RIO – Em pleno auge do verão, com a sensação térmica beirando os 50º C, ligar o ar-condicionado ou o ventilador para suportar o calor do Rio de Janeiro não é simples questão de luxo. Pode ser até de sobrevivência, de acordo com o caso. De qualquer maneira, depende de um bem que anda mais em falta do que deveria, segundo a agência reguladora do setor: a energia elétrica. E os cariocas vêm sofrendo cada vez mais com os “apaguinhos” que se repetem pela cidade. Ainda não há números oficiais da estação iniciada em dezembro, mas o próprio diretor de Operações e Manutenção da Light, José Hilário Porter, admite o aumento nos cortes de luz. A Ampla, por sua vez, deve registrar redução de 12% na duração dos “apaguinhos”, mas o patamar continua elevado: em 2012 terão sido 16 horas e 53 minutos no escuro para os clientes da empresa. O diretor da Light atribui o problema ao aumento de consumo, mas especialistas dizem que as concessionárias não estão sabendo dimensionar o aumento de carga ocorrido no período em que todos estão querendo se defender das altas temperaturas.
Com essas temperaturas extremas que viemos sofrendo, em todas as regiões, inclusive as regiões com grande perda por furto de energia, é esperado que haja defeitos. Nosso plano de investimentos é voltado para dar resposta a essas ocorrências. Outro problema é o aumento de carga à revelia. Os clientes aumentam o consumo sem informar e dificultam a previsão – afirmou Porter ao GLOBO.
Com temperaturas superiores a 30º C na primavera, na Light, em setembro de 2012 o período médio das interrupções mais que dobrou: subiu para 1 hora e 45 minutos, contra apenas 48 minutos em igual mês do ano anterior, segundo dados apresentados pela companhia à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Em outubro, foi 1 hora e 45 minutos sem luz, enquanto no mesmo mês de 2011 os "apaguinhos" haviam somado 1 hora 27 minutos – ou seja, uma alta de 21%. Na área da Ampla, as altas vieram em setembro e novembro, de 16% (1 hora 13 minutos para 1 hora e 24 minutos) e 8% (1 hora e 26 minutos para 1 hora e 33 minutos), respectivamente.
— É um problema que não deveria ocorrer. Claro que não é algo determínistico, pode haver erros na previsão, mas a concessionária tem que estar preparada para um aumento natural nesta época — o professor Glauco Taranto, da Coppe.
Segundo ele, as empresas não devem simplesmente aceitar as possíveis falhas nas projeções. Na avaliação de Taranto, as empresas precisam tomar mais a iniciativa para tentar solucionar as interrupções, ainda que de forma provisória, o mais rápido possível.
— Se as falhas ocorrem, a empresa tem que buscar outras maneiras de evitar que a falta de luz se prolongue indefinidamente enquanto se aguarda um reparo. Uma delas é, quando possível, reconfigurar a rede, que é o equivalente a fazer a energia usar um desvio de tráfego para passar por uma rua interditada. Outra possibilidade é baixar a tensão, dentro dos limites da lei, para não danificar equipamentos. E, por fim, existe a medida de longo prazo, que é a conscientização do consumidor para evitar de elevar muito os gastos de energia de forma súbita.
De janeiro a setembro, na área da Light (que abrange 31 municípios, incluindo a capital), ainda de acordo com os dados da Aneel, foram 13h15min de falta de energia, sendo que o limite estabelecido pela própria agência era de 9 horas e 22 minutos. Na área da Ampla (66 municípios, incluindo Niterói e Região dos Lagos), de janeiro a outubro, também de acordo com os dados mais recentes, foram 13 horas e 21 minutos, contra um teto de 13 hora e 34 minutos.
Mais escuridão que no racionamento
Os moradores do estado do Rio passaram mais tempo às escuras nos últimos quatro anos que na época do temido racionamento de energia, dez anos antes. Os números de 2012 não estão fechados, mas dados parciais apresentados pelas empresas à Aneel indicam que a situação se repetirá. Os índices anuais de Duração equivalente de interrupção por unidade consumidora (DEC) das concessionárias Light e Ampla ficaram acima dos limites impostos pela Aneel em 2009, 2010 e 2011.
