. A promotora Flávia Brandão, do Grupo de Atuação Especializada em Meio Ambiente (Gaema), do Ministério Público estadual, pediu a retirada das 750 famílias — cerca de 2.200 pessoas — que moram na área. Ela quer que a realocação seja custeada pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). A decisão está nas mãos do juiz da 3ª Vara Cível de Volta Redonda, Luiz Cláudio Gonçalves. De acordo com o MP, durante 13 anos a siderúrgica acumulou resíduos perigosos num terreno vizinho ao loteamento, transformando a região num barril de pólvora.
Um relatório feito pelo Grupo de Apoio Técnico Especializado em Meio Ambiente (Gate) em janeiro deste ano, depois de estudos apresentados pela CSN e de uma vistoria no local, concluiu que os moradores estão diretamente expostos aos contaminantes (chumbo, naftaleno, benzeno, tolueno, cromo, zinco, xilenos e POPs, os poluentes ogânicos persistentes), determinando a adoção de ações emergenciais. As “células”, depósitos que contêm os resíduos industriais no terreno vizinho ao condomínio, são consideradas fonte de contaminação para a água e o solo.
— Os compostos encontrados sob as casas e nas áreas comuns do condomínio estão acima dos limites máximos tolerados e possuem efeitos nocivos à saúde. O contato com estes poluentes pode provocar asma, dermatites alérgicas e até mesmo leucemia e outros tipos de câncer — alerta a promotora.
Na ação civil pública contra a CSN, por danos à saúde e patrimoniais, o MP pede ainda que seja elaborado um plano de realocação, com cadastramento das pessoas e mapeamento de áreas que podem receber os moradores “em localidade próxima”. A área onde o conjunto Volta Grande IV foi construído serviu como depósito de resíduos siderúrgicos entre 1986 e 1999. O descarte do material prosseguiu até depois que o terreno foi doado, em 1995, ao Sindicato dos Metalúrgicos, dois anos após a privatização da CSN. O empreendimento Volta Grande IV foi financiado pela Caixa Econômica Federal.
— É importante registrar que a CSN possui lastro para custear tal medida. Segundo seu balanço do ano de 2011, a empresa obteve receita líquida de R$ 16,5 bilhões — diz a promotora.
Aos 3 anos, o pequeno Kelvyn Luiz Aragão tem sinusite e bronquite. Morador do bloco 225, o mais próximo ao depósito de resíduos industriais, o menino não é único da sua casa com problemas respiratórios. O pai, Luiz Carlos do Amparo, de 48 anos, tem doença pulmonar, e a mãe, Luciana Cristina Teixeira Cunha, de 38, sofre de rinite alérgica. Apenas com a criança, a família gasta R$ 800 por mês. A vizinhança também reclama que os depósitos de escória (resíduos industriais) irradiam um pó preto que suja as casas.
— A escória chega até a gente pelo ar. Se tivesse um lugar para ir com minha família, eu me mudaria, mas essa casa é minha há dez anos. Investi todo o meu dinheiro aqui — desabafou Luiz Carlos.
Há algumas semanas, funcionários de uma empresa contratada pela CSN começaram a remover a areia de uma praça (no bloco 225). Até a última terça-feira, o local estava sendo pavimentado. Uma lona preta cobria a areia deixada na praça, e os operários usavam máscaras enquanto trabalhavam.
De acordo com o gerente jurídico da CSN em Volta Redonda, Fernando Carlos Cardoso, a companhia tem seguido as normas ambientais com o trabalho de monitoramento e a investigação da área desde 2000. Ele informou que, durante esse período, foram feitos estudos a respeito dos materiais encontrados no subsolo, que não apresentariam riscos à saúde dos moradores. De acordo com relatório da Nickol do Brasil, empresa responsável pelos últimos estudos no conjunto, não houve vazamento dos depósitos de resíduos para o terreno residencial. Ainda segundo Cardoso, o material contaminado tem como origem um provável uso da área como aterro de resíduos industriais antes da privatização. Para a CSN, não há necessidade de remover as famílias do Volta Grande IV.
— As células de resíduos industriais não geraram a contaminação na área residencial. Os resíduos encontrados estão a um metro de profundidade do subsolo e não oferecem riscos iminentes à população. A visão da empresa é comprometida e focada em garantir a segurança e o bem-estar dos moradores — assegurou o gerente jurídico.
