sábado, 5 de janeiro de 2013

Ano novo e os antigos problemas da saúde

O ano novo chegou, e após as festas da virada está na hora de organizar a casa e iniciar o calendário útil do país. No último dia primeiro, mais de 5 mil prefeitos tomaram posse em todo o Brasil, por terem sido eleitos democraticamente nas últimas eleições municipais, e um número ainda maior de vereadores também foi empossado no mesmo período.
E os problemas já começaram a aparecer para os novos governos, embora sejam todos já conhecidos. No dia de Natal uma menina baleada teve de esperar oito horas para ser avaliada, pois faltava plantonista na emergência — uma semana depois teve morte cerebral confirmada; no segundo dia do ano soubemos da dívida de um dos maiores hospitais da Baixada Fluminense (200 milhões é o rombo no Hospital da Posse, em Nova Iguaçu, um dos maiores da região — resultado: atraso nos investimentos e na folha de pagamento); e no fim do ano passado vimos a morte de dois idosos por má conduta na internação: um paciente em São Paulo, de 91 anos, falece por ter recebido alimento na veia, fato repetido no Rio, quando uma senhora octogenária também foi “alimentada” com café com leite por via venosa.
Só nesse pequeno resumo dá para ver que os novos governantes não terão facilidades para administrar a saúde em nosso país. Diante de uma situação como essa, o jingle de Réveillon ...saúde pra dar e vender está ficando fora de moda em nosso país, e os problemas, todos antigos e já conhecidos, se repetem a cada ano.
Onde está o erro? De quem é a culpa? É o que se perguntam os cidadãos, contribuintes da nação, diante de notícias e imagens estarrecedoras, que vemos no noticiário quando o assunto é a saúde pública no país. O SUS, nos seus princípios ideológicos e históricos, é muito importante e bem redigido, mas na prática as resoluções do sistema de saúde e da Constituição nacional não são assim tão cumpridas ao pé da letra, como deveria ser.
A saúde deveria ser um direito de todos e um dever do Estado, como manda a Constituição de 1988, mas não é isso que estamos vendo. A cada ano que passa faltam leitos hospitalares, faltam medicamentos de uso contínuo e que deveriam ser distribuídos para a população, faltam vagas para consultas com especialistas, faltam especialistas nos hospitais gerais, faltam materiais básicos para internação e cirurgias, sem falar na vergonha que se tornou a marcação dos exames complementares, obrigando o paciente (que deve ser muito paciente) a peregrinar por setores burocráticos e técnicos para conseguir realizar um exame diagnóstico, às vezes muitos meses depois da solicitação médica.
Mas falta muito mais coisa na formação de nosso sistema básico de saúde, sobretudo gerência, bom-senso, compromisso e atuação de muitos dos gestores da saúde pública. E sobra comodismo, conformismo e falta de preocupação com a causa do paciente, real sofredor e vítima desse sistema inflado de erros e burocracia que foram acumulados ao longo de décadas.
A saúde não pode ser uma bandeira política dos gestores, dos partidos e associações políticas em nosso país, não pode ser uma moeda de barganha no jogo de interesses públicos e privados, nem tampouco um rodapé nas emendas constituintes do Congresso Nacional. A saúde é necessidade, é aspecto básico, é critério para desenvolvimento e qualidade de vida em uma nação, por isso é prioridade. Prioridade para crescimento, para formação de uma sociedade estável e igualitária e para longevidade de uma população. O desenvolvimento de um país não é só medido pelos números da economia, pelo crescimento do PIB e pelo controle da inflação. É necessário haver um equilíbrio entre vários setores da sociedade, e o conceito de saúde para todos se torna essencial para isso.
O desafio dos nossos novos governantes é organizar a casa, arregaçar as mangas e trabalhar. Exigir coerência, atuação e esforço dos profissionais da área, e remunerá-los para isso. Facilitar o acesso da população aos serviços de saúde de forma organizada e justa; promover a saúde básica, com a dispersão do Programa de Saúde da Família por exemplo, que, se bem organizado, funciona muito bem. Investir no acesso aos medicamentos para as doenças crônicas, nas políticas de educação para a saúde e na otimização dos leitos hospitalares, da emergência ao centro de terapia intensiva. Isso é o mínimo que esperamos para o ano que se inicia e para as novas gestões públicas: resolução dos problemas antigos e disposição para equilibrar a saúde em nosso país.

Fonte: Jornal do BrasilVanderson Carvalho Neri*

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