A média da duração das interrupções na área da Light cresceu 136% de 2001 para 2011 - de 7 horas e 3 minutos para 16 horas e 45 minutos. Na área da Ampla, o avanço foi de apenas 7%, na mesma base de comparação – de 17 hora e 58 minutos para 19 horas e 15 minutos.
Já a média do número de ocorrências, medida pelo índice de Freqüência equivalente de interrupção por unidade consumidora (FEC), subiu na área da Light e diminuiu nos locais atendidos pela Ampla, mas os limites de frequência de interrupções nunca foram ultrapassados pelas duas empresas. O FEC da Light está 27% maior que o de 2001 – 8 vezes por mês, contra 6 vezes por mês –, e o da Ampla, 52% menor – 10 vezes por mês, contra 20 vezes por mês.
Concessionárias culpam 'gatos'
Porter, da Light, argumenta que 76% dos problemas com os transformadores (desarmes e queimas do equipamento), as principais causas dos “apaguinhos”, ocorrem nas áreas com índices de furto de energia acima de 25%. A principal apontada pela empresa é a favela de Rio das Pedras, onde as perdas chegam a 72% – das 20 mil residências, 16 mil são cadastradas pela empresa; ainda na Zona Oeste, em Bangu e Campo Grande, os furtos somam 42%, segundo dados da concessionária. Situação semelhante às da Penha e do Complexo da Maré, onde os “gatos” levam 40% da energia. Além destas, também são preocupantes, segundo a empresa, as cidades de Duque de Caxias e Belford Roxo, na Baixada Fluminense, com 47% de perdas provocadas por ligações clandestinas.
Segundo o diretor de Operações e Manutenção da Light, a empresa criou cinco bases de operações 24 horas, com um total de 1,4 mil funcionários, somando atendentes, plantonistas e pessoal de sobreaviso, que pode ser convocado a qualquer momento para auxiliar em um chamado. As unidades estão instaladas em Nova Iguaçu, Volta Redonda, Jacarepaguá, Frei Caneca (abrangendo Zona Sul e Centro) e Penha (Zona Norte e Zona Oeste).
A empresa informou que os clientes podem solicitar aumento de carga por meio da Agência Virtual (www.light.com.br), do Disque-Light Comercial (0800 282 0120) ou em suas agências comerciais. Para isso, no entanto, as informações fornecidas precisarão ser verificadas pelos técnicos da empresa, o que é cobrado do cliente. A concessionária dá mais detalhes no site da sua agência virtual;
Já a diretora interina de Relações Institucionais da Ampla, Janaina Vilella, menciona redução de 30% nos indices DEC e FEC, mas na comparação com 2010 - ano em que os clientes da empresa ficaram sem luz, em média, dia sim, dia não (13 vezes por mês), por um período equivalente a quase um dia inteiro. Nos últimos dez anos, a Ampla conseguiu se estabilizar abaixo dos limites da Aneel apenas entre 2006 e 2008. Segundo a diretora interina, a empresa estima fechar 2012 com a duração das interrupções em 16 horas e 53 minutos, número 12% menor que o de 2011. De 2008 a 2012, a concessionária investiu, afirmou a diretora, R$ 1,8 bilhão em manutenção e modernização da rede.
Janaina destaca que a Ampla tem enfrentado dificuldades com o clima. Ela explica que dados coletados em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, apontam que o número de raios cresceu dez vezes de 2011 para 2012, passando de 3,5 mil descargas elétricas para 34 mil em dezembro passado.
— Os fenômenos estão aumentando, mas mesmo assim estamos conseguindo reduzir os índices — afirmou ela. — Entre as distribuidoras do Brasil, a Ampla foi a segunda empresa que mais reduziu a frequência das ocorrências. Mas casos pontuais podem ocorrer.
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Fonte: O Globo
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