As medidas já adotadas pela empresa têm sido a advertência aos moradores quanto aos riscos, além do isolamento do subsolo.
Um relatório feito pelo Grupo de Apoio Técnico Especializado em Meio Ambiente (Gate) em janeiro deste ano, depois de estudos apresentados pela CSN e de uma vistoria no local, concluiu que os moradores estão diretamente expostos aos contaminantes (chumbo, naftaleno, benzeno, tolueno, cromo, zinco, xilenos e POPs, os poluentes ogânicos persistentes), determinando a adoção de ações emergenciais. As “células”, depósitos que contêm os resíduos industriais no terreno vizinho ao condomínio, são consideradas fonte de contaminação para a água e o solo.
— Os compostos encontrados sob as casas e nas áreas comuns do condomínio estão acima dos limites máximos tolerados e possuem efeitos nocivos à saúde. O contato com estes poluentes pode provocar asma, dermatites alérgicas e até mesmo leucemia e outros tipos de câncer — alerta a promotora.
Na ação civil pública contra a CSN, por danos à saúde e patrimoniais, o MP pede ainda que seja elaborado um plano de realocação, com cadastramento das pessoas e mapeamento de áreas que podem receber os moradores “em localidade próxima”. A área onde o conjunto Volta Grande IV foi construído serviu como depósito de resíduos siderúrgicos entre 1986 e 1999. O descarte do material prosseguiu até depois que o terreno foi doado, em 1995, ao Sindicato dos Metalúrgicos, dois anos após a privatização da CSN. O empreendimento Volta Grande IV foi financiado pela Caixa Econômica Federal.
— É importante registrar que a CSN possui lastro para custear tal medida. Segundo seu balanço do ano de 2011, a empresa obteve receita líquida de R$ 16,5 bilhões — diz a promotora.
Aos 3 anos, o pequeno Kelvyn Luiz Aragão tem sinusite e bronquite. Morador do bloco 225, o mais próximo ao depósito de resíduos industriais, o menino não é único da sua casa com problemas respiratórios. O pai, Luiz Carlos do Amparo, de 48 anos, tem doença pulmonar, e a mãe, Luciana Cristina Teixeira Cunha, de 38, sofre de rinite alérgica. Apenas com a criança, a família gasta R$ 800 por mês. A vizinhança também reclama que os depósitos de escória (resíduos industriais) irradiam um pó preto que suja as casas.
— A escória chega até a gente pelo ar. Se tivesse um lugar para ir com minha família, eu me mudaria, mas essa casa é minha há dez anos. Investi todo o meu dinheiro aqui — desabafou Luiz Carlos.
Há algumas semanas, funcionários de uma empresa contratada pela CSN começaram a remover a areia de uma praça (no bloco 225). Até a última terça-feira, o local estava sendo pavimentado. Uma lona preta cobria a areia deixada na praça, e os operários usavam máscaras enquanto trabalhavam.
De acordo com o gerente jurídico da CSN em Volta Redonda, Fernando Carlos Cardoso, a companhia tem seguido as normas ambientais com o trabalho de monitoramento e a investigação da área desde 2000. Ele informou que, durante esse período, foram feitos estudos a respeito dos materiais encontrados no subsolo, que não apresentariam riscos à saúde dos moradores. De acordo com relatório da Nickol do Brasil, empresa responsável pelos últimos estudos no conjunto, não houve vazamento dos depósitos de resíduos para o terreno residencial. Ainda segundo Cardoso, o material contaminado tem como origem um provável uso da área como aterro de resíduos industriais antes da privatização. Para a CSN, não há necessidade de remover as famílias do Volta Grande IV.
— As células de resíduos industriais não geraram a contaminação na área residencial. Os resíduos encontrados estão a um metro de profundidade do subsolo e não oferecem riscos iminentes à população. A visão da empresa é comprometida e focada em garantir a segurança e o bem-estar dos moradores — assegurou o gerente jurídico.
As medidas já adotadas pela empresa têm sido a advertência aos moradores quanto aos riscos, além do isolamento do subsolo.
Fonte: O Globo
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